sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Via Sacra – I

A Via Sacra, ou Via Crucis (caminho da cruz, em latim), é uma das principais cerimónias da Semana Santa, relembrando o caminho percorrido por Jesus, desde a casa de Pilatos, após a sua condenação à morte, até ao monte Gólgota, onde foi crucificado, acompanhando assim o Seu sofrimento e meditando na sua Paixão.
Esta devoção, que se deve provavelmente aos primeiros fiéis que então percorriam a Terra Santa para orarem nos lugares sagrados da Paixão de Cristo, tornou-se, a partir do sec. IV, numa romagem que qualquer peregrino deveria cumprir.
Há, no entanto, uma lenda que diz que a Virgem Maria, depois da morte de Jesus, percorria várias vezes este caminho, a que se deu o nome de Via Dolorosa, começando depois a juntarem-se pessoas que a acompanhavam nesta piedosa jornada.
Foi para garantir a segurança dos peregrinos e dos cristãos do Oriente, após a tomada de Jerusalém pelos turcos seljúcidas, que a 27 de Janeiro de 1095, durante o concílio de Clermont, o Papa Urbano II exortou os reis cristãos a libertar a Terra Santa e retomar Jerusalém, dando-se assim início às diversas expedições militares que ficaram conhecidas como as Cruzadas, e que durante cerca de duzentos anos mantiveram um certo controlo sobre a Palestina.
Com a queda de S. João de Acre em 1291, todo o território ficou novamente nas mãos dos muçulmanos, e como as peregrinações se tornaram demasiado perigosas, para já não falar da distância a percorrer, a devoção da Via Sacra foi retomada no Ocidente, depressa se estendendo a todas as comunidades cristãs espalhadas pelo mundo.
A Via Sacra tornou-se então um exercício de meditação sobre os últimos dias de Jesus na terra, sendo os momentos principais representados por uma série de imagens chamadas de “Estações”. O seu número era variável, até que no sec. XVIII, o Papa Bento XVI as fixou em 14.
São elas:

1. Jesus é condenado à morte.
2. Jesus carrega com a cruz.
3. Jesus cai pela primeira vez.
4. Jesus encontra sua Mãe.
5. Simão de Cirene ajuda Jesus a carregar a cruz.
6. A Verónica limpa o rosto de Jesus.
7. Jesus cai pela segunda vez.
8. As mulheres de Jerusalém choram por Jesus.
9. Jesus cai pela terceira vez.
10. Jesus é despojado de suas vestes.
11. Jesus é pregado na cruz.
12. Jesus morre na cruz.
13. O corpo de Jesus é retirado da cruz.
14. O corpo de Jesus é colocado no sepulcro.
Por vezes, acrescenta-se uma 15ª, relembrando a Ressurreição de Cristo.
Algumas destas representações têm origem em lendas, como as quedas de Jesus, e dos Seus encontros com a Verónica ou com a Sua Mãe, pelo que o Papa João Paulo II as mudou para outros quadros narrados nos Evangelhos, não estando essa medida ainda em vigor.
Embora possa ser rezada durante todo o ano, é durante a Quaresma que atinge o seu máximo espiritual, principalmente na Sexta-Feira Santa, em que em Roma é o próprio Papa a dirigi-la.
É geralmente rezada dentro das Igrejas, mas também pode ser feita no exterior, em procissão, desde que tenha uma cruz à frente. É o caso, por exemplo, da Procissão do Senhor dos Passos, também chamada “Do Encontro” (devido ao encontro entre Jesus e Sua Mãe, representada pela imagem de Nossa Senhora das Dores), em que durante o percurso se rezam as diversas estações, aqui denominadas de “Passos”.
Dada a necessidade de se representarem as imagens, esta devoção deu origem a uma rica iconografia religiosa, desde o seu início até aos dias de hoje. Alguns desses trabalhos são autênticas obras de arte, quem não conhece a célebre Pietá, de Miguel Ângelo?
De hoje até domingo darei aqui alguns exemplos dessa iconografia, espalhados pelo mundo.
Jesus é condenado à morte – Estação da via Sacra em gesso patinado da Catedral de Petrópolis.
Jesus carregando a cruz - Barna da Siena de 1330-50
Jesus cai a caminho do Calvário – Rafael Sanzio, 1517

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