sexta-feira, 28 de junho de 2013

A Heroína de Beauvais

Estátua de bronze de Jeanne Hachette, em Beauvais, da autoria de Gabriel-Vital Dubray

 Nascida na bonita cidade de Beauvais a 14 de Novembro de 1456 Jeanne Laisné, também conhecida como Jeanne Fourquet, apelido de seu pai, era uma jovem de 16 anos quando na Primavera de 1472, o duque da Borgonha, Carlos o Temerário, veio cercar a sua cidade natal.
O duque, na sua constante luta contra o rei de França, Luís XI pelo controle do reino, já se tinha apoderado de várias pequenas cidades, entre as quais Nesle, cuja população depois de se ter rendido, foi massacrada sem piedade pelos homens de Carlos, apesar de se terem refugiado na igreja local.
A 27 de Junho de 1472, o duque à frente do seu exército chegou junto das muralhas de Beauvais, cuja pequena guarnição de apenas 300 homens de armas comandados por Louis de Baligny era manifestamente insuficiente para fazer face aos seus homens. As zonas periféricas foram rápida e facilmente ocupadas, mas a população sabendo o que lhe estava reservado caso se rendesse, defendeu ferozmente o centro da cidade até à chegada dos reforços que tinham sido pedidos.
No mais encarniçado da luta, as mulheres com Jeanne à frente, atiravam pedras e azeite a ferver sobre os adversários que pretendiam escalar as muralhas. Um deles, mais afoito, preparava-se para hastear aí a bandeira borgonhesa quando Jeanne ao vê-lo se atirou a ele munida de uma machada (hachette), derrubando-o com um golpe certeiro e apoderando-se do estandarte.
Vendo que não conseguia tomar a cidade, Carlos levantou o cerco retirando-se.
Em agradecimento a estas bravas mulheres o rei Luís XI instituiu a “Procissão do Assalto”, no dia de Santa Agadrème, padroeira da cidade, concedendo-lhes o direito de aí precederem os homens, e casou Joana com o seu namorado Colin Pilon, cumulando-os de favores.
Considerada uma heroína pela população, Jeanne ficaria conhecida através dos séculos pela alcunha de Jeanne Hachette, e a sua estátua de bronze ainda se ergue na velha praça do mercado.

Fontes:
Oliveira, Américo Lopes de – Dicionário de Mulheres Célebres
Marsh, W.B. e Bruce Carrick – 365 Grandes Histórias






terça-feira, 18 de junho de 2013

A Fogueira de Ruão – II



 

Símbolo da resistência francesa à ocupação inglesa durante a Guerra dos Cem Anos, Joana, a antiga pastora de Domrémy que se tinha autoproclamado “a enviada de Deus”, conseguiu o impensável: Derrotar o poderoso exército inglês de Henrique VI, rei de França e de Inglaterra, e fazer coroar em Reims o delfim Carlos, conde de Ponthieu, filho de Carlos VI de França, o pobre rei louco, e de Isabel da Baviera, que não hesitou em afastá-lo (há quem o considere bastardo dado os vários amantes atribuídos à rainha), para conjuntamente com a mão da sua bela filha Catarina, oferecer o trono de França ao então rei de Inglaterra, Henrique V, o vencedor de Azincourt, nomeando-o como regente e herdeiro do infeliz rei francês, conforme o acordado no Tratado de Troyes.
Tanto Carlos VI como Henrique V já tinham falecido, e os seus descendentes, o hesitante delfim apoiado pela sua enérgica sogra, Yolanda de Aragão, e o seu sobrinho Henrique VI, de apenas 10 anos de idade, tendo como regente seu tio, o Duque de Beaufort, estavam em guerra desde então.
Nesta época, Carlos tinha a sua corte na cidade de Burges, no coração da França, sendo reconhecido como rei nas poucas províncias do centro do país que permaneceram fieis aos Armanhaques, de quem o delfim era o chefe, sendo por isso chamado de “rei de Burges”.
No Outono de 1428 os Ingleses cercaram a cidade de Orleães, que constituía a via de acesso ao sul da França.
Quando tudo parecia perdido para o Delfim, eis que Joana se apresenta em seu socorro, apresentando-se como enviada por Deus para o fazer sagrar em Reims. Dirige-se depois a Orleães à frente do exército real, chefiando comandantes como o duque de Alençon, Dunois, o Bastardo de Orleães, o almirante Louis de Culan ou Gilles de Rais, futuro marechal de França obrigando os ingleses a levantar o apertado cerco à cidade. O caminho para Saint-Rémy fica então livre, e em Julho, ao entrar na cidade ao lado do soberano, envergando uma armadura brilhante e de viseira levantada, no meio dos gritos de alegria dos seus soldados, Joana viveu o momento mais emocionante da sua curta vida.
A 17 de Julho de 1429, o arcebispo de Reims depois de o ter ungido com os santos óleos, colocou a coroa na cabeça de Carlos VII, sagrando-o como legítimo rei de França.
Os ingleses cometeram um erro grave ao não terem feito o mesmo ao jovem rei Henrique, e quando o fizeram em 1431 na Catedral de Notre-Dame, em Paris, era tarde demais. A França já tinha o seu rei legítimo
Em reconhecimento por este feito, Carlos VII eleva Joana e a sua família à nobreza em Dezembro desse mesmo ano, mas a partir daí a sua simpatia por ela começa a esfriar.
Agora que já tem uma base segura de onde pode prosseguir as suas operações, Carlos VII quer ser ele mesmo a comandar as suas actuações e não tem qualquer intuito de andar às ordens de uma mulher... Por outro lado, a popularidade e simpatia de que a Donzela goza junto do povo e do seu próprio exército não agradam ao seu caracter taciturno e desconfiado, e muito menos ao círculo dos seus conselheiros que lutam pelas suas próprias conveniências pessoais!
À impaciência de Joana para conquistar Paris, o rei opõe a apatia habitual e à sua revelia inicia uma série de conversações com o duque da Borgonha, Filipe o Bom, aliado dos Ingleses, para a obtenção da paz.
Pode, por isso, imaginar-se a alegria dos ingleses quando a 24 de Maio de 1430, numa surtida após ter conquistado Compiègne, a Donzela de Orleães foi capturada pelos borguinhões, partidários do rei inglês. Vendida por estes aos seus aliados, Joana teve de suportar um processo atroz e iníquo que durou meses, acabando os seus dias na fogueira, em Ruão, a capital inglesa do reino de França.
Carlos VII continua a reconquista e em 1450 ao retomar Ruão, o rei faz a sua entrada com um fausto extraordinário na cidade onde vinte anos antes tinha perecido aquela que havia jurado restituir-lhe a coroa e a quem ele tinha pago com o mais completo abandono!
No dia seguinte, a 15 de Fevereiro, o soberano evoca oficialmente, pela primeira vez, o caso de Joana d’Arc, mandando proceder à abertura de um inquérito para revisão do seu processo. Mas só a 11 de Junho de 1455, o Papa Calisto III, que sucedera a Nicolau V, ordenou essa revisão, que culminará na sua absolvição em 1456, sendo as actas do julgamento de 1431 solenemente destruídas. O seu antecessor sempre se tinha recusado a fazê-lo, apesar dos insistentes pedidos do rei francês.
Em 1869, o bispo de Orleães juntamente com os restantes bispos franceses pedem ao Papa Pio IX a beatificação da Donzela, o que só acontece a 18 de Abril de 1909, durante o papado de Pio X. A 9 de Maio de 1920, cerca de 500 anos depois da sua morte, Joana d'Arc é finalmente canonizada pelo Papa Bento XV, e em 1922 é declarada a Padroeira de França. 

Fontes: Pernoud, Régine e Marie-Veronique Clin – Joana D’Arc
Imagens: Wikipédia

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

Anjo Custódio de Portugal, 1518-1520, escultura em calcário, medindo 190x64x46, atribuída a Diogo Pires, o Moço e que faz parte do acervo do Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra.
 O Anjo Custódio de Portugal

O dia 10 de Junho é, para além do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, é também o dia dedicado ao Anjo Custódio de Portugal.
Em 1504, e a pedido do rei D. Manuel I que tinha uma devoção muito especial pelo Arcanjo S. Miguel, o Papa Leão X instituiu a festa do “Anjo Custódio do Reino” cujo culto já seria antigo, e que passou a ser celebrada com grande pompa no 3º domingo de Julho. O monarca informou do facto as camaras municipais do país, sendo esta festa equiparada à da comemoração do Corpo de Deus, a maior celebração religiosa na época.
Durante os sec. XVI, XVII e XVIII manteve-se em todo o seu esplendor, mas a partir do sec. XIX o seu culto decaiu, excepto em Évora, Coimbra e principalmente em Braga.
Em 1916, durante as aparições de Fátima, os pastorinhos declararam que tinham visto várias vezes um Anjo, que afirmou ser o Anjo de Portugal e os preparou para a vinda da Senhora, sendo o seu culto restaurado.
Em 1952, o Papa Pio XII transferiu a celebração da festa para o dia 10 de Junho, a fim de que o “Dia de Portugal” fosse também o ”Dia do Anjo de Portugal”.
O Anjo de Portugal é, até hoje, o único Anjo da Guarda de um país com culto público oficializado e também o único que apareceu aos homens.
Há várias representações deste Anjo, nomeadamente as imagens do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e da charola do convento de Cristo de Tomar, a pintura da Misericórdia de Évora e a iluminura do «Livro de Horas de Dom Manuel».

Um dos símbolos portugueses: O Hino Nacional

A Portuguesa, que hoje é um dos símbolos nacionais de Portugal (o seu hino nacional), nasceu como uma canção de cariz patriótico em resposta ao ultimato britânico para que as tropas portuguesas abandonassem as suas posições em África, no denominado "Mapa cor-de-rosa”.
Em Portugal, a reacção popular contra os ingleses e contra o governo português, manifestou-se de várias formas. "A Portuguesa" foi composta em 1890, com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, sendo utilizada desde cedo como símbolo patriótico mas também republicano. Aliás, em 31 de Janeiro de 1891, numa tentativa falhada de golpe de Estado que pretendia implantar a república em Portugal, esta canção já aparecia como a opção dos republicanos para hino nacional, o que aconteceu efectivamente, quando, após a instauração da República a 5 de Outubro de 1910, a Assembleia Nacional Constituinte a consagrou como símbolo nacional em 19 de Junho de 1911.
 A Portuguesa, proibida pelo regime monárquico, que originalmente tinha uma letra um tanto ou quanto diferente (mesmo a música foi sofrendo algumas alterações) — onde hoje se diz "contra os canhões", dizia-se "contra os bretões", ou seja, os ingleses — veio substituir o Hymno da Carta, então o hino nacional desde Maio de 1834.
Em 1956, existiam no entanto várias versões do hino, não só na linha melódica, mas também nas instrumentações, especialmente para banda, pelo que o governo nomeou uma comissão encarregada de estudar uma versão oficial de A Portuguesa. Essa comissão elaborou uma proposta que seria aprovada em Conselho de Ministros a 16 de Julho de 1957, mantendo-se o hino inalterado deste então.
A Portuguesa foi designada como um dos símbolos nacionais de Portugal na Constituição de 1976, constando no artigo 11.°, n.º 2, da Constituição da República Portuguesa (Símbolos nacionais e língua oficial).

Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os (bretões) canhões
Marchar, marchar!

II
Desfralda a invicta bandeira
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O oceano, a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu novos mundos ao Mundo!

Às armas, às armas!
Sobre…..

III
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!
Sobre …

O Hino da Carta (Hymno da Carta na grafia antiga) foi o hino nacional de Portugal entre Maio de 1834 e Outubro de 1910.
O Hino foi escrito pelo Rei D. Pedro IV, em homenagem à Carta Constitucional que o próprio outorgou aos Portugueses em 1826. O hino generalizou-se com a denominação oficial de Hymno da Carta, tendo sido considerado oficialmente como Hymno Nacional e por isso obrigatório em todas as solenidades públicas, a partir de Maio de 1834.
 Com a música do Hymno da Carta compuseram-se variadas obras de natureza popular (modas) ou dedicadas a acontecimentos e personalidades de relevo, identificando-se em pleno com a vida política e social dos últimos setenta anos da Monarquia em Portugal.
Depois da implantação da república, em 5 de Outubro de 1910, o Hino da Carta foi substituído pel'A Portuguesa, como hino nacional português.
Letra do "Hino da Carta Constitucional" :

Ó Pátria, Ó Rei, Ó Povo,
Ama a tua Religião
Observa e guarda sempre
Divinal Constituição

Viva, viva, viva ó Rei
Viva a Santa Religião
Vivam Lusos valorosos
A feliz Constituição
A feliz Constituição

Ó com quanto desafogo
Na comum agitação
Dá vigor às almas todas
Divinal Constituição

Viva, viva, viva ó Rei
Viva ….

Venturosos nós seremos
Em perfeita união
Tendo sempre em vista todos
Divinal Constituição

Viva, viva, viva ó Rei
Viva ….


A verdade não se ofusca
O Rei não se engana, não,
Proclamemos Portugueses
Divinal Constituição

Viva, viva, viva ó Rei
Viva …

O Hino Patriótico, ou na sua grafia original Hymno Patriótico (forma completa Hymno Patriótico da Nação Portugueza), pode ser considerado o primeiro hino oficial de Portugal. Composto em 1808 por Marcos Portugal e dedicado ao Príncipe Regente D. João VI foi inspirado no final da Cantata La Speranza o sia l`Augurio Felice do mesmo autor. A data da sua oficialização enquanto hino nacional é incerta, sendo apontado o primeiro quartel do século XIX. Foi posteriormente substituido na sua função pelo Hino da Carta composto pelo Rei D. Pedro IV.
A letra sofreu várias mutações, sendo originalmente destinada ao Príncipe Regente começava com a frase "Oh Príncipe Excelso...". A primeira estrofe do hino já após a subida de D. João VI ao trono é a seguinte:

Eis, oh Rei Excelso
Os votos sagrados
Q'os Lusos honrados
Vêm livres, vêm livres fazer
Vêm livres fazer
Por vós, pela Pátria
O sangue daremos
Por glória só temos
Vencer ou morrer
Vencer ou morrer
Ou morrer
Ou morrer

HINO DA MARIA DA FONTE
Durante a Revolução da Maria da Fonte, o maestro Angelo Frondoni compôs um hino popular que ficou conhecido pelo nome de Hino da Maria da Fonte ou Hino do Minho, obra que respira entusiasmo belicoso e que por muito tempo foi o canto de guerra do Partido Progressista.
Ainda hoje, o Hino da Maria da Fonte continua a ser a música com que se saúdam os ministros portugueses, sendo utilizado em cerimónias cívicas e militares.

Viva a Maria da Fonte
A cavalo e sem cair
Com as pistolas à cinta
A tocar a reunir
Eia avante Portugueses
Eia avante e não temer
Pela santa Liberdade
Triunfar ou perecer
Lá raiou a liberdade
Que a nação há-de aditar
Glória ao Minho que primeiro
O seu grito fez soar
Eia avante Portugueses
Eia avante …

Essa mulher lá do Minho
Que da foice fez espada
Há-de ter na lusa história
Uma página dourada!

Eia avante Portugueses
Eia avante …

Luís Vaz de Camões (1524? – Lisboa, 10 de Junho de 1580)

  

O retrato de Camões por Fernão Gomes, em cópia de Luís de Resende. Este é considerado o mais autêntico retrato do poeta, cujo original, que se perdeu, foi pintado ainda em sua vida


Também ele um símbolo nacional, a sua obra principal “Os Lusíadas), é considerada a epopeia portuguesa por excelência. O próprio título já sugere as suas intenções nacionalistas, sendo derivado da antiga denominação romana de Portugal, Lusitânia. É um dos mais importantes épicos da época moderna devido à sua grandeza e universalidade. A epopeia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis portugueses que navegaram em torno do Cabo da Boa Esperança e abriram uma nova rota para a Índia. É uma epopeia humanista, mesmo nas suas contradições, na associação da mitologia pagã à visão cristã, nos sentimentos opostos sobre a guerra e o império, no gosto do repouso e no desejo de aventura, na apreciação do prazer sensual e nas exigências de uma vida ética, na percepção da grandeza e no pressentimento do declínio, no heroísmo pago com o sofrimento e luta.
Amargurado pela derrota portuguesa na batalha de Alcácer-Quibir e subsequente desaparecimento do rei D. Sebastião levando à perda da independência da sua “ditosa pátria tão amada”, o poeta adoeceu morrendo no hospital no dia 10 de Junho de 1580. Diz-se que as suas últimas palavras foram: “Ao menos morro com a Pátria”.
Desde 1933 que o dia da sua morte está associado ao Dia de Portugal, sendo comemorado como Dia de Camões, de Portugal e da Raça até 1977, data em que passou a ser designado como Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Lusíadas, Canto I (primeiras estrofes)

As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Fontes: Wikipedia