Por mais corajosa que Boudicca fosse, e por muito numeroso que fosse o seu exército (segundo algumas fontes seriam entre 200 a 230.000 homens, mas admite-se que este número esteja sobrevalorizado a fim de glorificar ainda mais a vitória do governador), nem ela nem nenhum dos seus chefes teria a experiência militar necessária para defrontar em campo aberto um general experiente como Suetónio Paulino.
Depois de uma oração a Andraste, pedindo o auxílio da deusa para o seu povo e um último discurso aos seus homens conforme nos conta Dion Cássio:
…Fui açoitada pelos Romanos quando nos tentaram tirar as nossas terras - mas agora estou a lutar pela minha liberdade. Pensem quantos de nós estão a combater e porquê. Teremos de vencer esta batalha ou morrer. Que os homens vivam como escravos se assim o quiserem. Eu, não…
Boudicca, confiada na sua superioridade numérica atacou!
A sua descrição, feita também por Díon Cássio, revela o terror que ela inspirava aos Romanos:
“Tinha um tamanho gigantesco, um aspecto aterrorizador, uma voz rude. Uma grande massa de brilhantes cabelos vermelhos tombava-lhe até aos joelhos; usava um enorme colar de ouro entrelaçado e uma túnica com inúmeras cores, sobre a qual usava um espesso manto, preso por um alfinete de peito. Acariciava uma longa lança para inspirar medo a quem a olhava”.
De pé, em cima de um carro de guerra, liderou o seu exército na batalha final. Ao som das trombetas de guerra, cerca de 200.000 homens em carros de guerra ou a pé, armados de lanças e das suas espadas de ferro de fio duplo, provavelmente nus e com o corpo pintado com desenhos feitos de tinta vegetal azul que segundo a sua religião os protegia, usando ao pescoço os torques de que nunca se separavam, lançaram-se ao ataque com grande algazarra, colina acima, enfrentando os romanos com o seu tradicional desprezo pela morte.
Mas Andraste não atendeu o pedido de Boudicca e por uma ironia do destino, o seu exército sofreu uma derrota estrondosa onde cerca de 80.000 celtas pereceram, quase o mesmo número das suas vítimas!
Quando os Romanos depois de dispararem duas salvas de dardos certeiros carregaram com os gládios desembainhados, protegidos pelos seus escudos, as duas primeiras vagas de assalto dos Bretões foram dizimadas. A retirada era a única saída possível, mas os Icenos estavam tão convencidos da sua vitória, que tinham trazido as famílias consigo em autênticas caravanas estacionadas na sua retaguarda…
A batalha transformou-se numa autêntica confusão, em que os Romanos massacraram indiscriminadamente homens, mulheres e crianças. Os sobreviventes foram escravizados e a Icénia passou a ser mais um protectorado romano.
Do lado dos Romanos houve apenas 400 baixas, mas esta foi uma das revoltas mais difíceis que tiveram de controlar, a tal ponto que Nero pensou em retirar as suas legiões da Britânia. Apesar de Suetónio Paulino advogar uma série de medidas drásticas para acabar com os rebeldes, o Imperador Nero não acatou as suas sugestões e mandou-o regressar a Roma assim como ao procurador e alguns dos seus conselheiros, substituindo-os por homens menos duros e mais justos.
Quanto a Boudicca não se sabe ao certo o seu destino. Cássio atribuiu-lhe a morte a causas naturais, mas Tácito, que também relatou este evento, diz que a rainha voltou para casa onde, juntamente com as filhas, se suicidou com veneno, evitando assim ter de figurar no desfile dos vencedores, e sofrer depois uma morte ignominiosa, o que está mais de acordo com o seu carácter.
A Bretanha manteve-se romana até meados do sec. V, quando as guarnições romanas foram chamadas para defenderem a própria Roma, deixando a ilha à mercê das invasões dos Anglos, dos Saxões e dos Jutos.
Os Icenos estão registados como "civitas" da Britânia Romana na Cartografia de Cláudio Ptolomeu que assinala Venta Icenorum como uma das suas cidades. Venta, que também se encontra mencionada na Cosmografia de Ravenna e no Itinerário Antonino, foi um assentamento que pode ser localizado perto de Casiter St.Edmunds, a cerca de 7,5 Km a sul da actual Norwich e a cerca de dois Km. de um assentamento da Idade do Bronze em Arminghall.
Na Idade Média, a rainha guerreira tinha sido completamente esquecida. O seu nome não aparece na Historia Brittonum de S.Beda, nem no Maginobion, nem na História dos Reis Britânicos, de Geoffrey of Monmouth. Mas a descoberta da obra de Tácito durante o Renascimento, fez com que historiadores britânicos em 1534 e 1577 a fizessem constar nos seus trabalhos.
Elizabeth I, a rainha que também comandou um exército foi-lhe comparada, mas, ironicamente, foi sobretudo na era vitoriana que a fama de Boudicca, cujo nome em celta significa “Vitória”, tomou proporções lendárias.
A Rainha Vitória, chefe do Império Britânico, foi considerada sua homónima, apesar de Boudicca se ter notabilizado pela sua acção anti-imperialista, e o seu monumento em bronze, executado por Thomas Thornycroft, e inaugurado em 1905 junto à Ponte de Westminster, em Londres, pelo Príncipe Alberto, marido da rainha, representando Boudicca no seu carro de guerra acompanhada das filhas, parece montar guarda, à cidade que ela um dia arrasou até aos alicerces …
Fontes: Vários autores – Os Celtas – Pergaminho Distribuidora, Lda
As Grandes Civilizações – Os Celtas, conquistadores da Europa – Selecções do Reader’s Digest
Grinberg, Carl – História Universal
en.wikipedia.org
www.bbc.co.uk
imagem:
Thistleandbroom.com
muito bom saber um pouco mais sobre essa rainha até então desconchecida por muitos,fiquei muito interessada gostaria de saber em quais fontes devo procurar p/me aprofundar mais sobre os celtas e seus feitos....
ResponderEliminarOlá Marirey, desculpe só agora responder aos seus comentários, que agradeço, mas só ontem é que os vi. Quanto aos celtas, o escritor Jean Markale, publicou "A Grande Epopeia dos Celtas" que constam de 5 vol. e de que eu gosto bastante. Publicou também "O Cristianismo Celta" que é muito interessante. Espero que goste.
Eliminarpena q hoje nos envolvemos nesse mundo de mil nadas entre tecnologia e fantasias e nos esqueçamos nossas origens....
ResponderEliminar