quarta-feira, 29 de maio de 2013

A Queda de Constantinopla - I


Véspera do assalto – acampamento muçulmano

Mehmed II estava impaciente… Após quase dois meses de cerco, dispondo de um exército de cerca de 150.000 homens considerado como o melhor e o mais combativo do seu tempo, uma frota poderosa que cercava a cidade pelo lado do mar e canhões que diariamente bombardeavam as colossais muralhas de Constantinopla abrindo brechas aqui e ali, todos os seus ataques tinham sido rechaçados pelos cerca de 9.000 combatentes sitiados!
Com apenas 21 anos de idade, o jovem sultão tinha escolhido como primeiro objectivo político a conquista de Constantinopla, a ”Rainha das Cidades”, ou o “Olho do Mundo”, e tinha dedicado os dois primeiros anos do seu reinado a preparar essa conquista sem olhar a meios para o conseguir.
Mas agora apenas lhe restavam duas alternativas: ou levantar o cerco ou lançar o ataque final. Mehmed convoca os seus paxás para um conselho de guerra; a sua vontade vence todas as hesitações e o ataque decisivo fica marcado para o dia seguinte, 29 de Maio de 1453.
Com a sua habitual determinação o sultão inicia os preparativos. É instituído um dia de festa e todos os homens desde o primeiro ao último estão obrigados a cumprir os ritos solenes prescritos pelo Islão: sete abluções e rezar a Grande Oração três vezes ao dia. Desde o amanhecer até ao anoitecer, Maomé percorre a cavalo todo o gigantesco campo, desde o Corno de Ouro até ao Mar de Mármara, encorajando os chefes, inflamando os soldados, fazendo-lhes um terrível promessa que cumprirá:
“Entrego-vos uma grande e populosa cidade, a capital dos antigos Romanos. Tendes direito a três dias de saque após a conquista. Nada quero para mim excepto a glória de a ter conquistado”.
Um estrondoso alarido sucedeu-se a esta declaração. Aos gritos de Jagma, Jagma, “Saque, Saque” os soldados festejam com trompas, tambores, tubas, fazendo uma imensa algazarra e acendendo à noite milhares de tochas e archotes que ondulam pelas planícies e colinas.
De repente, por volta da meia-noite e a uma ordem do sultão, todas as tochas se apagam e todo o alarido cessa. O silêncio e a escuridão em que todo o acampamento mergulha são tão aterradores, que não deixam aos sitiados qualquer dúvida sobre a eminência de um ataque devastador…

Véspera do assalto – Dentro da cidade

De todo o imenso império bizantino debilitado por guerras sucessivas com inimigos externos e também por numerosas crises internas, apenas restam a capital, Constantinopla (a velha Bizâncio), algumas poucas ilhas e a província do Peloponeso. Gálata pertence aos Genoveses e o restante já faz parte do Império Otomano. Quando o Imperador Constantino XI protesta junto de Mehmed II a fortaleza que este estava construindo junto a Rumili Hissar, na margem europeia do Bósforo, cortando o acesso das embarcações bizantinas ao Mar Negro, sem qualquer justificação e violando os acordos existentes, o sultão responde-lhe: “Fora das muralhas de Constantinopla, o império pertence-me”.
Constantino não tinha ilusões. Embora a união entre as duas igrejas (a romana e a ortodoxa) tivesse sido celebrada com toda a pompa por um legado papal na igreja de Santa Sofia em 1452, como condição imposta pelo Papa para um eventual auxílio militar, nem Roma nem Veneza lhe tinham enviado reforços. O rei de França enviou-lhe uma carta muito amável, concedendo-lhe hospitalidade em caso de exílio, mas não tinha tropas para lhe enviar.
Depois de dois meses de cerco, apenas as fortíssimas muralhas da cidade detinham ainda a fúria dos exércitos otomanos. No meio dos mais intensos bombardeamentos os sitiados tratavam febrilmente de reparar as brechas que iam surgindo nas velhas paredes. O exército imperial não deveria ter mais de 9.000 homens comandados por Giovanni Giustiniani, um condottiere genovês e que se batiam como leões, repelindo as vagas humanas que pretendiam escalar as muralhas.
Ao ouvirem a explosão dos tambores no campo inimigo, adivinharam que o assalto final estava para breve.
Então todos os sinos das igrejas de Constantinopla tocam a chamar os fiéis. Uma grande procissão percorre as ruas da cidade, nela tomando parte todos os habitantes. Os sacerdotes cantando salmos, levavam imagens de santos, cujo poder milagroso protegeria a cidade. O Imperador reúne os senadores, os nobres e os comandantes dizendo-lhes: “Os Turcos têm os seus canhões, a sua cavalaria e as suas enormes massas de soldados. Quanto a nós, contamos com a ajuda de Deus”.
Em Hagia Sophia, outrora a catedral mais magnífica do mundo reúnem-se todos para assistir pela última vez à derradeira missa de corpo presente do Império Romano do Oriente.
Montando depois a cavalo, o Imperador percorre as muralhas de uma ponta à outra para encorajar os soldados.
Constantino e Mehmed sabem ambos que o dia seguinte ficará para sempre na História…
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