Véspera do
assalto – acampamento muçulmano
Mehmed II estava
impaciente… Após quase dois meses de cerco, dispondo de um exército de cerca de
150.000 homens considerado como o melhor e o mais combativo do seu tempo, uma
frota poderosa que cercava a cidade pelo lado do mar e canhões que diariamente bombardeavam
as colossais muralhas de Constantinopla abrindo brechas aqui e ali, todos os
seus ataques tinham sido rechaçados pelos cerca de 9.000 combatentes sitiados!
Com apenas 21
anos de idade, o jovem sultão tinha escolhido como primeiro objectivo político
a conquista de Constantinopla, a ”Rainha das Cidades”, ou o “Olho do Mundo”, e
tinha dedicado os dois primeiros anos do seu reinado a preparar essa conquista
sem olhar a meios para o conseguir.
Mas agora apenas
lhe restavam duas alternativas: ou levantar o cerco ou lançar o ataque final.
Mehmed convoca os seus paxás para um conselho de guerra; a sua vontade vence
todas as hesitações e o ataque decisivo fica marcado para o dia seguinte, 29 de Maio de 1453.
Com a sua
habitual determinação o sultão inicia os preparativos. É instituído um dia de
festa e todos os homens desde o primeiro ao último estão obrigados a cumprir os
ritos solenes prescritos pelo Islão: sete abluções e rezar a Grande Oração três
vezes ao dia. Desde o amanhecer até ao anoitecer, Maomé percorre a cavalo todo
o gigantesco campo, desde o Corno de Ouro até ao Mar de Mármara, encorajando os
chefes, inflamando os soldados, fazendo-lhes um terrível promessa que cumprirá:
“Entrego-vos uma
grande e populosa cidade, a capital dos antigos Romanos. Tendes direito a três
dias de saque após a conquista. Nada quero para mim excepto a glória de a ter
conquistado”.
Um estrondoso
alarido sucedeu-se a esta declaração. Aos gritos de Jagma, Jagma, “Saque, Saque” os soldados festejam com trompas,
tambores, tubas, fazendo uma imensa algazarra e acendendo à noite milhares de
tochas e archotes que ondulam pelas planícies e colinas.
De repente, por
volta da meia-noite e a uma ordem do sultão, todas as tochas se apagam e todo o
alarido cessa. O silêncio e a escuridão em que todo o acampamento mergulha são
tão aterradores, que não deixam aos sitiados qualquer dúvida sobre a eminência
de um ataque devastador…
Véspera do
assalto – Dentro da cidade
De todo o imenso
império bizantino debilitado por guerras sucessivas com inimigos externos e
também por numerosas crises internas, apenas restam a capital, Constantinopla (a
velha Bizâncio), algumas poucas ilhas e a província do Peloponeso. Gálata
pertence aos Genoveses e o restante já faz parte do Império Otomano. Quando o
Imperador Constantino XI protesta junto de Mehmed II a fortaleza que este
estava construindo junto a Rumili Hissar, na margem europeia do Bósforo,
cortando o acesso das embarcações bizantinas ao Mar Negro, sem qualquer
justificação e violando os acordos existentes, o sultão responde-lhe: “Fora das
muralhas de Constantinopla, o império pertence-me”.
Constantino não
tinha ilusões. Embora a união entre as duas igrejas (a romana e a ortodoxa)
tivesse sido celebrada com toda a pompa por um legado papal na igreja de Santa
Sofia em 1452, como condição imposta pelo Papa para um eventual auxílio
militar, nem Roma nem Veneza lhe tinham enviado reforços. O rei de França
enviou-lhe uma carta muito amável, concedendo-lhe hospitalidade em caso de
exílio, mas não tinha tropas para lhe enviar.
Depois de dois
meses de cerco, apenas as fortíssimas muralhas da cidade detinham ainda a fúria
dos exércitos otomanos. No meio dos mais intensos bombardeamentos os sitiados
tratavam febrilmente de reparar as brechas que iam surgindo nas velhas paredes.
O exército imperial não deveria ter mais de 9.000 homens comandados por
Giovanni Giustiniani, um condottiere genovês e que se batiam como leões, repelindo
as vagas humanas que pretendiam escalar as muralhas.
Ao ouvirem a
explosão dos tambores no campo inimigo, adivinharam que o assalto final estava
para breve.
Então todos os
sinos das igrejas de Constantinopla tocam a chamar os fiéis. Uma grande procissão
percorre as ruas da cidade, nela tomando parte todos os habitantes. Os
sacerdotes cantando salmos, levavam imagens de santos, cujo poder milagroso
protegeria a cidade. O Imperador reúne os senadores, os nobres e os comandantes
dizendo-lhes: “Os Turcos têm os seus canhões, a sua cavalaria e as suas enormes
massas de soldados. Quanto a nós, contamos com a ajuda de Deus”.
Em Hagia Sophia,
outrora a catedral mais magnífica do mundo reúnem-se todos para assistir pela
última vez à derradeira missa de corpo presente do Império Romano do Oriente.
Montando depois
a cavalo, o Imperador percorre as muralhas de uma ponta à outra para encorajar
os soldados.
Constantino e
Mehmed sabem ambos que o dia seguinte ficará para sempre na História…
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