Se há princesas que nasceram fadadas para um destino infeliz, Branca de Bourbon foi uma delas.
Nascida em 1338/9, era uma das seis filhas de Pedro I, duque de Bourbon e de Isabel de Valois, sendo neta de Filipe III de França. Alguns historiadores dão-na como irmã gémea de Joana, mais tarde rainha de França pelo seu casamento com Carlos V.
Por volta de 1351, o rei de Castela Pedro I, o Cruel, manda uma embaixada a França, pedindo ao rei João, o Bom, uma das suas sobrinhas para esposa, sendo Branca a escolhida pelos embaixadores que a acharam formosa. Na verdade, este casamento tinha sido arranjado pela rainha-mãe D. Maria, filha de Afonso IV de Portugal, e viúva de Afonso XI, de Castela, e pelo valido João Afonso de Albuquerque, conselheiro do jovem rei.
Este, que contava apenas 16 anos na altura, mostrava já um carácter violento e propenso à astúcia e crueldade, embora inteligente e bem-parecido, pelo que, um casamento com uma jovem bonita e meiga como Branca poderia abrandar-lhe o feitio…
No princípio de 1353, já casada por procuração com o rei de Castela, a nova rainha sai de França, acompanhada pelo seu séquito chefiado pelo visconde de Narbonne, trazendo como dote 300 mil florins de ouro, que parece, nunca chegou a ser totalmente pago. Ao chegar à fronteira com Castela, apenas o senhor de Albuquerque a esperava, do noivo, nem a sombra!
Indignados com este procedimento, os enviados do rei de França exigem uma explicação, a que D. João Afonso responde aludindo a uma indisposição do rei. O que na verdade ele não poderia contar, é que neste intervalo de quase dois anos, o rei se tinha apaixonado loucamente por outra mulher, que já lhe tinha dado uma filha, e encontrava-se nessa altura, com ela, em Sevilha, onde passava a maior parte do tempo…Do casamento nem queria ouvir falar!
A dama em questão chamava-se Maria de Padilla, era pouco mais velha que Branca, e pertencia a uma família nobre. Até à sua morte, de causas naturais, em 1361, deu quatro filhos ao rei e à semelhança de Inês de Castro, também foi declarada rainha depois de morta.
Finalmente, a 3 de Junho, e cedendo apenas por razões de Estado, Pedro I casa com a princesa na catedral de Valhadolid. À saída, debaixo das aclamações do povo, enquanto Branca, radiante de formosura e felicidade, acenava à multidão, o rei mantinha-se distante e silencioso. Depois do banquete, D. Pedro abandona a noiva e volta para os braços de Maria.
A desconsolada rainha fica na companhia da sogra, até que D. João de Albuquerque consegue que o rei volte para uma reconciliação que dura apenas dois dias, findos os quais o rei parte para Olmedo. A rainha-mãe leva-a consigo para Tordesilhas e depois para Medina del Campo, mas por ordem do rei é conduzida à fortaleza de Arévalo, onde fica encerrada, sem que o rei torne a vê-la. Dali, é mais tarde conduzida para o castelo de Toledo.
Os nobres franceses do séquito da rainha voltam para França, onde relatam o sucedido, mas o rei de França, João II, o Bom, tinha sido aprisionado pelos ingleses na batalha de Poitiers, em 1356. Era uma época conturbada esta, vivida em plena Guerra dos Cem Anos, onde os camponeses fartos da sua miséria se revoltavam contra os senhores feudais, e a burguesia, cada vez mais forte, exigia mudanças políticas. O regente francês estava demasiado ocupado a negociar o resgate do pai, e pouco podia fazer por Branca, além de que ainda era devido a Castela o resto do dote…
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