quarta-feira, 30 de março de 2011

GOYA - I

Auto-retrato

A 30 de Março de 1746 nasce em Fuendetodos, perto de Saragoça, Francisco José de Goya e Lucientes, filho de um mestre dourador, que o destino haveria de consagrar como um dos maiores pintores espanhóis de sempre, além de um excelente gravador. “Não há regras na pintura” afirmou Goya num discurso proferido na Real Academia de Belas-Artes, de Madrid, ficando ele próprio conhecido pela diversidade do seu estilo, que tanto influenciou as gerações vindouras.

Precursor do impressionismo, pode chamar-se a Goya, o Pai da Pintura Moderna, dando também o seu contributo para os diversos estilos que se seguirão como o romantismo, o realismo ou até o simbolismo, tanto pela crítica aguda expressa em muitas das suas obras, como pelo tratamento da cor, que ele tanto estudou. Deixou cerca de 500 quadros e murais, centenas de desenhos assim como outras tantas litografias e gravuras, além das tapeçarias que desenhou.

Excelente retratista, durante cerca de quarenta anos foi o pintor principal da Corte, o que lhe permitiu fazer os retratos de três reis sucessivos, assim como das suas famílias e da maior parte da nobreza, mas grande parte dos seus quadros são dedicados a figuras do povo, como toureiros, majos e majas, gente humilde, e cenas populares como festas e arraiais, chamando muitas vezes a atenção para problemas sociais, como o do hospício para doentes mentais retratado na sua obra “O Pátio dos Loucos”, ou a falta de segurança existente tanto nas estradas como nas casas ou no mar, patentes em obras como “Bandidos assaltando uma carruagem”, “O Incêndio” ou “O Naufrágio”.

Em 1792, devido a uma grave doença que contraiu, ficou totalmente surdo, o que aumentou a sua tendência para as cores sombrias e dramáticas, isolando-se numa melancolia amarga. Também a morte de seis dos seus sete filhos, tidos pelo seu casamento em 1773, com Josefa Bayeux, foi um dos grandes desgostos que sofreu. No entanto, a doença tornou-o compreensivo para o sofrimento dos outros, e o seu trabalho encerra um profundo humanismo.

Devido à sua longa vida, atravessa um dos períodos mais conturbados da história da Espanha e da Europa, sendo já um homem maduro quando se dá a tomada da Bastilha, em 1789, dando origem a uma revolução que se alastra por grande parte do continente europeu, no mesmo ano em que Goya é nomeado pintor oficial da Corte. Não se coibindo de retratar a família real espanhola em toda a sua crueza, pinta na sua conhecida obra “A Família de Carlos IV”, o ar decadente e vulgar dos membros da família do monarca, cheios de jóias, tecidos dourados, ostentando as suas medalhas, não se compreendendo como foi bem aceite. Tal como Velazquez, que ele muito admirava, também se auto-retrata nesta obra, ao fundo, à esquerda, embora de uma maneira mais modesta, e prestando com esta tela a sua homenagem ao outro génio da pintura espanhola.

Adepto da corrente iluminista que lutava para tirar o país do atraso e da ignorância em que se encontrava, subjugado por uma nobreza ociosa e por um clero em que a maioria dos padres nem sequer sabia ler, em que a crendice em bruxas e sortilégios andava a par de um fanatismo religioso, grava em 1797 uma série de oitenta estampas satíricas, denominada “Os Caprichos” sob o lema de que “o sonho da razão engendra monstros”, testemunho da visão lúcida e patética que tem dos homens e do mundo. Se contemplarmos o “Sabbath das Bruxas” ou olharmos para a gravura nº 39, onde satirizando a pequena nobreza que preferia empobrecer a ter de trabalhar, grava um jumento a olhar para o álbum dos seus antepassados, todos burros como ele, tendo ao pé da mesa o seu brasão e por baixo uma legenda “Hasta su abuelo”, compreende-se bem o receio do pintor, quando após a publicação das estampas, o governo de Godoy cai. Retiradas de circulação com apenas alguns exemplares vendidos, e receoso da Inquisição, vende-as ao Rei, a troco de uma pensão para o seu filho.

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