quinta-feira, 17 de março de 2011

Os Idos de Março – II


Cheios de pânico e horrorizados, os senadores fugiram sem tentarem defender César, e Bruto que tinha um discurso preparado, ficou sem auditores. Espalharam-se então pelas ruas gritando: “Morte ao tirano” e “Liberdade e República”.
No meio do caos que se gerou a seguir, porque os conjurados não tinham planeado nada para regularizar o governo de Roma, Marco António passou à acção, preparando as exéquias de César.
Diante da Assembleia do Povo pronunciou uma comovente oração fúnebre e leu o testamento que este deixara, em que legava ao povo os seus jardins para que aí se fizesse um parque, e a cada um dos 250.000 romanos pobres uma quantia em dinheiro. Depois, levantando a mortalha que envolvia César, mostrou ao povo as suas feridas e a túnica ensanguentada, provocando um coro de lamentações e uma indignação geral contra os seus assassinos.
Shakespeare descreve magistralmente, no Acto III, Cena II da sua tragédia intitulada “Julio César”, a mudança de sentimentos que se deu na população, inicialmente a favor dos conjurados…Não resisto a transcrevê-la, embora não na sua totalidade e adaptada.

ACTO III – Cena II

BRUTO - Romanos, concidadãos e amigos! Ouvi a exposição da minha causa e fazei silêncio, para que possais ouvir. Crede em minha honra e respeitai minha honra, para que possais acreditar nela. Se houver alguém nesta reunião, algum amigo afectuoso de César, dir-lhe-ei que o amor que Bruto dedicava a César não era menor do que o dele. E se esse amigo, então, perguntar por que motivo Bruto se levantou contra César, eis minhas resposta: não foi por amar menos a César, mas por amar mais a Roma. Que teríeis preferido: que César continuasse com vida e vós todos morrêsseis como escravos, ou que ele morresse, para que todos vivêsseis como homens livres? Por me haver amado César, pranteio-o; mas por ter sido ambicioso, matei-o. Logo: lágrimas para a sua amizade, e morte para a sua ambição. Haverá aqui, neste momento, alguém tão vil que deseje ser escravo? Se houver alguém nessas condições, que fale, porque o ofendi. Haverá alguém tão grosseiro para não querer ser romano? Se houver, que fale, porque o ofendi. Haverá alguém tão desprezível, que não ame sua pátria? Se houver, que fale, porque o ofendi. Faço uma pausa, para que me respondam.
CIDADÃOS — Ninguém, Bruto; ninguém.
CIDADÃOS — Viva Bruto! Viva! Viva!
PRIMEIRO CIDADÃO — Levai-o para casa triunfalmente.
BRUTO — Caros concidadãos, é meu desejo voltar só para casa; porém peço-vos que por amor de mim fiqueis com Antonio. Prestai honras ao corpo, aqui, de César, e ao discurso em que Antonio há- de suas glórias enaltecer, o que lhe permitimos. Encarecidamente a todos peço que, a não ser eu, ninguém daqui se arrede até que Marco Antonio haja falado.


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