Quem passa pelo Jardim do Príncipe Real, em Lisboa, provavelmente não imagina a movimentada história que possui, desde os tempos em que no sec. XVI., aqueles terrenos eram chamados de “Chãos da Ferroa”, ou “Alto da Cotovia”, e considerados a lixeira do Bairro Alto.
No sec. XVII, João Gomes da Silva Teles, filho do Marquês de Alegrete, recebe através do seu casamento, o Condado de Tarouca, onde se incluíam os terrenos do Alto da Cotovia. Resolve construir ali um palácio luxuoso, que acaba em ruínas por não ter sido concluído, ficando o local, em 1740, novamente para lixeira.
As terras são depois vendidas á Companhia de Jesus, que mandando limpar o terreno, inicia a construção do Colégio das Missões, completamente destruído mais tarde pelo terramoto de 1755, ficando de novo tudo em escombros, sendo aí montados acampamentos para os regimentos militares a quem o Marquês de Pombal encarregara da limpeza e segurança da cidade, e onde permaneceram por vários anos, tendo ali sido erguida uma das forcas da cidade.
É também ali instalada provisoriamente a Paróquia da Encarnação, e, mais tarde, constrói-se a nova Sede Patriarcal, onde se chega a dizer missa num barracão montado para o efeito, mas em 1769 um violento incêndio criminoso deixa-a em ruínas, passando o local a ser conhecido por “Patriarcal Queimada”. O seu autor foi Alexandre Francisco Vicente, ali empregado, que assim encontrou forma de esconder os roubos praticados, e também de ficar sem as duas mãos, punição que lhe foi aplicada no próprio local por tão sacrílego crime.
Em 1789, resolve-se aproveitar o local para construir o edifício do Real Erário, a Tesouraria Central do Reino, por proposta do Visconde de Vila Nova de Cerveira, ministro da Fazenda no reinado de D. Maria I. Considerada demasiado dispendiosa, apenas são construídas duas fiadas de cantaria acima do terreno, sendo o projecto abandonado, ficando novamente para entulho, até que em 1835 os terrenos são entregues à Câmara Municipal de Lisboa.
Finalmente, em 1856 é projectado o Reservatório de Água da Patriarcal, cujas obras terminam em 1864, sendo em 1859 executada a construção do grande tanque, um projecto da autoria do engenheiro francês Mary. Recebendo inicialmente as águas do Aqueduto das Águas Livres, foi na época o mais importante tanque no sistema de distribuição de água realizada para a baixa da cidade. O reservatório subterrâneo do tanque, com ligações aos chafarizes do Século, do Loreto e de S. Pedro de Alcântara, apresenta 31 pilares com 9,52 m. de altura, sobre os quais assentam os arcos da abóbada que suporta o lago exterior. Faz parte do Museu de Água da EPAL, e pode ser visitado pelo público.
Em homenagem ao herdeiro do reino, o futuro D. Pedro V, dá-se-lhe o nome de Praça ou Largo do “Príncipe Real”.
Dez anos mais tarde, em 1869, passa a dispor de iluminação, sendo também ajardinado segundo o projecto de João Francisco da Silva, que juntamente com Bonnard, o jardineiro do reino contratado pelo rei D. Fernando II, também tinha desenhado o Jardim da Estrela.
É um jardim de traçado romântico inglês, com uma área de 1,2 hectares, apresentando uma planta trapezoidal, com percursos sinuosos entre canteiros de plantas e flores multicores, rodeando um grande tanque octogonal, cujo desenho deriva da forma de uma parte do edifício do Real Erário que nunca chegou a ser construída, tendo ao centro, um repuxo.
Nele se destacam várias espécies de árvores, 6 das quais foram classificadas de interesse público, salientando-se o enorme cedro-do-Buçaco, o ex-libris da praça, com 20 metros de diâmetro.
Com a queda da monarquia, o Jardim passa a chamar-se Praça Rio de Janeiro entre 1911 e 1919, sendo oficialmente designado em 1925 por Jardim França Borges, em homenagem a este jornalista republicano. Mais tarde, o seu antigo nome de “Príncipe Real” volta a ser retomado, e actualmente é conhecido por qualquer destas designações.
De 1950 a 1960 funcionava ali, uma biblioteca municipal móvel, e de 1963 a 1970, durante grande parte do Verão, uma feira.
Além de um parque infantil, possui também mesas de jogos, esplanadas, quiosques, bebedouros, realizando-se ali vários eventos, em que o mercado semanal (aos sábados), de produtos de agricultura biológica é um deles.
Ornamentado por obras de estatuária, podemos apreciar o monumento ao jornalista França Borges, feito por Maximiano Alves, constando de um medalhão de bronze com a efígie do jornalista e a figura da República, um busto do Dr. Sousa Viterbo, da autoria de Francisco dos Santos, e uma escultura em memória do 1º centenário da morte do poeta Antero de Quental, colocada no jardim em 1991, da autoria de Lagoa Henriques.
É também citado, tanto na literatura estrangeira como na nacional, por escritores como John Le Carré, em “A Casa da Rússia”, ou por Eça de Queirós, no seu famoso romance “Os Maias”.
Fontes: França, José Augusto – Lisboa Pombalina e o Iluminismo
Revista Jardins, nº 92
Museutransportesmunicipais.cm-lisboa.pt
Aps-ruasdelisboacomhistoria.blogspot.com
e.cultura.pt
purl.pt
No sec. XVII, João Gomes da Silva Teles, filho do Marquês de Alegrete, recebe através do seu casamento, o Condado de Tarouca, onde se incluíam os terrenos do Alto da Cotovia. Resolve construir ali um palácio luxuoso, que acaba em ruínas por não ter sido concluído, ficando o local, em 1740, novamente para lixeira.
As terras são depois vendidas á Companhia de Jesus, que mandando limpar o terreno, inicia a construção do Colégio das Missões, completamente destruído mais tarde pelo terramoto de 1755, ficando de novo tudo em escombros, sendo aí montados acampamentos para os regimentos militares a quem o Marquês de Pombal encarregara da limpeza e segurança da cidade, e onde permaneceram por vários anos, tendo ali sido erguida uma das forcas da cidade.
É também ali instalada provisoriamente a Paróquia da Encarnação, e, mais tarde, constrói-se a nova Sede Patriarcal, onde se chega a dizer missa num barracão montado para o efeito, mas em 1769 um violento incêndio criminoso deixa-a em ruínas, passando o local a ser conhecido por “Patriarcal Queimada”. O seu autor foi Alexandre Francisco Vicente, ali empregado, que assim encontrou forma de esconder os roubos praticados, e também de ficar sem as duas mãos, punição que lhe foi aplicada no próprio local por tão sacrílego crime.
Em 1789, resolve-se aproveitar o local para construir o edifício do Real Erário, a Tesouraria Central do Reino, por proposta do Visconde de Vila Nova de Cerveira, ministro da Fazenda no reinado de D. Maria I. Considerada demasiado dispendiosa, apenas são construídas duas fiadas de cantaria acima do terreno, sendo o projecto abandonado, ficando novamente para entulho, até que em 1835 os terrenos são entregues à Câmara Municipal de Lisboa.
Finalmente, em 1856 é projectado o Reservatório de Água da Patriarcal, cujas obras terminam em 1864, sendo em 1859 executada a construção do grande tanque, um projecto da autoria do engenheiro francês Mary. Recebendo inicialmente as águas do Aqueduto das Águas Livres, foi na época o mais importante tanque no sistema de distribuição de água realizada para a baixa da cidade. O reservatório subterrâneo do tanque, com ligações aos chafarizes do Século, do Loreto e de S. Pedro de Alcântara, apresenta 31 pilares com 9,52 m. de altura, sobre os quais assentam os arcos da abóbada que suporta o lago exterior. Faz parte do Museu de Água da EPAL, e pode ser visitado pelo público.
Em homenagem ao herdeiro do reino, o futuro D. Pedro V, dá-se-lhe o nome de Praça ou Largo do “Príncipe Real”.
Dez anos mais tarde, em 1869, passa a dispor de iluminação, sendo também ajardinado segundo o projecto de João Francisco da Silva, que juntamente com Bonnard, o jardineiro do reino contratado pelo rei D. Fernando II, também tinha desenhado o Jardim da Estrela.
É um jardim de traçado romântico inglês, com uma área de 1,2 hectares, apresentando uma planta trapezoidal, com percursos sinuosos entre canteiros de plantas e flores multicores, rodeando um grande tanque octogonal, cujo desenho deriva da forma de uma parte do edifício do Real Erário que nunca chegou a ser construída, tendo ao centro, um repuxo.
Nele se destacam várias espécies de árvores, 6 das quais foram classificadas de interesse público, salientando-se o enorme cedro-do-Buçaco, o ex-libris da praça, com 20 metros de diâmetro.
Com a queda da monarquia, o Jardim passa a chamar-se Praça Rio de Janeiro entre 1911 e 1919, sendo oficialmente designado em 1925 por Jardim França Borges, em homenagem a este jornalista republicano. Mais tarde, o seu antigo nome de “Príncipe Real” volta a ser retomado, e actualmente é conhecido por qualquer destas designações.
De 1950 a 1960 funcionava ali, uma biblioteca municipal móvel, e de 1963 a 1970, durante grande parte do Verão, uma feira.
Além de um parque infantil, possui também mesas de jogos, esplanadas, quiosques, bebedouros, realizando-se ali vários eventos, em que o mercado semanal (aos sábados), de produtos de agricultura biológica é um deles.
Ornamentado por obras de estatuária, podemos apreciar o monumento ao jornalista França Borges, feito por Maximiano Alves, constando de um medalhão de bronze com a efígie do jornalista e a figura da República, um busto do Dr. Sousa Viterbo, da autoria de Francisco dos Santos, e uma escultura em memória do 1º centenário da morte do poeta Antero de Quental, colocada no jardim em 1991, da autoria de Lagoa Henriques.
É também citado, tanto na literatura estrangeira como na nacional, por escritores como John Le Carré, em “A Casa da Rússia”, ou por Eça de Queirós, no seu famoso romance “Os Maias”.
Fontes: França, José Augusto – Lisboa Pombalina e o Iluminismo
Revista Jardins, nº 92
Museutransportesmunicipais.cm-lisboa.pt
Aps-ruasdelisboacomhistoria.blogspot.com
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