domingo, 25 de setembro de 2011

Lalibela, ou a Nova Jerusalém


Nas montanhas escuras de Wallo, no norte da Etiópia, ergue-se uma obra-prima de pedra viva. Onze igrejas monolíticas escavadas nas rochas de basalto vermelho dos montes de Amhara por volta do ano de 1200, construídas com a intenção de representarem a Terra Santa. Divididas em dois grupos, estão separadas por um canal simbolizando o Rio Jordão, mas unidas entre si por redes de trincheiras e túneis, decoradas internamente com deslumbrantes pinturas na parede.
Ainda hoje lugares de peregrinação e de culto assinalam o ponto culminante da arte aksumita.


O reino de Aksum ou Axum, situado na costa meridional do Mar Vermelho, foi cristianizado por volta do sec. IV, quando o rei Ezana se deixou baptizar por S. Frumêncio, seu perceptor e fundador da Igreja Copta da Etiópia.
Com a invasão muçulmana no sec. VII, o reino ficou isolado do mundo bizantino, mas manteve a sua ligação com Alexandria conservando-se fiel à sua religião.
Em 1187, com a conquista de Jerusalém por Saladino, as peregrinações dos etíopes tornam-se difíceis. Nos princípios do sec. XIII, governava em Aksum o rei Lalibela (1190-1225), da dinastia Zagwe, que, segundo uma lenda concebeu o plano de construir uma nova cidade santa depois de Cristo lhe ter aparecido em sonhos. Uma grande quantidade de anjos e querubins desceu dos céus para ajudarem na construção das onze igrejas monolíticas escavadas na rocha, por volta do ano de 1200. Por este motivo uma das igrejas está dedicada aos arcanjos Gabriel e Rafael. S. Jorge, patrono do reino, foi quem dirigiu os trabalhos de escavação para edificação dos templos, tendo-os dotado de um eficiente sistema de drenagem à sua volta. A sua igreja, Bet Giyorgis, escavada de cima para baixo, é a única em forma de cruz.


Esta cidade, então chamada Roha, passou a designar-se Lalibela em homenagem aos trabalhos realizados pelo rei. Embora haja mais destes templos espalhados pelo interior da província, não se podem comparar com os de Lalibela em ornamentação e acabamentos.
O padre português Francisco Álvares, o primeiro europeu a visitar a Abissínia e que por lá ficou entre 1520 e 1526, ao descrever mais tarde aqueles monumentos, disse que em mais nenhuma parte do Mundo existiam igrejas assim! A descrição continua válida…
Construídas no estilo bizantino com as naves e as três entradas rituais, calcula-se que tiveram de ser retiradas da rocha a escopro cerca de 100.000mts. cúbicos de pedra, estando quatro das capelas totalmente separadas da encosta.
Segundo a Kebra Negast ou Nagast (uma epopeia gloriosa escrita em ge’ez por volta do sec. XIV que conta a história dos soberanos etíopes), a dinastia reinante era também herdeira da tradição israelita, pois o imperador Menelik I, sendo filho de Salomão e da Rainha de Sabá, descendia pela linha paterna da Casa de David. Além de que, no retorno da única visita que fez ao reino de Israel para conhecer o seu pai, trouxera consigo a Arca da Aliança onde se encontravam guardadas as Tábuas da Lei dadas por Deus a Moisés. Estas relíquias da Cristandade foram encerradas na Igreja de Santa Maria de Sião, em Axum, onde, segundo a tradição ainda se mantêm.


chegada da Arca da Aliança (fresco)

2 comentários:

  1. Vai esse meu meu em jeito de subsídio e agradecimento pelo artigo

    HISTÓRIA E ESTÓRIAS

    Daqui de Cabo-Verde «via» o mundo geral.
    As esculturas de Makonde e os Ágoras de Atenas.
    A Acrópole, o Areópago, Plínio o Velho...
    Suspirei fundo no ajuntar das peças do puzzle,
    estórias da História que o tempo não apagou.

    Daqui do meu país «observava» a «aldeia global».
    Discursos dúbios que se dizem oficiais.
    Tentava decifrar o que a História dizia.
    História e estórias da Abissínia.
    Da Pérsia e da Babilônia, de Nabucodonosor…
    História e estórias da Grécia, de Roma, de Cartago…
    Do que penso saber, do que não sei e da Meta-História.


    No refiltrar da História, as pirâmides e esfinges do Egipto.
    (…) Viajara no tempo e «viera» Heródoto.
    Suspirei fundo no decifrar dos enigmas.
    Queria saber da Núbia e do rei Ori,
    do império etíope e da África toda.

    Na biblioteca global uma chuva de vocábulos:
    Ortodoxia e cânon, espúrio e anátema...
    Suspirei novamente: Vieram Kebra Nagast,
    os Vedas e a Bíblia na versão de King James.
    Depois um montão de flashes:
    Addis Ababa e o judeu etíope,
    Jerusalém e o judeu de Malta,
    Islão, Sião, Arábia, Colômbia.
    Burro-lança míssil, cavalo-bomba,
    Golfinho militar, rato-bombeiro… suspiros!
    A Casa banqueira dos Fugger na Áustria
    e os lucros de até mil por cento.
    Vieram uma proto-globalização, Goré, Ribeira Grande…


    Nos baús da História estórias guardadas a sete chaves.
    Verdades escondidas em jazigos de lata.
    Veio novamente Heródoto e o passado em força:
    Mesopotâmia, Tigre, Eufrates, Pisom e Gihom.
    Noé, Sem, Cam e Jafet; Ninrod.
    A dinastia Aksumita e a tribo dos Agasios.
    Suspirei novamente e cheguei ao presente.
    Já pensava no noticiário da noite.
    Já pensava nos «areopagitas do discurso oficial».

    Ah se eu pudesse contar para todos a verdadeira História...
    Falava de Jabal, o pai dos que habitam em tendas e tem gado.
    Falava de Jubal, o pai de todos os que tocam harpa e flauta.
    Falava de Tubalcaim, artífice de toda perícia metalúrgica.
    Falava do governador Zafenate-Panéia e da sua senhora Azenate.
    Contava estórias do Egipto, do Zimbábue e da África toda.
    Qual pastor beduíno procurava papiros em vasos de cerâmica.
    E corria a traz dos pergaminhos que os branqueadores da História levaram.
    Abria os livros, abria os véus, os baús e os jazigos.
    Seria então o mugir do touro daqui de Cabo Verde, do meio do Atlântico.
    Seria também a brisa dourada na madrugada da África e de todo o mundo.

    *MEU BLOG www.katchupatupatupa.blogspot.com

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