quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

LITANIA DO NATAL

A noite fora longa, escura, fria.
Ai noites de Natal que dáveis luz,
Que sombra dessa luz nos alumia?
Vim a mim dum mau sono, e disse: «Meu Jesus…»
Sem bem saber, sequer, porque o dizia.
E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
Na cama em que jazia,
De joelhos me pus
E as mãos erguia.
Comigo repetia: «Meu Jesus…»
Que então me recordei do santo dia.
E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
Ai dias de Natal a transbordar de luz,
Onde a vossa alegria?
Todo o dia eu gemia: «Meu Jesus…»
E a tarde descaiu, lenta e sombria.
E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
De novo a noite, longa, escura, fria,
Sobre a terra caiu, como um capuz
Que a engolia.
Deitando-me de novo, eu disse: «Meu Jesus…»
E assim, mais uma vez, Jesus nascia.
José Régio


A Natividade (Te tamari no atua), foi pintada em 1896 por Eugène-Henri-Paul Gauguin, pintor francês pós-impressionista, nascido a 7 de Junho de 1848, em Paris, e falecido em 1903, nas Ilhas Marquesas.
Aqui é possível perceber facilmente a mistura de sua cultura ocidental com o estilo de vida primitivo dos taitianos. Utilizou nativos para retratarr um fato cristão, bem como a cor amarela para enfatizar a santidade de Maria, deitada na cama (clicar no quadro para abrir).
Depois de ter sido marinheiro e empregado bancário, decidiu enveredar pela pintura, ao conhecer Camille Pissarro e o trabalho dos impressionistas. Em constante revolta contra os artifícios e os convencionalismos da época, encetou um retorno às origens em Taiti. A Bretanha constitui contudo o primeiro passo no seu percurso artístico. Libertando-se do Impressionismo, em O Cristo Amarelo (1889) utiliza cores lisas delimitadas por contornos, processo que se assemelha à arte do vitral medieval, e que vai aperfeiçoar naquilo a que se chamou o "cloisonnisme". Em Manao Tupapau (1892), já no Taiti, as prioridades do espaço pictural prevalecem sobre a realidade, as proporções das figuras são deformadas, a perspetiva alterada, as cores são intensas e profundas, mas nunca agressivas. Em A Lua e a Terra (1893) expressa os seus sentimentos sobre a cultura maori. Com O Cavalo Branco (1898) o seu estilo conserva-se essencialmente o mesmo, mas torna-se mais poderoso. A sua obra-prima é a alegoria Donde Vimos? Que Somos? Para Onde Vamos? (1897) uma espécie de testamento mágico-religioso executado antes de uma tentativa de suicídio. A sua arte influenciou diretamente os nabis, o Fauvismo, o Simbolismo e mesmo o Expressionismo de Edvard Munch.

Fontes: Infopedia

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