É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira, Obra Poética
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira, Obra Poética
O quadro “A Natividade” é da autoria de Anita Catarina Malfatti, considerada como a primeira representante do modernismo no Brasil. Nascida em São Paulo em 1889, aí faleceu em1964. Pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora, inicia o seu aprendizado artístico com a mãe, Bety Malfatti. Devido a uma atrofia congénita no braço e na mão direita, aprendeu a utilizar a esquerda para pintar.
Podemos dividir as fases artísticas de Anita Malfatti em três: 1- a primeira seria quando define sua forma expressionista de pintar; 2- a segunda seria a das dúvidas, de que caminho seguir na arte; 3- dos 20,30 e início dos anos 40, quando depois da morte de Mário de Andrade e de sua mãe, se recolhe na sua casa, atravessando um período de reclusão. Iria finalmente, em paz consigo mesma, " pintar à vontade", " ao seu modo.
"É verdade que eu já não pinto o que pintava há 30 anos. Hoje faço pura e simplesmente arte popular brasileira. É preciso não confundir: arte popular com folclore… [...]eu pinto aspectos da vida brasileira, aspectos da vida do povo. Procuro retratar os seus costumes, os seus usos, o seu ambiente. Procuro transportá-los vivos para as minhas telas. Interpretar a alma popular [...] eu não pinto nem folclore, nem faço primitivismo. Faço arte popular brasileira".
Imagem: peregrinacultural.wordpress.com
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