domingo, 24 de julho de 2011

A Alcachofra


Originária do sul do Mediterrâneo, provavelmente das regiões do Norte de África, era já conhecida dos egípcios, tendo sido trazida para a Europa pelos gregos, que introduziram o seu cultivo também na Sicília.
A alcachofra (cientificamente conhecida como Cynara cardunculus, subs. Scolymus), é uma planta robusta, de folhas espinhosas e cor de um cinza pálido, que pode atingir até 1,20 mts. de altura. As flores são cor de púrpura, envoltas em grandes brácteas carnudas, que são a parte comestível da inflorescência. As folhas da alcachofra contêm diversas substâncias de efeitos benéficos para a saúde quando consumidas nos níveis recomendados.
Ricas em cinarina (a principal substância activa), que estimula as secreções do fígado e da vesícula é diurética, contendo também tanino assim como vários flavonóides, designadamente a luteolina. Cada 100g contém cerca de 60 calorias e também contém cálcio, ferro e fósforo, vitaminas do complexo B, potássio, iodo, sódio, magnésio e ferro.
Planta exótica, aparentada com o cardo comum, dizia-se que tinha propriedades afrodisíacas. Muito utilizada na Antiguidade pelos nobres gregos e romanos, caiu um pouco no esquecimento, continuando contudo a ser utilizada em Itália. Catarina de Médicis, que era uma grande apreciadora desta iguaria, introduziu o seu consumo em França, quando casou com o rei Henrique II.
À volta do seu nome científico Cynara, existe uma bonita lenda mitológica:
Havia em tempos uma belíssima jovem mortal, chamada Cynara, que vivia com a sua família numa ilha. Ora num belo dia que Zeus tinha ido visitar o seu irmão Poseidon ao seu reino, viu, ao emergir, aquela beldade a olhar para ele, sem parecer nada assustada por estar na presença do rei dos deuses.
Como não podia deixar de ser, Zeus não perdeu tempo a tentar seduzi-la.
Decidido a tê-la ao pé de si, aproveitou uma das ausências da sua esposa Hera, e tornando Cynara imortal, levou-a consigo. Mas a jovem, certo dia, sentiu saudades do seu mundo antigo e da sua família, e, às escondidas, deixou a morada dos deuses e foi visitar a sua mãe. Ao voltar, Zeus, cheio de cólera pela sua atitude, mandou-a de regresso às origens, mas transformada numa alcachofra!
Muito mais real, é o quanto os árabes apreciavam este legume. Além de lhe darem o nome porque a conhecemos, alcachofra (al-kharshûf), o grande poeta Ibn ‘Ammar, nascido em 1031, perto de Silves, dedicou-lhe este poema:

A ALCACHOFRA

Filha das águas e da terra,
Para quem lhe almeja os dons
Fecha-se numa veste de recusa.
E, na sua beleza obstinada
Bem no cimo lá da haste
Lembra uma jovem cristã
Que cota de espinhos usa.

.

Sem comentários:

Enviar um comentário