domingo, 13 de fevereiro de 2011

Gala Placidia – I

Gala Placidia, à direita, com os seus filhos

De princesa imperial a rainha bárbara


Elia Gala Placidia, nasceu em Constantinopla, a meados do ano de 392d.C., filha do imperador Teodósio I e da sua segunda esposa, a imperatriz Gala, na Sala Púrpura do palácio, destinada ao parto dos bebés reais, para que os que ali nascessem viessem à luz envoltos na cor púrpura, símbolo do seu destino imperial. Era também meia-irmã de Honorio, designado aos 11 anos de idade, como Imperador Romano do Ocidente, e de Arcádio, futuro imperador romano do Oriente.
Pouco mais de meio século depois, em 450, falece em Roma, sendo-lhe administrados os últimos sacramentos pelo próprio Papa Leão I, que se deslocou ao palácio para a receber em confissão. O seu corpo esteve exposto num catafalco, para que tanto a nobreza como o povo pudessem prestar as últimas homenagens à sua imperatriz.
E, no entanto, no decurso destes 58 anos, a sua vida foi tudo, menos monótona.
Embora nascida na capital do Império Romano do Oriente, a princesa foi prometida a Euqério, filho do general Estilicão e de Serena, sobrinha do imperador Teodósio I, a quem foi entregue a sua educação, vindo então para Roma.
Depois do assassinato de Estilicão, seguida da morte do seu filho, continua em Roma, onde juntamente com todo o Senado vota a execução da sua prima Serena. Desconhecem-se as razões que a levaram a este acto. Em 410 assiste ao saque da cidade feita pelo rei godo, Alarico, que dura seis dias.
Quando finalmente Alarico dá ordem de marcha às suas tropas, para sul, no seu enorme espólio de guerra, além do sagrado candelabro judeu de sete braços e a mesa de Salomão, retirados séculos atrás do Templo de Jerusalém pelo imperador Tito, iam milhares de prisioneiros, entre eles a própria irmã do imperador romano, Gala Placidia, convertida assim em moeda de troca.
Mas Alarico morre nesse mesmo ano, e o seu sucessor, o seu cunhado Ataúlfo, cujo plano consistia em revigorar o Império com a força dos visigodos, assimilando a cultura, costumes e leis romanas, faz um acordo com o imperador Honório, estabelecendo-se no sul das Gálias, onde ajudaria o general romano Constâncio, a pôr um pouco de ordem no caos que se tinha instalado naquela região, em troca de terras e alimentos para o seu povo e a devolução da irmã de Honório, desejada pelo general para sua esposa.
Não nos podemos esquecer que era através da união com as princesas imperiais, que mais facilmente se chegaria ao poder!
Honório, não conseguiu cumprir o tratado, e Ataúlfo não consentiu na devolução da princesa, por quem entretanto se tinha apaixonado. Instigado pelo seu general, o imperador decidiu retomar a irmã pela força, declarando a guerra. Derrotado em Marselha, Ataúlfo marcha para sul, conquistando várias cidades e dominando completamente a região da Aquitânia em 413. Em Janeiro de 414, desposa Gala Placídia, numa boda magnífica ao estilo romano em Narbona, embora segundo alguns historiadores, desde 411 tenham deixado de ser apenas captor e cativa.
Mas a viva rejeição do imperador por este consórcio, que ele achava degradante, e os ciúmes de Constâncio, fazem com que o imperador conceda a este a mão da irmã, desde que vença os bárbaros.
Entretanto recolhida em Barcino (Barcelona), Gala espera o seu primeiro filho, que nasce em princípios de 415, e a quem dão o nome do seu avô materno, Teodósio. Uma vez que Honório não tinha descendentes, este menino era agora o único herdeiro do Império Romano do Ocidente, trazendo consigo a esperança de uma reconciliação. Mas o imperador nem quer ouvir falar disso, e a criança, morrendo poucas semanas após o seu nascimento, traz de novo a tranquilidade à Corte romana.
Em Agosto de 415, Ataúlfo é assassinado e a princesa, que em pouco tempo ficara sem marido e sem filho, é vista por uma parte dos godos, como a causadora de tanta desgraça.
O novo rei é Vália, irmão do falecido, mas rapidamente destronado por Sigerico, cujo reinado dura apenas uma semana, antes de ser por sua vez, assassinado também. Chega, no entanto, para mandar executar os seis filhos vivos de Ataúlfo, frutos do seu primeiro casamento, virando-se depois contra a sua viúva.
Humilhada e insultada frente à populaça, Gala foi submetida a vários castigos; um deles consistiu em caminhar quilómetros juntamente com as escravas, durante mais de vinte e quatro horas, sob o olhar atento de Sigerico, que a seguia, montado num cavalo, poucos metros atrás. Terminada a marcha, a princesa caía no chão, completamente esgotada, no meio das risadas trocistas da guarda pessoal do rei. Tinha vinte e cinco anos.
Felizmente para ela, o seu cunhado Vália recupera o trono, e em 416, devolve Gala Placídia em troca de 600.000 moios de trigo, o que era considerado uma grande fortuna para a época.
De volta à família, leva consigo a sua guarda pessoal goda que sempre a acompanhou desde os tempos de Ataúlfo, e de que nunca se separa, sendo imediatamente casada com o general Constâncio. Desta união nascem, uma filha chamada Honoria, em 418, e no ano a seguir, o futuro imperador romano Valentiniano III. Com a sua influência, consegue que o seu marido, em 421 seja nomeado co-imperador, com o nome de Constâncio III, governando o império junto com Honório, que continuava sem descendência, tendo ela sido elevada à posição de Augusta.




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