domingo, 6 de fevereiro de 2011

Os Bárbaros – II

Saque de Roma por Genserico


As primeiras populações germânicas que se estabeleceram no território imperial, não tinham qualquer vontade de se livrarem de Roma. Queriam principalmente terras de cultivo e tentaram uma coexistência pacífica. Mas os romanos tinham uma profunda repugnância por estes bárbaros, que se vestiam de peles de animais, eram barulhentos, e, como no caso dos Burgúndios, cheiravam à manteiga rançosa com que untavam os cabelos. Impuseram por isso aos seus vizinhos uma barreira de desprezo e exclusão social, aproveitando-se deles quando eram necessários para defenderem as suas fronteiras, e esquecendo-se depois dos pagamentos acordados.
Estes bárbaros, servindo muitas vezes como mercenários, ou como aliados, foederati, sujeitos a tributo e serviço militar, absorvendo a cultura romana, e estreitando os laços com o Império, nem sempre coexistiram de maneira pacífica…Que o digam as três legiões de Quintilius Varrus, completamente desbaratadas na floresta de Teutoburgo, ou a derrota de Roma na batalha de Andrinopla, onde o imperador Valente e os seus generais morreram queimados na cabana onde se tinham refugiado!
O seu carácter belicoso e a sua permanente necessidade de armas fizeram com que se tornassem hábeis metalúrgicos, sendo as suas espadas, endurecidas pelo tratamento com azoto, extremamente mortíferas. Combatiam a cavalo, tal como o povo das estepes, com quem tinham privado, sendo exímios cavaleiros e peritos no manejo das armas. Também na agricultura, o seu arado, mais pesado, com revestimento de ferro e lâminas cortantes, permitia trabalhar melhor o solo em profundidade, ao contrário do romano, mais leve, contribuindo assim para melhorar as colheitas. Como era equipado de rodas, a sua deslocação tornava-se fácil.
No sec. IV convertem-se ao cristianismo de tendência ariana, através do monge Úlfilas, filho de cristãos da Capadócia, que traduziu a Bíblia para a sua língua natal para melhor os poder evangelizar.
E assim, a um ritmo de infiltração lenta e progressões pacíficas, ou de invasões declaradas com lutas e massacres sanguinários, os Germanos bárbaros vão tomando por dentro e por fora, um Império em franca derrocada, principalmente depois da sua divisão em Oriente e Ocidente.
Por esta altura, os germanos já não eram assim tão bárbaros…Eram beligerantes, com uma elite governante dedicada à guerra e formavam tecidos sociais coesos. Embora alguns combatessem o Império, outros, como mercenários ao serviço dos imperadores, e com o ouro ganho, compravam villas, jóias e cavalos, e acabaram muitos deles integrando a elite dirigente romana. Armínio, que no ano 9 d.C., ganhou a batalha de Teutoburgo, chamava-se Caio Júlio Armínio e era um cavaleiro romano, além de chefe dos queruscos. Alarico, que saqueou Roma em 410, tinha sido nomeado magister militum romano e era também chefe dos visigodos.
O célebre general Estilicão, chefe dos exércitos romanos no tempo do Imperador Honório, era um vândalo, e Teodorico, um ostrogodo que fundou o primeiro reino romano-bárbaro em Itália, tinha sido educado na corte de Constantinopla, e feito cônsul pelo próprio imperador do Oriente.
A política romana de levar para Roma como reféns, os filhos dos chefes subjugados, para os manter sossegados, e também para que mais tarde estes mesmos jovens, já educados pelo Império, ocupassem o lugar dos seus pais, à frente dos seus povos como aliados, era muitas vezes o que se pode chamar “um pau de dois bicos”…
Na sua maioria, mesmo romanizados, continuavam a manter o seu vestuário de peles, e desprezavam a toga romana. Para eles, morrer em combate era a máxima glória, a morte por acidente ou doença era ignominiosa.
Entretanto, Vândalos, Suevos e Alanos, transpõem os Pirinéus e apoderam-se da Península Ibérica, onde se combatem uns aos outros pelo domínio da mesma. Os Alanos, descritos como belos, de porte nobre, olhos penetrantes e cabelos moderadamente louros, eram considerados dos mais ferozes, praticavam o escalpe de guerra, guardando os crânios do inimigo como taças para brindes rituais. Dos Vândalos, ficou-nos o termo “vandalismo”, que chega para dar uma ideia da sua crueldade…
Expulsos da Península por Ataúlfo, chefe dos visigodos e cunhado do imperador Honório, encarregado de pacificar a Península, unem-se aos Vândalos, sob o comando de Genserico que os conduz para o Norte de África. Expulsando os romanos das suas terras de Cartago, funda ali um reino, aliando-se às tribos mouras da região. Foi durante o cerco a que submeteram a cidade de Hipona, em 430, que morreu Santo Agostinho, bispo da cidade e célebre doutor da Igreja. Em 455, saqueia Roma levando tudo o que pode, incluindo a viúva do imperador e as suas duas filhas!


Sem comentários:

Enviar um comentário