Página do saltério de Ingeborg da Dinamarca de c.1200, Chantilly, Museu Condé
Ingeborg, também chamada de Ingerburga ou Isambur, era filha de Valdemar, O Grande, da Dinamarca, e da sua esposa Sofia de Minsk. Irmã do rei Canuto VI e de Valdemar II, nasceu cerca de 1175 e a 15 de Agosto de 1193 casa com um dos reis mais poderosos da Idade Média, Filipe II, de França, de 28 anos de idade, cognominado “A Dádiva de Deus” e mais tarde de “Augusto”.
Já viúvo de Isabel de Hainaut, Felipe Augusto tinha apenas um filho varão, o futuro Luís VIII, que na altura contava apenas três anos de idade e era de saúde débil. O rei necessitava portanto de um novo casamento que lhe desse mais herdeiros para assegurar a sucessão, e por razões políticas escolhe Ingeborg, pensando que numa possível invasão à Inglaterra poderia contar com o precioso auxílio da frota dos antigos vikingues.
Os cronistas gabam a beleza desta princesa que trouxe como dote 10.000 marcos de prata, e o bispo Estevão de Tournai descreveu-a como” muito gentil, jovem na idade, mas anciã na sabedoria”.
Casam em Amiens, mas após a noite de núpcias o rei tomou por ela tal aversão, que adiando a coroação da rainha, a encerra no mosteiro de Saint-Maur-des-Fossés, repudiando-a e anunciando que queria anular o matrimónio. As razões de tal aversão e repúdio até hoje não estão totalmente esclarecidas, mas tudo aponta para uma trágica incompatibilidade física. Encarregou depois alguns dos seus confidentes de elaboraram uma árvore genealógica em que se provasse que ela ainda seria parenta em quarto grau da sua 1ª mulher, e sem que a rainha fosse sequer ouvida, uma Assembleia dos Notáveis, constituída por bispos e nobres, obedecendo às ordens do monarca, declarou o casamento nulo em Compiégne, a 5 de Novembro de1193.
A rainha não aceita a decisão e apela para Roma. Celestino III tenta ajudá-la e o bispo Guilherme de Paris intervém apresentando uma genealogia dos reis da Dinamarca, provando que o obstáculo da consanguinidade não existia. Filipe Augusto pede ao Papa a anulação do casamento com base na não consumação do mesmo, mas Ingeborg afirma o contrário dizendo-se esposa do rei e rainha por direito.
Em 1196 o monarca francês casa com Inês de Meran, filha do duque da Merânia, Berthold IV, que lhe dará três filhos. Em 1198, sobe ao trono o Papa Inocêncio III, um dos pontífices mais enérgicos da história da Igreja, que pretendendo impor a sua vontade, não reconhece a validade do terceiro casamento do rei e exorta-o a reconduzir Ingeborg, presa entretanto na Torre de Guinette, no castelo de Étampes, à dignidade de rainha. Como o rei não obedecesse, o Papa lança o interdito sobre o reino de França, como castigo dos pecados do rei, em 1200.
O interdito implicava, entre outras medidas, o encerramento das igrejas, a proibição de celebrar missas pelos mortos e de lhes dar sepultura cristã. Não se podiam também realizar casamentos e baptizados.
Contrariado, ao fim de alguns meses, o rei cedeu, afastando Inês, que estava grávida, para o Castelo de Poissy, simulando uma aproximação a Ingeborg, sem no entanto reatar as relações conjugais. Após o levantamento do interdito, ao fim de sete meses, manda novamente encerrá-la na fortaleza e retoma a vida conjugal com Inês, continuando a tratar da anulação do casamento.
Da prisão, a infeliz rainha escreve numa carta ao Papa “ Todos os dias bebo o cálice da amargura. Ajudai-me para que não pereça – não no corpo, mas na alma – porque a morte corporal seria bem-vinda, mísera que sou”. Suplica que não a considerem adúltera por se ver obrigada a ceder – mulher sem defesa – às ameaças ou violências dos seus carcereiros. A entrega dos alimentos era escassa e irregular, e não lhe eram permitidas visitas.
Em 1201, seis meses depois de dar à luz o filho que esperava, Inês de Meran morre. Foi provavelmente a única mulher que Felipe Augusto amou realmente! Em 1207, Ingeborg é forçada pelo marido a professar num convento, mas o Papa não o permite. O rei tenta casar novamente, mas como não obtém apoios, desiste, e finalmente resignado, na Primavera de 1213, durante o casamento de sua filha, em Soissons, espanta toda a gente ao anunciar que retomaria a vida em comum com Ingeborg, de quem está separado há vinte anos. Ou porque reconhecesse que devido aos princípios religiosos da rainha nunca a levaria a fazer concessões, ou porque mantivesse a ideia de atacar a Inglaterra e necessitasse para isso da ajuda dos dinamarqueses, o que é certo é que finalmente a infeliz rainha viu abertas as portas da prisão ao fim de tantos anos de cativeiro e sofrimento… No entanto, a vida conjugal nunca foi retomada!
Retirada em Orleães, recebeu o título de Rainha de Orleães, dado pelos seus contemporâneos, que não sabiam que título lhe atribuir. Após a morte do marido em 1223, retirou-se para o priorado de Saint-Jean-de l’Ile que fundara próximo de Corbeil, onde passa o resto da sua vida e onde foi sepultada.
Morre aos 60 anos, em 29 de Julho de 1236, e nem a sua última vontade é respeitada…No seu testamento pede para ser sepultada na basílica de Saint-Denis, panteão dos reis de França, o que lhe é negado por Luís IX, neto de Filipe Augusto, tanto por respeito pela vontade do seu avô, como pelo facto de nunca ter sido sagrada rainha…
E no entanto, poucas terão sofrido tanto tempo, com tanta persistência e fidelidade!
Fontes: pt.wikipedia.org
Grinberg, Carl – História Universal
Ingeborg, também chamada de Ingerburga ou Isambur, era filha de Valdemar, O Grande, da Dinamarca, e da sua esposa Sofia de Minsk. Irmã do rei Canuto VI e de Valdemar II, nasceu cerca de 1175 e a 15 de Agosto de 1193 casa com um dos reis mais poderosos da Idade Média, Filipe II, de França, de 28 anos de idade, cognominado “A Dádiva de Deus” e mais tarde de “Augusto”.
Já viúvo de Isabel de Hainaut, Felipe Augusto tinha apenas um filho varão, o futuro Luís VIII, que na altura contava apenas três anos de idade e era de saúde débil. O rei necessitava portanto de um novo casamento que lhe desse mais herdeiros para assegurar a sucessão, e por razões políticas escolhe Ingeborg, pensando que numa possível invasão à Inglaterra poderia contar com o precioso auxílio da frota dos antigos vikingues.
Os cronistas gabam a beleza desta princesa que trouxe como dote 10.000 marcos de prata, e o bispo Estevão de Tournai descreveu-a como” muito gentil, jovem na idade, mas anciã na sabedoria”.
Casam em Amiens, mas após a noite de núpcias o rei tomou por ela tal aversão, que adiando a coroação da rainha, a encerra no mosteiro de Saint-Maur-des-Fossés, repudiando-a e anunciando que queria anular o matrimónio. As razões de tal aversão e repúdio até hoje não estão totalmente esclarecidas, mas tudo aponta para uma trágica incompatibilidade física. Encarregou depois alguns dos seus confidentes de elaboraram uma árvore genealógica em que se provasse que ela ainda seria parenta em quarto grau da sua 1ª mulher, e sem que a rainha fosse sequer ouvida, uma Assembleia dos Notáveis, constituída por bispos e nobres, obedecendo às ordens do monarca, declarou o casamento nulo em Compiégne, a 5 de Novembro de1193.
A rainha não aceita a decisão e apela para Roma. Celestino III tenta ajudá-la e o bispo Guilherme de Paris intervém apresentando uma genealogia dos reis da Dinamarca, provando que o obstáculo da consanguinidade não existia. Filipe Augusto pede ao Papa a anulação do casamento com base na não consumação do mesmo, mas Ingeborg afirma o contrário dizendo-se esposa do rei e rainha por direito.
Em 1196 o monarca francês casa com Inês de Meran, filha do duque da Merânia, Berthold IV, que lhe dará três filhos. Em 1198, sobe ao trono o Papa Inocêncio III, um dos pontífices mais enérgicos da história da Igreja, que pretendendo impor a sua vontade, não reconhece a validade do terceiro casamento do rei e exorta-o a reconduzir Ingeborg, presa entretanto na Torre de Guinette, no castelo de Étampes, à dignidade de rainha. Como o rei não obedecesse, o Papa lança o interdito sobre o reino de França, como castigo dos pecados do rei, em 1200.
O interdito implicava, entre outras medidas, o encerramento das igrejas, a proibição de celebrar missas pelos mortos e de lhes dar sepultura cristã. Não se podiam também realizar casamentos e baptizados.
Contrariado, ao fim de alguns meses, o rei cedeu, afastando Inês, que estava grávida, para o Castelo de Poissy, simulando uma aproximação a Ingeborg, sem no entanto reatar as relações conjugais. Após o levantamento do interdito, ao fim de sete meses, manda novamente encerrá-la na fortaleza e retoma a vida conjugal com Inês, continuando a tratar da anulação do casamento.
Da prisão, a infeliz rainha escreve numa carta ao Papa “ Todos os dias bebo o cálice da amargura. Ajudai-me para que não pereça – não no corpo, mas na alma – porque a morte corporal seria bem-vinda, mísera que sou”. Suplica que não a considerem adúltera por se ver obrigada a ceder – mulher sem defesa – às ameaças ou violências dos seus carcereiros. A entrega dos alimentos era escassa e irregular, e não lhe eram permitidas visitas.
Em 1201, seis meses depois de dar à luz o filho que esperava, Inês de Meran morre. Foi provavelmente a única mulher que Felipe Augusto amou realmente! Em 1207, Ingeborg é forçada pelo marido a professar num convento, mas o Papa não o permite. O rei tenta casar novamente, mas como não obtém apoios, desiste, e finalmente resignado, na Primavera de 1213, durante o casamento de sua filha, em Soissons, espanta toda a gente ao anunciar que retomaria a vida em comum com Ingeborg, de quem está separado há vinte anos. Ou porque reconhecesse que devido aos princípios religiosos da rainha nunca a levaria a fazer concessões, ou porque mantivesse a ideia de atacar a Inglaterra e necessitasse para isso da ajuda dos dinamarqueses, o que é certo é que finalmente a infeliz rainha viu abertas as portas da prisão ao fim de tantos anos de cativeiro e sofrimento… No entanto, a vida conjugal nunca foi retomada!
Retirada em Orleães, recebeu o título de Rainha de Orleães, dado pelos seus contemporâneos, que não sabiam que título lhe atribuir. Após a morte do marido em 1223, retirou-se para o priorado de Saint-Jean-de l’Ile que fundara próximo de Corbeil, onde passa o resto da sua vida e onde foi sepultada.
Morre aos 60 anos, em 29 de Julho de 1236, e nem a sua última vontade é respeitada…No seu testamento pede para ser sepultada na basílica de Saint-Denis, panteão dos reis de França, o que lhe é negado por Luís IX, neto de Filipe Augusto, tanto por respeito pela vontade do seu avô, como pelo facto de nunca ter sido sagrada rainha…
E no entanto, poucas terão sofrido tanto tempo, com tanta persistência e fidelidade!
Fontes: pt.wikipedia.org
Grinberg, Carl – História Universal
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