quarta-feira, 18 de maio de 2011

“A Sagração da Primavera"


Também chamada de “Alegoria da Primavera”, esta obra de Sandro Botticelli trabalhada em têmpera sobre madeira, mede 203cm x 314cm e faz parte do acervo da Galeria Uffizi, em Florença.
Considerado como um dos quadros mais populares da arte ocidental e talvez um dos mais controversos, pensa-se que terá sido encomendado por Lorenzo di Pierofrancesco de Medici, para figurar numa sala adjacente à câmara nupcial da sua casa em Florença.
Nesta tela, Flora, a deusa da Primavera, mostra o jardim de Vénus, a deusa do amor. Mercúrio, o mensageiro dos deuses (filho da deusa Maia, que deu origem ao nome do mês de Maio, o mês em que Pierfrancesco se casou), e que se reconhece pelas suas botas aladas, afasta com o seu caduceu as nuvens para que nada possa ensombrar o jardim da deusa, onde deverá reinar uma paz eterna. Como guardião do bosque, traz uma espada embainhada, mas pronta para ser usada, pois a sua mão encontra-se muito perto do punho do sabre. O seu caduceu, símbolo dos médicos, é uma alegoria ao próprio nome Medici, que significa médico. Diz-se que o modelo foi o próprio Pierfrancesco, ou então Giuliano de Medici.
O grupo das três bailarinas junto do deus representam as três Graças, Aglaia (a claridade), Eufrosina (a alegria) e Tália (a que faz brotar as flores), o nome latino das Cárites gregas, deusas da dança, também associadas à fertilidade e à alegria do amor. Consideradas companheiras de Vénus, personificavam na altura do Renascimento, o ideal da beleza feminina dessa época. As duas dançarinas de frente para a tela usam jóias com as cores dos Médici.
Ao centro da tela, um pouco atrás, está Vénus, a soberana do bosque, presidindo à cena, com a mão direita erguida como uma bênção. Usa o toucado característico de uma florentina casada, apresentando-se aqui como a Vénus Pandemos, encarnando o “amor humano”. Á sua volta, as laranjeiras, símbolo de fertilidade, formam um arco quebrado com a forma de dois olhos. Os seus frutos, redondos e doirados, lembram os anéis do brasão dos Médici.
O modelo foi, em princípio, Simonetta Vespucci, considerada a mais bela mulher de Florença, e mais tarde, de todo o Renascimento, embora quando o quadro foi terminado em 1482, ela já tivesse falecido em 1476, de tuberculose pulmonar, com apenas 22 anos. Quando em 1510 Botticelli faleceu, pediu para ser sepultado aos seus pés.
Voando junto às árvores, está Eros, usando a tradicional venda nos olhos (o Amor é cego), que aponta uma seta a arder com as chamas do amor, para uma das três Graças, a do centro, que segundo alguns autores, é a própria noiva de Pierfrancesco, Semiramide d’Appiano, com quem casou em 1482. Despreocupada, esta vira-lhe as costas, fitando Mercúrio que ocupado em afastar as nuvens, nem sequer repara nela.
Equilibrando a composição, está Flora, a deusa das Flores, Rainha da Primavera e portadora da vida eterna. Atravessa em bicos de pés o prado florido, espalhando rosas à sua volta. O seu vestido está decorado com flores salientes a imitar tecido. As duas personagens junto dela, uma ninfa apavorada com flores a saírem-lhe da boca, perseguida por um ser alado de cor azulada, são Zéfiro e Clóris, ou seja, a representação de Flora antes de ser deusa.
Botticelli passa para a tela o conto de Ovídio sobre a Primavera, representando a deusa em dois momentos distintos da sua existência, daí a diferença das vestes das duas mulheres. Clóris era uma ninfa por quem Zéfiro, o Vento Oeste, se apaixonou violentamente. Na pintura, ele é a figura alada de cor azul, dobrando as árvores com o seu sopro, ao tentar agarrá-la. A ninfa, representa aqui o principio da primavera, pois ao exclamar fugindo: “Eu era Clóris, a quem chamam Flora” deixa sair flores da sua boca. Zéfiro, depois de a raptar, casa com ela e arrependido dos seus modos brutais, transforma-a em Flora, a deusa das flores e da Primavera.
Nesta tela, estão retratadas cerca de 500 plantas identificadas, com cerca de 190 flores diferentes, possivelmente também uma homenagem a Florença, a cidade das mil flores.
Para esta pintura, Botticelli inspirou-se na descrição do poeta Ovídio sobre a chegada da Primavera, embora alguns detalhes possam ser derivados de um poema de Poliziano. Outra fonte parece ter sido Lucrécio, no poema “Natura Rerum De”. Seja como for, a pintura foi inventariada na colecção de Lorenzo di Pierfrancesco de Medici, em 1499. Em 1919 foi para a Galeria Uffizi, em Florença, mas durante a Segunda Guerra Mundial, transferiram-na para o Castelo de Montegufoni, como protecção para os bombardeamentos. Foi depois devolvida à galeria, onde permanece até hoje, tendo sofrido uma obra de restauro em 1982.

Fontes: pt.wikipedia.org
As Grandes Civilizações – A Europa do Renascimento, Selecções Reader’s Digest
Cumming, Robert – Comentar a Arte

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