terça-feira, 3 de maio de 2011

Panteão de Santa Engrácia – II


Em Agosto de 1682, o príncipe regente D. Pedro, futuro D. Pedro II, lança a primeira pedra de uma nova igreja para ser edificada de raiz, com projecto da autoria do mestre pedreiro João Antunes, um dos grandes mestres do barroco português de Setecentos, que dirige as obras, até à sua morte em 1712.
O risco de João Antunes tira partido da desafogada situação paisagística do sítio, a meio da encosta defronte do Tejo, e constitui a primeira obra do barroco em Portugal. A planta é de um círculo inscrito num quadrado, ou seja, um círculo com quatro torres angulares quadradas, O seu interior em cruz grega com quatro braços de igual comprimento, terminados em semicírculos é banhado em luz, graças às janelas na base da cúpula e à clarabóia que iluminam os embutidos de mármore colorido que revestem paredes, capelas e o chão. A amplidão do espaço é valorizada pelos efeitos contrastantes do claro / escuro barroco. Embora nunca chegasse a abrir ao culto, conserva, sob a cúpula moderna, o espaço majestoso da nave, exibindo ainda um bonito órgão de tubos vindo da Sé Patriarcal e onde se pode apreciar a sumptuosidade joanina da sua talha dourada
A entrada faz-se através de um pórtico situado na fachada principal concebido pelo escultor barroco Claude Laprade e o exterior é marcado pela ondulação dos alçados com curvas e contracurvas e alternância de frontões que acentua o dinamismo exterior da massa arquitectónica. Decoram o edifício colunas de ordem dórica, jónica e compósita.
No reinado de D. João V, com o rei completamente ocupado com a construção do Convento de Mafra, as obras ficam praticamente paradas e a Confraria decide cobrir a igreja com uma cúpula de madeira que aí se manteve até ao sec. XX.
Com todas estas demoras, a imagem de Santa Engrácia foi levada para a Igreja do Paraíso, onde se celebrava o seu culto.
O terramoto de 1755 reduz a ruínas a Igreja do Paraíso e danifica também a de Santa Engrácia. Com toda uma cidade para reconstruir, estas obras ficam esquecidas, e o culto à Santa passa para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Porciúncula, na Calçada dos Barbadinhos, onde ainda hoje se celebra e que por isso também é conhecida como a Igreja de Santa Engrácia.
Com a extinção das Ordens Religiosas em 1834, a Igreja é entregue ao Exército, que a utiliza como quartel, depósito de material de guerra e fábrica de calçado e fecha a cúpula com uma tampa de ferro.
Com a queda da monarquia e implantação da Republica era necessário um panteão para albergar os túmulos dos Chefes de Estado, e o Governo lembrou-se de Santa Engrácia. Deram-lhe um arranjo e em 1916 foi declarada Panteão Nacional, por uma lei de 29 de Abril.
Já com o Estado Novo, Duarte Pacheco, o então Ministro das Obras Públicas resolve pôr termo à maldição, e em 1956 são aprovadas as novas obras de restauração, que lhe acrescentam uma abóbada com lanternim. De 1962 a 1966 são concluídas com o assentamento da cúpula projectada pelo arquitecto Amoroso Lopes e com a execução das estátuas de Santa Isabel e São Teotónio ladeando Santa Engrácia no pórtico da entrada, e as de Nuno Álvares Pereira, S. João de Brito, S. João de Deus e Santo António no interior do templo, da autoria de António Duarte.
A 7 de Dezembro de 1966 é finalmente inaugurado como Panteão Nacional, para o que aí trabalharam assiduamente 150 operários e técnicos a cargo do arquitecto Vaz Martins, responsável pelas obras, chegando a incorporar-se mais 30 homens para que terminassem no prazo estipulado. Era ponto de honra que fosse inaugurado no mesmo ano da Ponte sobre o Tejo, ex-António de Oliveira Salazar e hoje Ponte 25 de Abril.
Na nave encontram-se os cenotáfios de Luís de Camões, Nuno Álvares Pereira, Afonso de Albuquerque, Vasco da Gama, Infante D. Henrique e Pedro Álvares Cabral.
Os túmulos de João de Deus, Almeida Garrett, Guerra Junqueiro e Aquilino Ribeiro (este com alguma contestação, por estar alegadamente ligado ao regicídio) encontram-se na Sala dos Escritores, os dos Presidentes da República Manuel de Arriaga, Teófilo de Braga, Óscar Carmona, Craveiro Lopes, na Sala dos Presidentes, o do general Humberto Delgado sozinho numa outra sala, e o túmulo do presidente Sidónio Pais no mesmo espaço que fadista Amália Rodrigues (Sala da Língua Portuguesa), a única mulher até hoje a merecer esta honra e para quem a Assembleia da República decidiu encurtar para dois anos o prazo de quatro após a morte, para a transladação.
Com a lenda da maldição de Simão Solis terminarei a história do Panteão Nacional.

Fontes: www.monumentos.pt
www.igespar.pt
wikipedia.pt
Dias, Marina Tavares – Lisboa Misteriosa
Saraiva, José Hermano – Lugares Históricos de Portugal
Imagens: internet

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