quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Torneios Medievais – I


Num certo dia de 1180, ao pôr-do-sol, dir-se-ia que nos campos de Lagny-sur-Marne se tinha acabado de travar uma batalha. O terreno estava juncados de cadáveres, o sangue ensopava a terra e ouviam-se os gritos e gemidos dos feridos…
Mas na verdade, todo aquele aparato era o resultado de um dos mais deslumbrantes acontecimentos a que se poderia assistir na Idade Média: um torneio medieval!
Inventados na França, por volta do ano de 1060, em breve se estenderam a outros países, especialmente à Inglaterra, onde alcançaram o seu máximo esplendor durante o tempo dos reis cavaleiros, Henrique, o Jovem, Ricardo, Coração de Leão, e o irmão de ambos, Godofredo Plantageneta. Aberto também a escudeiros, o torneio permitia-lhes aperfeiçoarem-se nas armas, para mais tarde, talvez, poderem ser elevados a cavaleiros andantes, e para aqueles que já o eram, a possibilidade de encontrarem um grande senhor que os arregimentasse, ou um bom casamento.
Por serem muito dispendiosos, eram apenas convocados pelos ricos herdeiros dos grandes senhores feudais, que se desafiavam mutuamente, e os únicos que tinham dinheiro suficiente para poderem arregimentar e manter estas hostes numerosas de cavaleiros errantes.
Passatempo predilecto dos cavaleiros em tempo de paz, servia-lhes de treino para a prática da guerra, mas, ao contrário desta, era encarado como um desporto colectivo, codificado, onde os participantes eram voluntários, e os “pedidos de tempo” eram admitidos, para que homens feridos ou cansados pudessem abrigar-se dos ataques em refúgios invioláveis. Servia, às vezes, também, para no calor do enfrentamento, se praticarem actos de vingança pessoal, que todavia, eram condenados.
Tão violentos, perigosos e brutais como as batalhas, eram travados em campo aberto ou nos arredores de uma cidade, durante vários dias, onde duas hostes de combatentes “inimigas”, (que incluíam cavaleiros, escudeiros, arqueiros e infantes), disputavam esse espaço. Não era obrigatória a igualdade das forças em campo e nem todos combatiam a cavalo. Eram permitidos ataques frontais ou não, emboscadas ou simulações de fuga. Também não era condenável, que um grupo de homens perseguisse um adversário que se encontrasse isolado.
Obedeciam às regras estabelecidas pelo Código da Cavalaria, mas quando a carga degenerava naquilo a que se chamava uma mêlée, com cavaleiros rodopiando, uns ainda montados e outros já a pé, alguns esmagados pelos cascos dos cavalos, ou sufocados no interior dos elmos amolgados e braços decepados por espadeiradas desferidas às cegas, então o desportivismo podia degenerar rapidamente numa fúria sangrenta.

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