terça-feira, 3 de agosto de 2010

Grande Guerra II



Pormenor de um quadro existente no Museu Militar e pintado por Sousa Lopes
A Entrada de Portugal na GuerraA 9 de Março de 1916 a Alemanha declarou guerra a Portugal na sequência do apresamento de 70 navios alemães, a pedido do governo britânico, e que tinham procurado refúgio nos nossos portos, dada a nossa neutralidade, embora já em 1914 fossem enviadas para África tropas portuguesas em defesa das nossas colónias ameaçadas pelos Alemães, onde até 12 de Novembro de 1918 se combateu.
Já há um tempo que Afonso Costa, chefe do Partido Democrático no poder, insistia que o país deveria entrar na guerra, dada a necessidade de numa posterior conferência de paz defender o nosso direito às possessões coloniais de Angola e Moçambique, há muito cobiçadas pela Alemanha e pela Inglaterra, assim como pela necessidade que Portugal tinha de se afirmar externamente junto dos seus congéneres europeus e travar as ideias expansionistas da vizinha Espanha, reforçando a sua independência. Internamente, serviria para acalmar os partidos da oposição e obter o apoio popular para o seu governo, evitando um eventual golpe dos monárquicos para derrubar a Republica.
Em Março de 1917 partem os primeiros contingentes do Corpo Expedicionário Português para França, ficando sob o comando britânico e sendo colocados nas trincheiras junto ao rio Lys, na Flandres. Não o sabiam ainda, mas esperava-os o inferno…
Eram na sua maioria homens e rapazes analfabetos ou quase, arrebanhados nas cidades e campos, gente humilde sem nenhuma preparação militar e a quem, em cerca de nove meses de treino consideraram aptos para entrarem em guerra. As suas preocupações eram apenas acerca da família e do pouco que possuíam, como se pode ler nesta carta enviada por um soldado a sua mãe:
“Mãe. Afinal fez bem vendendo a nossa cabrinha, se precisava de comer. Eu bem sei o que lhe devo como filho e não me zango. Mas tenho muita pena, isso tenho. E às vezes ponho-me a lembrar que quando aí for já ela não vem da horta, entrando em casa, para me comer à mão. A gente também ganha amizade aos animais. Mas não me zango, pois se era precisão…”
Em condições de combate extremamente duras como são as que resultam duma guerra de trincheiras, mal alimentados, suportando temperaturas que chegavam a atingir os 22 graus negativos no inverno, ainda tiveram humor suficiente para auto-denominarem o C.E.P. como “Carneiros de Exportação Portugueses”.
Depois de um ano sempre nas linhas da frente, sem serem substituídos nem terem direito a licenças, bombardeados com gases tóxicos e abandonados pelo governo de Sidónio Pais, o seu moral estava tão em baixo, que chegaram a amotinar-se, quando em Março de 1918, os alemães intensificarem os ataques.
No princípio de Abril, e com os homens completamente exaustos, foi decidido que a rendição das tropas portuguesas se efectuaria no dia 9. Tarde demais…
Na madrugada desse dia, teve início a chamada batalha de La Lys, onde logo no primeiro dia tivemos mil mortos. Numa ofensiva denominada de “Operação Georgette”, os alemães, debaixo de intenso nevoeiro, dispuseram uma barragem de artilhada composta por mais de mil peças de artilharia de alto calibre, numa frente de 15 kms., bombardeando ininterruptamente durante 2 horas, as trincheiras da 2ª Divisão Portuguesa, que era constituída por cerca de 22.000 homens. Lançaram em seguida um ataque com nove divisões de infantaria, que tomaram de assalto as posições do CEP. O resultado cifrou-se em cerca de 7.000 baixas, entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros.
Os sobreviventes foram incorporados no exército francês e também no britânico, sendo usados apenas como mão-de-obra para cavar trincheiras e abrir estradas. Quando a guerra terminou, um contingente português de 400 homens de infantaria, desfilou em Paris, na Festa da Vitória, passando sob o Arco do Triunfo.
Neste esforço de guerra, Portugal mobilizou cerca de 200.000 homens, distribuídos entre o CEP e os contingentes que foram para África, tendo sofrido cerca de 35.000 baixas entre mortos, desaparecidos e prisioneiros, e um número incontável de feridos e doentes (gaseados, inválidos, tuberculosos), que ao voltarem à Pátria encontraram um país completamente degradado tanto a nível económico como político. Além de ser um país pobre combatendo simultaneamente em três frentes, teve de fazer face a epidemias sucessivas de tifo, varíola e principalmente da pneumónica ou gripe espanhola que ceifou mais vidas do que aquelas que se tinham perdido na guerra.
Das várias razões porque entramos neste conflito, apenas ganhamos realmente o nosso direito de soberania sobre as colónias portuguesas, sendo-nos devolvida a ilha de Quionga, em Moçambique, que os alemães tinham ocupado, mas que em 1916, os portugueses tinham reocupado.
Os militares mortos em França, repousam no Cemitério Militar Português em Richebourg. Em 1928 foi aí inaugurado o Monumento de La Couture, representando a Pátria que empunha a espada de D. Nuno Álvares Pereira ao mesmo tempo que observa um soldado português lutando contra a morte.


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