segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Trovadorismo galaico-português II



Cantigas de amigo

As cantigas de amigo são um género único na lírica medieval, pois nelas o trovador assume a voz da mulher e canta as emoções que julga despertar na amiga. São de raiz popular, e representam possivelmente uma miscelânea das culturas árabes, mouras e cristãs presentes desde muito cedo na Península Ibérica. Alcançaram um prestígio tal, que foram adoptadas por trovadores de outras nacionalidades, que quiseram cultivar este género.
Embora postas um pouco à margem, com a ascensão de D. Afonso III ao trono português em 1247, que preferia a moda provençal, continuaram a ser cantadas principalmente pelo rei D. Dinis.

Cantiga de amigo de D. Sancho I dedicada a D. Maria Paes Ribeiro:

Ai eu coitada!
Como vivo em grande cuidado
Por meu amigo que ei alongado.
Muito me tarda
O meu amigo na Guarda!
Ai eu coitada!
Como vivo em grande desejo
Por meu amigo que tarda e não vejo!
Muito me tarda
O meu amigo na Guarda!

Uma cantiga de D. Dinis:

"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"


As cantigas de amor assim como as de escárnio e maldizer, já são de origem provençal.
Um exemplo de uma cantiga de amor é a Cantiga da Guarvaia (guarvaia era um manto luxuoso usado pela nobreza), de Paio Soares de Taveiró, que se pensa ser dedicada à célebre amante de D. Sancho I, D. Maria Paes Ribeira, a Ribeirinha, mas que parece ser mais do género de cantiga de escárnio:

CANTIGA DA GUARVAIA

No mundo non me sei parelha.
Mentre me foi como me vai,
Cá já moiro por vós – e ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraia
Quando vos eu vi em saia!
Mau dia me levantei,
Que vos entrou non si feia!
E, mia senhor, dês aquae di’ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paay
Moniz, e bem vos semelha
D’haver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, d’alfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia d’ua correa…

Fontes : Wikipédia

Historia de Portugal - José Hermano Saraiva, Ed. Alfa

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