D. Constança
Nascida para reinar, nunca chegou a ser rainha. Foi repudiada pelo primeiro marido, esteve duas vezes sequestrada, e o seu segundo casamento ficou manchado pelo sangue derramado para que pudesse ser libertada. Faleceu onze anos antes de D. Pedro subir ao trono, sem nunca ter sido amada, e traída tanto nos seus sentimentos, como na sua amizade. Quando morreu, depressa foi esquecida e ninguém a chorou. As lágrimas ficaram todas para chorar Pedro e Inês…
Filha de D. João Manuel, príncipe de Vilhena, e duque de Penafiel neto de Fernando III de Castela, e de sua mulher D. Constança, filha do rei Jaime II de Aragão, nasceu entre 1318-1320 e faleceu em 1345. Foi prometida com apenas seis anos de idade, ao senhor da Biscaia, D. João, o Torto, aliado de seu pai na guerra que este pretendia mover contra o rei de Castela, de quem tinha sido tutor e co-regente do reino, durante a sua menoridade.
Afonso XI, ao chegar aos 14 anos de idade, assumiu o trono e o poder, afastando o duque, que ferido no seu orgulho e nas suas ambições se revoltou. Mas o jovem rei era muito mais maquiavélico do que os seus inimigos pensavam, e usando de toda a sua astúcia, fez as pazes com D. João Manuel, pedindo-lhe a filha em casamento. Não podendo resistir a esta oferta, e imaginando-se já como pai da futura rainha, o príncipe concordou, o que levou o Senhor da Biscaia a sentir a sua vida em perigo, abandonando o reino.
E assim, com o primeiro noivado desfeito, D. Constança, em 1325 tem o seu 1º casamento ratificado pelas Cortes de Valladolid, seguindo para os paços reais, onde ficaria até atingir a idade própria para a consumação do casamento.
Mas o rei castelhano, ao sentir-se senhor da situação, resolve casar antes com a infanta D. Maria, filha do rei D. Afonso IV de Portugal e repudia D. Constança fazendo-a prisioneira no Castelo de Toro durante 4 anos, para evitar as represálias do seu pai, sendo enviada de volta à casa paterna, teria já cerca de doze anos.
Humilhada por esta rejeição e sofrendo ainda do desgaste causado pelos anos em que temeu pela própria vida, D. Constança leva uma vida de isolamento, É mais ou menos nesta altura que Inês de Castro entra na sua vida. Filha bastarda de D. Pedro de Castro, o da Guerra, ainda aparentado com D. João Manuel, vai para junto de D. Constança como dama de companhia, tornando-se rapidamente em amiga e confidente.
Em 1336 é-lhe arranjado o casamento com o infante D. Pedro, herdeiro do trono português, mas Afonso XI de Castela, descontente com esta aliança, consente no casamento por procuração, que é realizado em Évora, no Convento de S. Francisco, mas não permite que a noiva saia de Castela. Esta resolução origina uma guerra entre o rei castelhano e D. Afonso IV, que já andava agastado com o genro, devido aos maus tratos que este dava a sua mulher, e que se arrasta até 1339, com derrotas e vitórias para ambos os lados. É para tentar resolver este conflito, que a Rainha Santa Isabel acabada de chegar de uma peregrinação a Santiago de Compostela, se mete novamente a caminho de Castela, mas alquebrada e envelhecida, adoece gravemente e morre no castelo de Estremoz, sem conseguir o que pretendia.
Após várias negociações, o rei castelhano concorda com a saída da nova infanta portuguesa, que finalmente em 1340 casa de facto com o infante D. Pedro, em Lisboa. Inês de Castro fazia parte do seu séquito e durante estes anos tinha-se tornado numa belíssima donzela, de cabelos loiros e olhos verdes. Chamavam-na de “colo de garça”, devido à esbeltez do seu pescoço.
D. Pedro embora fosse gago, era um homem alto, atraente por quem D. Constança, tão falta de afecto, provavelmente se apaixonou. Tinha finalmente um marido, um lar e num futuro próximo, uma coroa de rainha…
Ao princípio tudo corre bem, o infante não ama, mas respeita a mulher cumprindo com os seus deveres conjugais, e em 1342, nasce a primeira filha do casal, a infanta D. Maria. No entanto, depressa D. Constança se apercebe que D. Pedro está apaixonado por Inês de Castro, a sua amiga preferida, e diplomaticamente convida esta para madrinha do seu segundo filho, o pequeno D. Luís, convencendo-se que através deste parentesco religioso, acabaria com aquela paixão nascente.
De acordo com as leis canónicas da altura, qualquer relação amorosa entre compadres, seria considerada incestuosa.
Infelizmente a vida do pequeno infante durou apenas oito dias, e Pedro sente-se livre para assumir a sua paixão por Inês, embora mantendo um relacionamento estável com a esposa. É então que D. Afonso IV intervém e exila a dama galega em Albuquerque, na fronteira, para evitar o escândalo e evitar assim mais sofrimentos à nora. Esta ausência forçada ainda aumenta mais a paixão do infante, que se corresponde secretamente com Inês.
Com este desterro D. Constança tem um pouco mais de tranquilidade, mas sofrendo bastante com os partos e com o ânimo já gasto por tantos desgostos, morre em 1345, com 25 ou 27 anos de iade, depois de dar à luz em Coimbra o infante D. Fernando, em 1345, cumprindo assim a sua obrigação de dar um herdeiro ao trono.
Foi sepultada na igreja de S. Domingos em Santarém, tendo o seu corpo sido mais tarde trasladado para a igreja do Mosteiro de S. Francisco, por ordem de seu filho, o rei D. Fernando, que também lhe mandou fazer uma arca tumular, hoje no Museu do Carmo, mas danificada e vazia.
Luís de Camões dedicou-lhe um triste e lindo soneto:
Chegara a Portugal D. Constança
E com ela a formosa Inês de Castro
De olhos verdes em rosto de alabastro
Gentil colo de garça e loira trança.
É a esposa esquecida e sem tardança
D. Pedro segue, fascinado, esse astro
De amor fatal cujo sangrento rastro
Ficou na História em trágica lembrança.
E não sei qual foi mais desgraçada,
Se a zelosa esposa desdenhada
Se a desditosa e sedutora amante…
Mas Constança, acredito, preferia
Ter a morte de Inês – morte sombria
E ser amada ao menos um instante!
Fontes: Benevides, Francisco Fonseca – Rainhas de Portugal
Wikipédia
Camões, Luís - Sonetos