segunda-feira, 6 de setembro de 2010

D. Mafalda


Filha de D. Sancho I e da rainha D. Dulce nasceu cerca de 1200 e faleceu em 1256. Frei António Brandão diz que “foi esta princesa uma das filhas de el-rei D. Sancho em a qual concorreram mais perfeições naturais e de graça”, o que quer dizer que seria formosa e alegre.
Foi educada por D. Urraca Viegas, de Tuias, filha de D. Egas Moniz, que lhe deixou todos os bens quando morreu. Casada em 1215 com o rei Henrique I, de Castela, de apenas 12 anos, o casamento nunca foi consumado, pois a irmã do noivo, regente do reino e contrária a este enlace, pediu ao Papa a anulação do matrimónio invocando a consanguinidade dos nubentes, no que foi atendida. D. Mafalda regressou então a Portugal, em 1217, intitulando-se rainha de Castela até ao fim da sua vida. O noivo morreu pouco tempo depois, aos 14 anos, atingido por uma telha que caiu, enquanto jogava com outros nobres.
Por legado de seu pai, e também da sua ama, recebeu D. Mafalda várias honras, e o padroado dos mosteiros de Arouca, Bouças e Tuias, assim como a posse do Castelo de Seia com o resto dos termos da vila e os rendimentos aí produzidos, podendo usar o título de rainha. Quando D. Afonso II subiu ao trono contestou os legados que o pai tinha deixado a suas irmãs, o que acabou em guerra civil, tendo o Papa Inocêncio III mediado o conflito.
Foi no mosteiro de Arouca que a infanta se recolheu, e professou, tendo chegado a abadessa. Devido à sua intervenção o mosteiro passou em 1220 da Ordem de S. Bento para a Ordem de Cister, tornando-se através da inteligente administração de D. Mafalda, num dos mais importantes conventos cistercienses em Portugal.
Dedicou-se a obras de caridade e fundou vários hospícios para pobres e peregrinos, e já em vida tinha fama de santidade, tanto pelas suas virtudes, como por ser também viúva e virgem. Devia estar perto dos sessenta anos quando faleceu a 1 de Maio de 1256 em Rio Tinto, onde tinha ido cobrar os foros e rendas devidos.
Conta a lenda que os habitantes de Rio Tinto queriam que ela fosse ali sepultada, mas os de Arouca discordavam, uma vez que ela tinha passado a sua vida no Mosteiro. Alguém então se lembrou de pôr o caixão no dorso da mulinha branca que a infanta sempre montava nas suas deslocações, e onde ela parasse aí seria enterrada D. Mafalda. A mula andou sem parar até chegar ao Mosteiro de Arouca, entrou na igreja, dobrou as patas dianteiras e caiu morta junto ao altar de S. Pedro. Há uma pintura no coro da igreja a recordar esta tradição.
No seu testamento doou todos os seus bens aos vários mosteiros e Ordens, e ao de Arouca, além dos bens materiais deixou também uma cláusula um tanto original: a cada sacerdote que aparecesse no mosteiro no dia do seu (dela) aniversário, ser-lhe-ia dado um tostão em dinheiro, um prato pequeno de ovos, outro de tremoços, uma queijada, um biscoito, uma talhada de pão leve, uma caixa pequena de marmelada, um prato de trutas, cinco pães de trigo, um sável e três canadas de vinho.
Ao fim de 500 anos, as freiras deitaram contas à vida e concluíram que esta cláusula se tornava demasiado dispendiosa e acabaram com ela. Mantiveram apenas as exéquias ditadas no testamento, com o cerimonial devido às rainhas de Espanha, com a coroa e o ceptro real.
O sepulcro foi aberto duas vezes no sec. XVII, encontrando-se o seu corpo incorrupto e as vestes intactas. Foi beatificada pelo Papa Pio VI em 1793 e é festejada no dia 2 de Maio pela Igreja Católica.
O corpo está guardado num urna de ébano em estilo rococó, decorada a prata e cobre dourado encimada por uma coroa real, e o brasão com as armas de Castela e Portugal. Foi desenhada pelo arquitecto portuense José Francisco de Paiva, por encomenda das freiras do mosteiro, tendo custado 2800$00 réis.
A sua imagem figura ainda hoje nas armas da vila de Arouca.


Fontes: Saraiva, José Hermano – Lugares Históricos de Portugal – Selecções do Reader’s Digest
As mais belas Igrejas de Portugal – Vol. 1, Editorial Verbo
Oliveira, Américo Lopes de – Dicionário de Mulheres Célebres – Lello & Irmão Editores

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