domingo, 26 de setembro de 2010

Lady Jane Grey – II

Hippolyte Delaroche, mais conhecido por Paul Delaroche, nasceu em Paris a 17 de Julho de 1797, numa família abastada. Determinado a tornar-se artista, ingressa no estúdio de Antoine-Jean Gros, e faz a sua estreia no Salão de Paris, em 1822 com duas telas tornando-se um dos pintores do romantismo mais conhecidos da primeira metade do sec. XIX, sendo também amigo de Gericault e Delacroix. Os seus quadros eram geralmente sobre temas históricos dramáticos, pintados com grande realismo, tão ao gosto popular e geralmente bastante grandes. Era rigoroso nos detalhes, mas por vezes, fugia um pouco à realidade histórica, a fim de enfatizar ainda mais o dramatismo da situação que descrevia nas telas.
Foi professor da Escola de Belas Artes de Paris, em 1832, e em 1835 casa-se com a filha única do pintor Horace Vernet, Anne-Louise, cujo falecimento em 1845, o deixou inconsolável.
Em 1833 pinta uma tela enorme de 2,51 x 3,02m “A execução de Lady Jane Grey”, que expõe em 1834, no Salão de Paris, alcançando tal sucesso que consegue ofuscar as obras presentes de pintores como Ingres e Delacroix , e que segundo rezam as crónicas da época, chegou a dar lugar a cenas bastante emotivas.
Após a sua morte, em 1856, os seus quadros caíram em esquecimento. Uns foram comprados para colecções particulares, e outros arrumados nos sótãos dos museus. O quadro “A execução de…” teve vários donos até ir parar em 1902 aos sótãos da National Gallery, em Londres, que em 1928 foram inundados por uma cheia do Tamisa e colocado numa lista de obras estragadas que não mereciam ser reparadas por não terem valor artístico. Por lá ficou e nos anos cinquenta foi inventariado como “destruído”. Em 1973, porém, foi novamente descoberto e acharam que afinal não estava assim tão danificado e poderia ser exposto. Embora a descrição que acompanhava o quadro fosse totalmente arrasador para o artista, o sucesso foi de tal ordem que poderia ter igualado o da sua primeira exposição no Salão de Paris.
Nesta pintura, Jane Grey, toda vestida de branco como as mártires, vendada e com os seus louros cabelos soltos, é auxiliada por alguém que lhe guia as mãos que tacteiam, a encontrar o cepo onde terá de pousar a cabeça. Á direita, o carrasco segurando o machado da execução, assiste à cena, impassível. O cepo está assente sobre palha, que se destina a absorver o sangue que será derramado. Do lado esquerdo, duas damas choram desconsoladamente. Toda a cena se passa dentro de uma cela, em que os tons escuros, ainda acentuam mais o dramatismo já de si grande do quadro, ao mesmo tempo que realçam a figura da adolescente prestes a ser morta.
Na realidade, e dado ser casada, Lady Jane nunca poderia estar vestida de branco. Os seus cabelos também não estariam soltos, pois o pescoço e parte do colo teriam de estar livres para o carrasco poder actuar. A execução, embora fosse privada, não foi feita numa cela, nem tão pouco Jane Grey alguma vez esteve numa. Tinha aposentos na Torre, conservando duas damas de companhia para a servirem e podia passear, no jardim. Embora tivesse sido deposta, era uma ex-rainha e Maria Tudor tratou-a com respeito até ao fim, como se pode deduzir pela própria ordem de uma execução privada, que obviamente não foi feita nos próprios aposentos.
Um cadafalso foi armado no interior do jardim da Torre, e Jane acompanhada pelas suas damas, guardas e pelo confessor da própria rainha Maria (não lhe foi permitido ser assistida por um pastor protestante), subiu os degraus onde o carrasco a esperava, e como a todos os condenados à morte, foi-lhe permitido fazer um pequeno discurso, assim como as suas orações. As suas damas ajudaram-na a alargar o vestido para que o pescoço ficasse exposto, e também como era costume, o carrasco ajoelhou-se à sua frente rogando-lhe que o perdoasse, ao que ela respondeu afirmativamente, pedindo depois uma venda. Como ao ajoelhar-se, as suas mãos não conseguissem encontrar o cepo por ter os olhos tapados, alguém (o confessor ou Sir John Bridges, o capitão da Torre), contra todas as regras, baixou-se e conduziu-lhe as mãos para o tronco. Apoiou o pescoço, disse as mesmas palavras que Jesus proferiu na cruz “Senhor, nas tuas mãos entrego a minha alma”, e o carrasco com um golpe decapitou-a.
Assim morreu aos 16 anos de idade, sem chegar a ser coroada, Jane Grey, a Rainha dos nove dias.

Fontes – História Y Vida, nº 505
pt.wikilingue.com
englishhistory.net

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