Rainha de Inglaterra por apenas nove dias em 1553, Lady Jane Grey nunca chegou a ser coroada. Na sua execução em 1554 exclamou: Quando me levaram ao trono, vi por detrás dele o cadafalso!
Nascida em Outubro de 1537, era a filha mais velha do duque de Suffolk e Marquês de Dorset Henrique Grey, e de Lady Frances Brandon, filha de Maria Tudor, irmã de Henrique VIII de Inglaterra. Lady Jane era portanto sobrinha-neta daquele monarca, e prima de Eduardo VI o príncipe reinante, assim como das suas meias-irmãs, Maria e Elizabeth, que por sua vez, também subiriam ao trono.
Bonita, culta e espirituosa, teve a educação esmerada que as mulheres Tudor recebiam, aprendendo latim, grego, francês italiano e hebraico com vários perceptores, entre eles o mesmo mestre da sua prima, a princesa Elizabeth, John Aymler, da Universidade de Cambridge, sendo uma protestante convicta. Era uma jovem sossegada, que não gostava das caçadas que faziam as delícias da aristocracia inglesa, preferindo ficar a ler Platão.
Quando seu pai recebeu o título de Duque de Suffolk, Jane veio para a Corte, onde passou um tempo junto de Catarina Parr, viúva do rei Henrique VIII, junto com sua prima Elizabeth, a futura rainha Isabel I.
Eduardo VI tinha nove anos de idade quando subiu ao trono, tornando-se o primeiro rei protestante da Inglaterra. Possuía uma saúde muito frágil, e devido à sua juventude, foi nomeado um Conselho de Tutores com 16 membros para assegurarem a regência até à sua maioridade, embora o governo estivesse efectivamente nas mãos do Lord Protector do Reino, o seu tio materno Edward Seymour, conde de Hertford, que ainda intentou casá-lo com Lady Jane, mas sem sucesso.
Em 1549, o duque de Northumberland, John Dudley, apoderou-se do poder, fez decapitar o conde de Hertford, por traição em 1552, e em 1553, estando já o rei muito doente, arranjou o casamento de Jane Grey, então com quinze anos, com o seu quarto filho, Guilford, a fim de evitar que Maria Tudor, a segunda na linha de sucessão, filha de Catarina de Aragão e uma católica militante, subisse ao trono, e preparar assim a sua própria linha dinástica.
Embora bastante contrariada, a jovem foi obrigada a contrair este matrimónio, pois seus pais estavam completamente de acordo com o duque. John Dudley, conseguiu que o rei já moribundo alterasse a ordem de sucessão à Coroa, reconhecendo Jane como sua herdeira presuntiva. Morto Eduardo VI, o duque manteve por alguns dias em segredo a sua morte, a fim de preparar a subida da nora ao trono, e prender Maria Tudor, que se refugiou no Castelo de Framlingham, em Suffolk, onde reuniu um exército. A 10 de Julho de 1553, Jane Grey foi declarada rainha de Inglaterra, mas o povo queria Maria, que fez a sua entrada triunfal no dia 19 do mesmo mês.
O Parlamento inglês declarou-a então Rainha de Inglaterra e revogou a coroação de Jane, que abdicou de muito bom grado. O trono nunca tinha sido a sua pretensão, pediu apenas que a deixassem voltar para casa, mas tanto ela como o seu marido, foram presos e encarcerados na Torre de Londres, sob a acusação de traição e John Dudley foi decapitado.
A nova rainha parecia no entanto disposta a perdoar a prima, consciente da sua inocência, mas em 1554, o anúncio do seu casamento com o católico Filipe de Espanha, fez reavivar novamente o conflito religioso latente entre católicos e protestantes originando uma rebelião liderada por Thomas Wyatt e na qual se juntaram vários nobres entre eles o pai e irmãos de Jane, pedindo a restauração desta como rainha. Embora nada tivesse a ver com esta revolta, foi condenada à morte, juntamente com o marido.
No dia 12 de Fevereiro de 1554, teve lugar a execução pública de Lord Guilford Dudley, e horas depois, em privado, a ex-rainha Jane era decapitada no interior da Torre de Londres. A execução privada foi um gesto de respeito de Maria para com a sua jovem prima. Tinha apenas 16 anos.
Está sepultada com o seu marido na Capela Real de St. Peter ad Vincula, na Torre de Londres, junto das rainhas Ana Bolena e Katherine Howard. A pedra tumular que ali se encontra, apenas lá foi colocada em 1870.
Há no entanto quem defenda, que como esta capela tinha sido novamente devolvida à Igreja Católica e o enterro de hereges no seu solo era expressamente proibida, (a rainha e o marido eram calvinistas), muito possivelmente ambos foram sepultados com Lord Grey, na Igreja da Holy Trinity Minorities, situada perto da Torre.
Em 1833, o francês Paul Delaroche pintou um quadro de grandes dimensões, intitulado “A execução de Lady Jane Grey”, que alcançou um sucesso tremendo, a quando da sua apresentação no Salão de Paris, em 1834, embora grande parte dos detalhes seja apenas imaginação do pintor.
Pormenor do quadro de Delaroche
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