domingo, 21 de novembro de 2010

Frei António das Chagas


Poeta português, de seu nome António da Fonseca Soares, nasceu na Vidigueira, Alentejo, em 1631, numa família fidalga. Seu pai era juiz de profissão, e sua mãe irlandesa.
Depois da morte do pai, alista-se no exército, combatendo nas Guerras da Restauração. Durante esta fase, entrega-se a todo o género de aventuras, cometendo excessos de vária ordem, devido ao seu temperamento impetuoso. Obrigado a fugir para o Brasil devido à morte de um seu rival num duelo, é neste período que desperta para a poesia, ficando conhecido por Capitão das Boninas. Em 1656 regressa a Portugal, retoma a carreira das armas, e é promovido a capitão em Setúbal, como reconhecimento do seu valor.
Aos 31 anos abandona a vida militar e ingressa na Ordem de S. Francisco, em Évora, dedicando o resto da sua vida à pregação da Fé, onde ganha grande fama devido ao seu modo pouco convencional de pregar. Teatral e irreverente como o classificou o Padre António Vieira, chegava mesmo a mostrar caveiras, a atirar o crucifixo para cima do auditório, ou a dar bofetadas em si próprio, desde que isso fizesse passar a sua mensagem de uma forma mais clara. Pregou por todo o país, assim como na Corte.
Como poeta, foi bastante conhecido, escrevendo nos mais diversos géneros poéticos: sonetos, madrigais, romances, décimas, glosas e dois poemas heróicos “Mourão Restaurado” e “Canto Panegírico à Vitória de Elvas”. A temática dos seus poemas centrava-se sobretudo na efeméride da vida, nos desenganos a que estamos sujeitos, mas também em assuntos de circunstância. Numa segunda fase, escreveu sermões, elegias, cânticos e cartas espirituais, entre outros. Os seus sermões estão reunidos em “Sermões Genuínos, (1690), e as cartas, consideradas a sua obra-prima, em “Cartas Espirituais”, (1ª parte, 1684; 2ª parte. 1687).
Tratado pelo singelo nome de “o fradinho”, passa a viver desde 1680 no Convento do Varatojo convertido em Seminário Franciscano por sua iniciativa, onde morre em 1682, no mesmo ano em que funda o Convento de Nossa Senhora de Brancanes, em Setúbal, também para formação de missionários franciscanos. Jaz em campa rasa no centro da sala do Capítulo.
É um dos grandes poetas do barroco português do sec. XVII, estando os seus poemas incluídos em quase todos os cancioneiros manuscritos dessa época, nomeadamente nos dois mais importantes. A Fénix Renascida e o Postilhão de Apolo. Na sua fase de religioso, escreveu:
Faíscas de Amor Divino (1683), Espelho do Espírito (1683),Obras Espirituais (1684), Cartas Espirituais (1684 e 1687), Escola de Penitência (1687), Sermões Genuínos (1690), Semana Santa Espiritual, Ramalhete Espiritual (1722).


Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta.
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...


www.agencia.ecclesia.pt
Enciclopédia do jornal “Público”, vol. 29
Pt.wikipedia.org

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