As ondas gigantescas do tsunami que se seguiu, chegaram a arremessar pedregulhos com cerca de 25 toneladas a mais de 27 metros terra dentro.
As comunidades estrangeiras foram seriamente afectadas tanto em vidas humanas como em bens materiais. Só os danos dos mercadores ingleses foram estimados entre os 6 e os 10 milhões de libras, os prejuízos dos espanhóis representaram um quinto de toda a despesa estatal do ano, havendo ainda a somar os prejuízos dos cidadãos alemães, italianos e franceses.
Mas não foi só em Lisboa que o terramoto e consequente tsunami se fizeram sentir. A costa do Algarve foi devastada e os portos arrasados, atingidos por uma onda de 30 metros de altura. Em Lagos morreu um em cada dez habitantes, e em Vila do Bispo, Boliqueime, Faro, Portimão, Silves, casas ruíram havendo também muitos mortos e feridos. Oeiras, Cascais, Ericeira, Peniche também sofreram danos e em Setúbal ao fim do dia tinham morrido 1.000 pessoas. Açores e Madeira também foram atingidos, havendo mortos a lamentar.
Em Madrid o abalo durou 5 ou 6 minutos, apavorando toda a gente, e em Sevilha todos os edifícios e templos ficaram danificados. Diversos locais em torno do golfo de Cádis foram inundados e a cidade registou pelo menos 200 mortos, valendo-lhe a forte protecção das suas muralhas quando uma onda de 18 metros de altura se abateu sobre ela. Salamanca, Valladolid e Palencia também sofreram sismos. No total, Espanha somou cerca de 5.300 mortos. No Norte da Europa, o abalo foi registado em Toulouse, Bordéus, Bretanha e Normandia; nos Alpes e em partes do Norte da Itália. Foi também sentido em Hamburgo, e em Inglaterra, na Cornualha, Irlanda e Escócia. No sul da Escandinávia também há registo do sismo.
Em Marrocos o sismo teve a intensidade de VII-IX na escala de Mercalli, e as cidades marroquinas de Fez e Meknès sofreram danos e perdas consideráveis, assim como Ceuta, Agadir, Salé e Tânger, havendo a registar cerca de 10.000 mortos. Locais tão longínquos como Antígua, Martinica e Barbados também foram afectados.
Durante os 365 dias que se seguiram ao terramoto, Lisboa sofreu cerca de 500 réplicas, sendo as de 8 de Novembro e 21 de Dezembro das mais violentas atingindo 7 na escala de Richter. Seis anos depois, outro terramoto violento deitou abaixo muito do que estava a ser reconstruído!
Pode imaginar-se o terror quase permanente em que a população vivia…
Quando no estrangeiro se soube do que acontecera, houve grande comoção principalmente nos meios financeiros, mas várias nações mandaram de imediato auxílio, tanto em bens alimentares, ferramentas, materiais de construção, etc., mas também dinheiro para ajudar na reconstrução da cidade e auxiliar os mais necessitados.
Foram de imediato tomadas medidas para restabelecer a ordem e reorganizar a vida da cidade. A seguir, o Marquês de Pombal meteu ombros à difícil tarefa de fazer renascer das tristes ruínas em que a cidade se tinha tornado, uma Lisboa renovada, que ainda hoje se mantém de pé, e que do alto do seu pedestal no parque Eduardo VII, ele contempla com orgulho…
O rei D. José I, só ao fim de vinte anos regressou a Lisboa, e apenas para inaugurar a sua estátua equestre na nova Praça do Comércio, vivendo sempre na Real Barraca, na Ajuda, feita de madeira…
Mas não foi só a terra que tremeu… O facto de o terramoto ter acontecido num dia santo destruindo tantas igrejas e conventos, num país extremamente católico como Portugal, onde um em cada seis habitantes vestia o hábito de religioso, e que alguém descreveu como “o país com mais padres do que qualquer outro no mundo, com a possível excepção do Tibete”, levantou muitas questões religiosas por toda a Europa, principalmente porque o clero português apoiado pelo Papa declarou que o sismo tinha sido um castigo Divino pelos pecados cometidos… Discutido largamente pelos filósofos iluministas como Voltaire, que lhe dedicou um poema de 180 versos, assim como por cientistas, teólogos e toda a camada intelectual da altura, abalou tão profundamente o pensamento europeu, que é visto como uma das datas de referência para o início da Idade Moderna.
A nível nacional foi igualmente devastador tanto na política como na vida sócio-económica e religiosa da sociedade portuguesa da época, que culminaria com a execução dos Távoras, a expulsão dos Jesuítas e a definitiva ascensão ao poder de Sebastião José de Carvalho e Melo, conde de Oeiras e futuro Marquês de Pombal.
Foi o terceiro sismo mais forte registado no mundo e o primeiro que pôde ser investigado” segundo linhas científicas modernas” lançando assim os fundamentos para o nascimento da moderna Sismologia. Os questionários detalhados enviados pelo marquês de Pombal a todos os párocos com a obrigação de responderem no prazo de um mês, e que se encontram arquivados na Torre do Tombo, serviram para que mais tarde se pudesse reconstituir com detalhes a catástrofe de 1755.
Os edifícios da Baixa Pombalina foram os primeiros a nível mundial a serem construídos com protecções anti-sísmicas, testadas em modelos de madeira, utilizando-se para o efeito tropas a marchar para simular as vibrações de um sismo.
Goethe tinha seis anos quando o terramoto ocorreu, mas meio século mais tarde nas suas “Memórias” escreve: “Porventura em tempo algum, o demónio do terror espalhou por toda a Terra, com tamanha força e rapidez o arrepio do medo”.
E um comerciante inglês escrevendo a um seu amigo diz: “Tal espectáculo de terror e assombro, assim como a desolação dos que o experimentaram, nunca antes terá sido igualado desde a criação do mundo”.
Fontes: Domingues, Mário – O Marquês de Pombal, ed. Romano Torres, 1955
Paice, Edward – A Ira de Deus, casa das letras, 2009
Wikipédia.org
Jornal de História, 43º fascículo
Historia y Vida, nº 486
Saraiva, José Hermano – História de Portugal
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