Na grande Babilónia da lendária Semíramis, dois jovens amavam-se desde a mais tenra infância. Tinham crescido em casas vizinhas e contíguas, mas como as famílias de ambos eram inimigas, fora-lhes proibido a convivência.
Ele, Píramo, era um jovem bem constituído, de olhos escuros e ardentes, quanto a Tisbe, uma cabeleira longa e escura emoldurava a face mais bela que se poderia imaginar! À noite, sem ninguém os ver, falavam um com o outro através de uma fenda escondida no muro alto que separava as duas casas, trocando juras de amor eterno…ansiando por se encontrarem.
Mas os pais de ambos, irredutíveis na sua inimizade, pretendiam um casamento à altura das suas ambições. Sabedores das maquinações paternas, os dois jovens combinaram encontrar-se, a coberto da noite, para lá das muralhas, junto ao túmulo de Nino, antigo rei da Assíria, para se verem e possivelmente fugirem para algum lugar onde nada pudesse obstar ao seu amor!
Junto a esse túmulo havia uma amoreira, cujos frutos de uma extrema brancura, lhes serviriam de referência, e também, um pouco mais afastada, uma nascente. Tisbe foi a primeira a chegar, envolta num longo véu branco, para não ser reconhecida. Sentou-se debaixo da amoreira, feliz, mas também inquieta. O sítio era escuro e cheio de ruídos que a assustavam…Quando o luar iluminou o lugar, viu uma leoa com a boca ainda ensanguentada de devorar alguma presa, que se dirigia, devagar, à nascente para beber. Aterrorizada, a jovem fugiu tão depressa, que deixou cair o véu.
A leoa, intrigada, rasgou com as patas o véu, deixando-o sujo com o sangue que pingava da sua boca, e afastou-se. Pouco depois chegou Píramo, que não vendo a sua amada e reparando no véu rasgado e manchado, junto às pegadas de uma leoa, não duvidou que esta tivesse sido devorada pela fera e cheio de dor, trespassou-se com a própria espada.
Tisbe, saindo do seu esconderijo, dirigiu-se para a amoreira deparando com o corpo de Píramo já sem vida. Enquanto o cobria de beijos tentando fazê-lo voltar à vida, notou a espada junto aos restos do seu véu e compreendeu o terrível equívoco. Pegando na arma, exclamou: “Só a morte podia separar-nos, mas nem essa terá esse poder!”
No dia seguinte, foi encontrada sem vida abraçada ao corpo do seu amado, e para espanto de todos, os alvos frutos da amoreira, única testemunha deste drama, tinham-se tornado negros…
Os deuses compadecidos, decretaram que, a partir desse momento, os frutos da amoreira assinalariam através dos tempos, o luto pelos dois apaixonados!
Esta lenda inspirou aos irmãos Grimm, o conto de “A Amoreira”, e Shakespeare inspirou-se neste tema para escrever o seu famoso “Romeu e Julieta”. Também vários pintores se interessaram pelo tema, entre eles Niklaus Manuel, por alcunha Deutsch, o Alemão, cujo quadro se apresenta
acima.
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