quarta-feira, 6 de julho de 2011

Henrique II Plantageneta - I


“Maldito o dia que me viu nascer, malditos os filhos que deixei!”, teriam sido as ultimas palavras com que Henrique II, de Inglaterra, se despediu da vida…
Neto de Guilherme o Conquistador, filho de Matilde, ex-imperatriz consorte do Sacro Império e de Godofredo V, conde de Anjou, onde nasceu a 5 de Março de 1133, e onde passou os primeiros anos, enquanto sua mãe lutava pelos seus direitos ao trono de Inglaterra, contra seu primo, Estêvão de Blois, durante o tempo das guerras civis a que se deu o nome de “Anarquia”e que só acabou quando em 1154 Henrique II subiu ao trono.
Em 1152, aos 19 anos, tinha-se casado com a bela Eleanor de Aquitânia, mais velha cerca de dez anos e divorciada do rei Luís VII de França, que lhe trouxe como dote o ducado de que era herdeira, o que somado às possessões que Henrique já possuía em França (pela mãe herdara a Normandia e pelo pai, as regiões do Loire, Anjou, Maine e Touraine), faziam dele um vassalo muito mais poderoso que o seu suserano, o rei francês, com quem, aliás, passou o tempo em querelas.
Iniciando a dinastia Plantageneta, assim denominada por ostentarem no seu brasão uma flor de giesta, (em françês : plante à genêt), Henrique II foi sem dúvida, o seu melhor representante. Guerreiro hábil e corajoso, conhecido e temido pelos seus ataques de fúria, mas bom governante, deixou aos seus descendentes um império unido debaixo da mesma bandeira. Muito mais francês que inglês (o francês era a língua falada pela corte), a sua obsessão era expandir os seus domínios franceses, não descansando enquanto não anexou também a Bretanha, o que originou tensões frequentes com os reis de França, primeiro com Luís VII e depois com o filho deste Filipe Augusto, astucioso e totalmente desprovido de escrúpulos, mas hábil político,que aproveitando-se da desunião reinante entre Henrique e os seus filhos, conseguiu lentamente apoderar-se da maior parte destas possessões no reinado de João Sem-Terra, filho mais novo de Henrique II.
Este homem, dotado de um poderoso equilíbrio, com ombros largos e um pescoço de touro, governava um território que se estendia pelos dois lados do Canal da Mancha, desde as montanhas da Escócia até aos Pirinéus, o maior império europeu que qualquer rei de Inglaterra jamais teve, embora frágil, geográficamente disperso,com culturas variadas e diferentes, mas a quem em breve iria dar um novo impulso ao restabelecer a unidade do reino da Inglaterra, e concentrando todo o poder na sua pessoa.
Com apenas 21 anos quando subiu ao trono, depressa acabou com as centenas de praças-fortes dos opressores do povo anglo-saxão e reprimiu todas as tentativas de rebelião dos senhores feudais.
“As espadas dos cavaleiros foram transformadas em charruas; os salteadores e os ladrões foram enforcados”.
Implementou um novo sistema de colecta de impostos e a administração pública melhorou significativamente com o estabelecimento de registos públicos criados pelo rei. No campo da justiça, Henrique mandou coligir o primeiro livro de leis inglês, descentralizou o exercício da justiça através de magistrados com poderes de agir em nome da coroa e implementou o julgamento por júri. A pessoa mais insignificante podia queixar-se directamente ao rei, no decurso das suas viagens de norte a sul do país, Henrique velava pela boa aplicação da justiça.
Na luta que empreendeu para obrigar a nobreza à obediência, foi sempre ajudado pelo seu grande amigo, o chanceler Thomas Becket, que embora tivesse feito parte do alto clero, se empenhou também em submeter a Igreja ao seu soberano. Para consolidar esta submissão, o rei nomeou-o Arcebispo da Cantuária em 1162. Mas, o que Henrique II não esperava é que Becket, agora Arcebispo, se dedicasse tão profundamente a defender a Igreja, como antes, quando era chanceler, defendia os interesses do rei!
Daí a entrarem em conflito, foi um instante…Becket tornou-se um fanático campeão dos direitos da Igreja e quando o rei decretou que os padres acusados de crime deveriam ser julgados nos tribunais eclesiásticos, mas que se fossem considerados culpados deveriam ser entregues aos tribunais reais para aplicação da pena, Becket recusou-se a aceitar este decreto, dizendo que os decretos da Igreja se deveriam sobrepor aos do rei… Para fugir ao ódio de Henrique, exilou-se em França durante 6 anos, voltando depois a Inglaterra, irredutível como antes, mas reconciliando-se com o rei, embora por pouco tempo, o que levou ao seu assassínio em 1170, junto ao altar, quando se preparava para dizer missa.
Diz-se que o rei num dos seus ataques de fúria terá exclamado “Mas que cavaleiros mantenho eu na minha corte, que não me podem vingar de um imprudente eclesiástico!”. Quatro cavaleiros tomaram-lhe a palavra à letra, dirigiram-se à Catedral e depois de uma breve troca de palavras, assassinaram o arcebispo a golpes de espada.
Embora os seus assassinos fossem castigados, Becket tornou-se um mártir para o povo, o Papa santificou-o e o seu túmulo tornou-se um lugar de peregrinação onde se diz que ocorreram milagres.
Para acabar com os vários levantamentos da população indignada e evitar a excomunhão, Henrique II doou importantes somas de dinheiro aos Cavaleiros Templários e Hospitalários, deslocando-se a Cantuária, vestido de penitente e descalço, onde se fez flagelar por vários monges…Para a Igreja foi um triunfo, para o rei foi uma humilhação, mas recuperou a confiança do seu povo e pôde assim acabar com os motins!
Durante o seu reinado finalizou a conquista do País de Gales e da Irlanda, sendo, em 1175, firmado o Tratado de Windsor, segundo o qual a Irlanda passaria a ser regida pelas leis inglesas.




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