Dado o agravamento do estado da rainha, e por perigo de contágio, o rei foi aconselhado a ir para Alhos Vedros, até ao seu falecimento.
Conta-se que à hora da morte, a Virgem lhe apareceu:
“ E esta Rainha Dona Filipa, que estando naquele ponto que já ouvistes, lhe apareceu Nossa Senhora, para lhe dar verdadeiro esforço para passagem daquela hora forte. Cá depois destas cousas que já dissemos, ela endereçou seu rosto para cima, tendo seus olhos directamente para o céu, sem nenhum mudamento de contenença.E foi visto em ela um ar todo cheio de graça. O qual todos, visivelmente conheciam que era espiritual, juntando suas mãos, como temos em costume fazer, quando vimos o corpo do Senhor e disse: “Grandes louvoures sejam dados a Vós, minha Senhora, porque vos prouve do alto me virdes visitar. E assim filhou a roupa que tinha sobre si, e a beijou, como se beijasse uma paz.”Idem, pp.161/2.
Como os médicos previssem a sua morte para o dia seguinte, mandou que começassem a rezar a defuntos, acompanhando as orações e corrigindo-as quando não as achava bem, confessou-se comungou e recebeu a extrema-unção. Quando o ofício acabou, levantou os olhos ao céu e segundo diz Zurara “sem nenhum trabalho nem pena, deu a sua alma nas mãos d’ Aquele que a criou, parecendo em sua boca um ar de riso. Cá assim há-de ser, segundo tenção de alguns doutores, que o homem que direitamente há-de viver, venha a este mundo chorando e se parta dele rindo.”Idem pp. 164.
Morreu de peste, tal como sua mãe, a 18 de Julho de 1415, com 55 anos de idade, ficando sepultada em Odivelas. Em 1416, D. João mandou trasladá-la para o Mosteiro da Batalha, mas só em 1434 é que o seu corpo, assim como o do rei, seu marido, foram depostos no duplo túmulo jacente onde hoje os podemos ver. Em 1810, a face oeste do túmulo foi danificada durante as invasões francesas.
A única rainha inglesa que Portugal teve, a ela se deve a fortificação das relações políticas entre os dois países, mantendo vivo o Tratado de Windsor. Foi dela a ideia de casar a filha bastarda do rei, a infanta D. Beatriz, com o conde de Arundel.
Esposa e mãe exemplar, austera, recatada e devota, reinou de 1387 a 1415, mas como mulher, conseguiu que D. João I lhe fosse sempre fiel durante tantos anos de casamento, o que desdiz um pouco da imagem “glacial” com que geralmente a encaramos…
Descendência:
Branca de Portugal (1388-1389) morreu jovem
Afonso de Portugal (1390-1400) morreu jovem
Duarte de Portugal (1391-1438), sucessor do pai no trono português, poeta e escritor
Pedro, Duque de Coimbra (1392-1449), foi um dos príncipes mais esclarecidos do seu tempo. Foi regente durante a menoridade do seu sobrinho, o futuro rei D. Afonso V e morreu na Batalha de Alfarrobeira
Henrique, Duque de Viseu, O Navegador (1394-1460), investiu a sua fortuna em investigação relacionada com navegação, náutica e cartografia. Mestre da Ordem de Cristo.
Isabel (1397-1471) casou com Filipe III, Duque da Borgonha e entreteve uma corte refinada e erudita nas suas terras
João, condestável de Portugal, (1400-1442) e avô de Isabel de Castela
Fernando, o Infante Santo (1402-1433), morreu no cativeiro em Fez
Fernando Pessoa, na sua Mensagem, chama-lhe “Madrinha de Portugal”:
Que enigma havia em teu seio
Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?
Volve a nós teu rosto sério,
Princesa do Santo Gral,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!
Fontes: www.wikipedia.org
Faria, Américo – Dicionário de Mulheres Célebres
Pessoa, Fernando – Mensagem
Lourenço, Paula, Ana Cristina Pereira, Joana Troni – As amantes dos reis de Portugal.
Lapa, Rodrigues – Prosas históricas, de Gomes Eanes de Zurara.
Olá! A passagem de Zurara, que a Sra. cita ("idem pp 161/2") relaciona-se com qual obra? Tenho muito interesse na passagem. Agradeço a sua atenção.
ResponderEliminarOlá, boa noite! A passagem em questão encontra-se na Crónica da Tomada de Ceuta, de Gomes Eanes de Zurara, cap. XLIV e XLV. Além de comovente,é realmente muito interessante porque nos permite avaliar a força de carácter desta rainha. Se precisar de mais informações, contacte-me.
ResponderEliminarBoa leitura!