segunda-feira, 25 de outubro de 2010

João Roiz de Castel-Branco

Viveu provavelmente nos fins do sec. XV ou princípios do sec. XVI, fazendo já parte dos poetas da segunda fase da chamada época medieval da literatura portuguesa, que medeia entre 1354 (data da morte de D. Pedro, conde de Barcelos) e o regresso de Sá de Miranda, da Itália em 1526, quando se dá início à literatura clássica do Renascimento.
Algumas das suas composições fazem parte do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, como a belíssima “Senhora, partem tão tristes”, de carácter amoroso, mas dedicou-se também a outros temas, como a presença portuguesa no norte de África, ou questões relacionadas com o desprezo pela vida na corte, onde mostra um espírito crítico e acutilante, bem patente na composição de que abaixo se transcreve um excerto.
Foi fidalgo da Casa Real de D. Manuel I, de quem obtém o ofício de contador da comarca e almoxarifado da cidade da Guarda, por carta de 21 de Agosto de 1515, e por morte deste, de D. João III.
Excerto da carta escrita a António Pacheco, vedor da moeda de Lisboa, talvez seu parente:
Em viver na Corte pouco se ganha, mas tudo se perde partindo nas Armadas
.
…Armadas idas d’além
já sabeis como se fazem,
quantos cativos lá jazem,
quantos lá vão que não vêm.
E quantos esses mares tem
sumidos que não parecem,
e quão cedo cá esquecem,
sem lembrarem a ninguém.

E alguns que são tornados
livres destas borriscadas,
se os is ver às pousadas,
achai-los esfarrapados.
Pobres, e necessitados
por mui diversas maneiras,
por casas das regateiras
os vestidos apenhados.
Por isto, senhor Mafoma,
tresmontei cá nesta Beira
por tomar a derradeira
vida que tod’o homem toma.
Porque há lá tanta soma
de males, e de paixão,
que por não ser cortesão
fugirei daqui ‘té Roma.
Agora, julgai vós lá
se fiz mal nisto que faço,
em me tirar desse paço,
e mudar-me para cá.
Pois é certo que, se dá
algum pouco galardão,
lança mais em perdição
do que nunca ganhará.

Fontes: Enciclopédia de “O Público”, vol. 29, Literatura Portuguesa
Cruz, Maria Leonor García da – Os “Fumos da Índia” – ed. Cosmos

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