Com o domínio filipino, Portugal começou a ser atacado nas suas possessões estrangeiras, principalmente no Brasil, e Santo António chega lá como náufrago e à deriva…
Em 1595, uma frota de franceses luteranos ao atacaram o forte português de Arguim, na costa africana, levaram com eles uma imagem de Santo António que mais tarde deitaram ao mar. A imagem lá foi mar fora e acabou por arribar às costas brasileiras, sendo levada para o Convento de S. Francisco, na Baía, onde ficou. A Câmara da cidade escolheu-o para padroeiro e fê-lo assentar praça como soldado na Fortaleza da Barra.
Em 1624 uma forte armada holandesa parte à conquista do Brasil, e a protecção dada por Santo António aos portugueses especialmente na Baía, foi tal que, o governador promoveu-o a capitão, tendo chegado a tenente-coronel por decreto de D. João VI, pelos relevantes serviços prestados ao “salvar a Monarchia da grande e difícil crise” a que esteve sujeita durante as invasões francesas em Portugal.
Em Pernambuco, além de ajudar a salvar a cidade ocupada pelos holandeses, participou com êxito na Guerra dos Palmares, pelo que foi eleito Padroeiro da cidade, onde seguiu também carreira política, sendo nomeado vereador.
No Rio de Janeiro, era Santo António capitão quando uma armada francesa veio atacar a cidade e ele foi nomeado General dos Exércitos nos Campos. O problema é que o padroeiro da cidade era S. Sebastião, portanto para não ferir susceptibilidades, acordou-se que S. Sebastião defenderia pelo lado do mar e Santo António pelo lado de terra. Portaram-se exemplarmente!
Em 1814 é promovido a tenente-coronel e agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, tendo o rei oferecido à imagem um bastão de comando guarnecido de 84 rubis. Mas é em S. Paulo que o Santo atinge o posto maior da sua carreira, ao ser nomeado Coronel.
Como o Brasil era muito grande, S. Bento e S. Francisco Xavier também tiveram honras de soldados rasos em alguns lugares.
Proclamada a República em 1889, um dos primeiros actos do Governo Provisório foi suspender os soldos a S. António, mas por pouco tempo, uma vez que enquanto não fosse anulado o decreto da sua promoção, ele teria direito aos vencimentos. Em 1923 é “privado do soldo até 2ª ordem”, e em 1924 o Presidente do Conselho fez lavrar o seguinte despacho:
“O Coronel António de Pádua vai quasi em três séculos de serviço. Nomeio-o General e ponho-o na reserva”.
Há mais um outro episódio engraçado passado com o Santo no Brasil:
Um dos Ministros de Guerra da Republica quis tirar Santo António de militar, e informou disso o Guardião do Convento. Este recordou-lhe os muitos serviços prestado pelo Santo, ao que o ministro perguntou:
- Ainda está no activo?
- Santo António não cessa de fazer milagres e está sempre activo…
_ Então compareça no Quartel-General…
Como o Santo não compareceu foi simplesmente demitido, sem direito a reforma!
Em Angola teve o posto de capitão de infantaria devido aos serviços prestados nas lutas contra os gentios, e até estes que não conheciam Deus, traziam uma imagem do santo ao pescoço.
Em Moçambique também alcançou o posto de capitão de fuzileiros, mas teve a companhia de S. Sebastião, que era capitão dos Granadeiros.
Em Macau, foi soldado até 1780, subindo depois ao posto de capitão, e em Goa foi alferes capelão.
Em Espanha, Filipe V, depois da reconquista da praça de Oran deu-lhe o título e o soldo de almirante, e em Inglaterra esteve alistado como oficial, no exército inglês. Na Baviera foi também oficial, e no Tirol há uma imagem dele na igreja de Rietz, a quem nos dias de festa punham uma espada, um bastão de comando, uma faixa e um chapéu com plumas e assim saía em procissão.
A história militar de Santo António, embora possa parecer estranha, faz parte do próprio fundo religioso do povo português, que sempre acreditou no poder da Providência Divina, não nos esquecendo que a fundação do reino de Portugal, foi ” legitimada” pelo milagre de Ourique!
Estava de tal maneira arreigado o seu culto no exército e no povo que até nos arraiais o cantavam:
Santo António de Lisboa
Não quer que lhe chamem Santo
Quer que lhe chamem Soldado,
General, Mestre de Campo.
Fontes: Aguiar, José Pinto de – Santo António de Lisboa Oficial do Exército e Herói Nacional
www.franciscanos.org.br.
Revista Militar do Exército, Maio 2001
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