Ouvindo os tiros, acudiu António Correia, oficial-mor da Secretaria de Estado, que D. António Telo prostrou com uma punhalada. Julgando-o morto seguiram em frente, mas embora ferido conseguiu escapar. Também o capitão Diogo Garcia Palhez, ao ver que ia ser atacado, saltou de uma janela para o pátio partindo uma perna mas salvando a vida.
Avisado do que se passava, Miguel de Vasconcelos saltou da cama, vestindo-se à pressa e trancando por dentro a porta do quarto. Ao ouvir os machados que tentavam arrombar o batente, acabou por esconder-se num armário de papéis. Quando a porta se desfez, os conjurados irromperam pelo quarto e não o vendo, preparavam-se já para sair, quando um leve rumor provocado por algum movimento do perseguido os alertou. (Diz a tradição que foi uma escrava negra, para se vingar dos maus tratos, que apontou o armário). Descarregaram então as suas pistolas contra o armário, onde duas balas lhe atravessaram a garganta e abandonaram-no a esvair-se em sangue, porque tinham mais tarefas a fazer. Um outro grupo chefiado por D. Gastão Coutinho ao ver o corpo caído no chão, agarrou nele em peso atirando-o ainda com vida através de uma janela para o terreiro, onde a populaça cevou nele toda a sua fúria.
Alarmada, a duquesa de Mântua correu a uma das janelas que deitava para o pátio e gritou para o povo que enchia o terreiro, em atitude ameaçadora:
- Que é isto, Portugueses? Onde está a vossa lealdade?
Respondeu-lhe um rugido do leão popular. Teve a percepção de que estava perdida, mas não lhe faltou ânimo para defrontar os revoltosos que acabavam de entrar nos seus aposentos. Insistindo em aconselhar sossego, prometeu o perdão de el-rei para todos, mas estes responderam-lhe que apenas reconheciam um soberano, que era D. João IV. E D. Carlos de Noronha pediu-lhe que se mostrasse mais prudente e não os obrigasse ao extremo de lhes faltarem ao respeito.
- A mim? Como? – perguntou altivamente a duquesa.
- Obrigando Vossa Alteza, se não quiser entrar por esta porta, a sair por aquela janela – respondeu o fidalgo.
Ostentando um ar majestoso, a duquesa retirou-se, recolhendo aos seus aposentos, onde ficou prisioneira.
A notícia da prisão da duquesa de Mântua difundiu-se rapidamente por toda a cidade e as ruas e praças encheram-se de uma multidão enorme dando vivas a “el-rei D. João IV”. A revolução estalou tão pronta e venceu tão repentina que os funcionários entrados naquele dia nas repartições para funcionarem em nome de Filipe IV continuaram a despachar em nome de D. João IV.
Texto adaptado de: A Revolução de 1640, por Mário Domingues
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