quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Natividade de Jesus – II

Este mosaico na Igreja de Santa Maria, em Roma, também de Pietro Cavallini, como referimos no artigo anterior, mostra uma cena que, a partir do sec. XV foi proibida pela igreja: o banho do Menino. Jesus havia nascido puro e de natureza divina, era a própria fonte da vida.
As parteiras, que segundo os evangelhos apócrifos teriam sido chamadas por José, para auxiliarem a Virgem no parto e provarem a sua virgindade, foram suprimidas por porem em causa o parto indolor de Maria; se não havia dor, não havia também necessidade de auxiliares. Bastavam os Anjos, que sempre a acompanharam.
Em 1303, por influência das visões de Santa Brígida (padroeira da Suécia e co-padroeira da Europa), sobre o parto indolor de Maria, esta deixa de se apresentar reclinada ou deitada, e passa a figurar de joelhos, em adoração ao Menino. Também este passa a irradiar uma luz própria (a Luz do Mundo), deixando de ser iluminado pela estrela de Belém.
Assim, a iconografia ocidental vai eliminando a influência bizantina, e transforma a Natividade de Jesus, numa simples adoração ao Menino, dispondo as personagens principais, à sua volta, mantendo o burro e o boi, apesar da proibição imposta pelo Concílio de Trento. Jesus já não se apresenta envolto em faixas dentro de um berço de madeira parecido com um caixão, uma alusão bizantina à sua futura morte e ressurreição, mas nu, ao colo de Maria, ou muitas vezes no chão, como sinal da sua humanidade.
Frade Francke (c.1385-c.1436), pintor alemão de altares, do período Gótico internacional, com vocação para o realismo, decidiu passar para a tela a visão de Santa Brígida: A Virgem, com o manto deitado para trás seguro por anjos, está de joelhos rezando, e a meio da oração nasce o Menino. Ao vê-lo, Maria junta as mãos e diz: “Senhor meu e Filho meu…”. Dentro de uma nuvem, Deus Pai e o Espírito Santo observam o nascimento de Jesus, que brilha envolto na sua própria Luz.


Segundo a tradição, as primeiras imagens de Maria foram baseadas no “retrato da Virgem” pintado por S. Lucas, apresentando-a morena, de olhos e cabelos escuros, o que não é de admirar, dada a sua origem hebraica, mas nas pinturas ocidentais, e mais de acordo com os padrões de beleza para a época, a Virgem passou a ter a pele mais clara e cabelos entre o acastanhado e o ruivo.
O impacto do Concílio de Trento nas artes foi grande, pois se por um lado as apoia, por outro introduz normas rígidas de decoro, obrigando a que as roupas escondam o corpo, e mesmo o Menino deve figurar, ainda que desnudo, de uma maneira que não ofenda os ideais aprovados no Concílio, pois a arte deveria ser uma expressão de fé e um veículo de catequização num tempo em que a alfabetização era escassa e a Igreja, ainda enfraquecida pelo Grande Cisma, tinha de lutar contra a Reforma pregada por Lutero e Calvino. O maneirismo tornara-se especialmente impróprio para a representação sacra. A orientação da Igreja agora era na direcção de se produzir uma arte que pudesse captar a massa do povo, apelando para o sensacionalismo e uma emocionalidade intensa, a que o barroco correspondeu totalmente. Na pintura, a portuguesa Josefa de Óbidos, foi das pouquíssimas mulheres artistas deste período.
Com o correr dos tempos, novos estilos de pintura aparecem, mas o encanto e a fé no Nascimento de Jesus continuam a inspirar os artistas, como se pode ver no quadro abaixo “Natal no trópico”, de autor desconhecido.


Fontes: www.wikipedia.org
Revista Historia Y Vida, nº441
Imagem do último quadro:
peregrinacultural.worpress.com

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