Provavelmente a sua obra mais conhecida, esta tela, de 266x 345cm., pertencente ao Museu do Prado, em Madrid, foi feita seis anos depois da Guerra Peninsular que decorreu entre 1808 e 1814 ter terminado, sendo um testemunho vivo da crueldade dos homens para com o seu semelhante.
A 2 de Maio de 1808, as tropas francesas de Napoleão Bonaparte entram em Madrid, forçando o rei Fernando VII a abdicar, o que provoca uma revolta popular a seu favor. Os madrilenos lançam-se valentemente contra a cavalaria dos mamelucos, junto à Puerta del Sol e noutros sítios da cidade, iniciando a guerra de “resistência”, que Goya imortalizará mais tarde com o magnífico quadro “O dois de Maio”, cuja história se completa com esta pintura.
A repressão é terrível. No dia seguinte, as tropas francesas vingam-se massacrando e executando centenas de revoltosos e não só…Os fuzilamentos de 44 deles, escolhidos para exemplo, tiveram lugar durante a noite, frente ao palácio de La Moncloa, no monte do Príncipe Pio, e durou até as primeiras horas da madrugada. Ao pintar o céu negro que domina a parte superior da tela, Goya recria a atmosfera sombria do local, para onde os patriotas foram levados.
Estão divididos em três grupos: o primeiro, dos já executados, onde os corpos caídos sobre o sangue derramado não deixam dúvidas quanto à sua sorte. O segundo grupo, onde se encontra um frade que parece orar pelos mortos, são os estão a ser fuzilados, o terceiro grupo, completamente apavorado, é dos que estão à espera da sua vez, e observam os outros a serem executados. Vê-se perfeitamente um deles, com os olhos cheios de terror, a morder os dedos, parecendo muito jovem Nenhum foi vendado, como é costume, porque este fuzilamento era apenas um frio acto de vingança.
Por trás deles, a colina, como anteparo para as balas perdidas.
Uma lanterna pousada no chão à frente dos carrascos ilumina a cena. Os soldados, anónimos, alinhados à direita, parecem autómatos prontos a disparar à ordem de “Fogo”. Sabe-se que são franceses, pela tradicional barretina. Trazem nas armas as baionetas caladas, aumentando o horror da cena, pois as lâminas eram usadas para acabar com as vítimas que não morressem com as balas.
O ponto de focagem da tela é um homem, que de braços levantados e olhos muito abertos, enfrenta a sua morte eminente. O seu gesto tanto pode ser encarado como um desafio, ou como simples desespero. É da sua camisa branca que irradia a verdadeira luz do quadro como que proclamando a sua inocência e a posição dos seus braços, assim como a ferida que se pode observar na palma da sua mão direita, faz lembrar Cristo crucificado. Um dos mortos no chão, em primeiro plano, com a cara manchada do seu próprio sangue e os braços também afastados, repete o gesto de vítima sacrificada. Ao apresentar os prisioneiros como mártires, Goya simboliza assim a eterna revolta da Humanidade contra a tirania e a opressão.
Por ordem do general francês Murat, os fuzilados do 3 de Maio de 1808 estiveram nove dias insepultos.
Fontes Goya – Edição da LISMA
História da Arte, vol. 8
Pt.wikipedia.org
Sem comentários:
Enviar um comentário