terça-feira, 19 de abril de 2011
Panteão de Santa Engrácia – I
Dominando Lisboa a Oriente, do alto de uma das suas sete colinas, o Panteão é o mais antigo templo barroco do país. Coroado por um zimbório e com o chão pavimentado de mármore colorido, está construído no local onde foi erguida a primitiva igreja de Santa Engrácia, da qual nada resta. As obras desta igreja-panteão começaram em 1631 e só terminaram em 1966, 335 anos depois, o que deu origem à expressão “Obras de Santa Engrácia” para designar algo que nunca mais se acaba, ou será que a “maldição” de Simão Solis, também contribuiu para esta demora?...
O culto a Santa Engrácia, cujo martírio descrevemos na mensagem anterior, deve-se à Infanta D. Maria, filha do rei D. Manuel I, que tinha uma grande devoção por esta Santa da qual possuía uma relíquia. Pensou assim erguer-lhe uma igreja perto do Mosteiro das Clarissas que ela frequentava, situado no Campo de Santa Clara, e onde hoje se realiza a Feira da Ladra. O Mosteiro edificado em 1294 foi completamente destruído pelo terramoto de 1755.
Para tal, pediu a Infanta autorização ao Papa Pio V, que através de um Breve datado de 30 de Agosto de 1568, criou a Paróquia de Santa Engrácia.
A princesa, uma das mulheres mais rica e cultas do seu tempo, mandou então edificar a igreja fora das muralhas Fernandinas, perto de uma das suas portas de entrada, a Porta de Santa Cruz, pois em Saragoça, onde a Virgem Santa Engrácia tinha sofrido o martírio, a igreja levantada no local da sua morte, também ficava fora das muralhas que cercavam a cidade.
Desta igreja primitiva, construída por Jerónimo de Ruão nada resta. Por ser muito pequena, durante o reinado de Felipe I foi reconstruída pelo arquitecto Nicolau Frias. Em 1630, depois de sofrer obras de restauro na capela-mor, foi alvo de um roubo sacrílego conhecido como “O desacato de Santa Engrácia” cujo desfecho emocionou toda a gente.
Segundo consta, na noite de 15 de Janeiro de 1630 alguém se introduziu na capela, roubando objectos de ouro do culto e profanando o sacrário do altar da Santa. Imediatamente foram feitas todas as diligências para se encontrar o culpado, sendo acusado deste sacrilégio um tal Simão Peres Soles ou Solis, cristão-novo, a quem a Inquisição condenou à morte na fogueira. A 13 de Fevereiro, Simão Solis é levado em procissão até ao Campo de Santa Clara, e no próprio local onde supostamente executou o roubo lhe são decepadas ambas as mãos, sendo depois queimado vivo. Diz a lenda que, antes de morrer, declarou que estava inocente tão certo como as obras de Santa Engrácia nunca terem fim!
Em consequência desta profanação, 100 nobres portugueses fundam a Irmandade dos Escravos do Santíssimo Sacramento, que como forma de desagravo, resolvem mandar construir nova capela-mor, o que levou à destruição da anterior. São também instituídas as Festas do Desagravo a celebrar anualmente em Janeiro e presididas pela Família Real. A nova capela, da autoria de Mateus do Couto (Velho), tem a primeira pedra lançada em 1632, mas numa noite tempestuosa de 1681, a cúpula desaba com grande estrondo derrubando também algumas paredes da antiga igreja quinhentista, facto que impressionou os alfacinhas lembrando-os da maldição de Simão.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário