sábado, 30 de abril de 2011

A Noite de Walpurgis


É uma festa tradicional cristã cujas origens remontam em parte ao paganismo, celebrada na noite de 30 de Abril para 1 de Maio, também conhecida por noite das bruxas. Hoje em dia é celebrada igualmente quer por comunidades cristãs quer por não cristãs, em diversos países do Norte e Centro da Europa.
Na maioria dos países esta festividade é celebrada em honra de Santa Walpurgis, uma monja anglo-saxónica, que no início do sec. VIII foi evangelizar a Germânia, chamada por S. Bonifácio, sendo eleita em 754 abadessa do convento beneditino de Heidenheim, na Baviera, onde faleceu em 780. Os seus restos mortais foram depositados na parte oca de uma rocha da qual brotava uma espécie de betume, conhecido depois pelo nome de óleo de Walpurgis e que teve a reputação de ser um remédio milagroso. Esta gruta depressa passou a ser objecto de peregrinações, construindo-se ali uma igreja.
Nos países germânicos havia uma crença solidamente estabelecida de que durante a noite de 30 de Abril, os demónios e as bruxas reuniam-se nas montanhas, principalmente na de Blocksberg, no Harz, a que se chamava “Montanha de Walpurgis”, para celebrarem o seu sabbat. Conta a lenda, que, por obra do diabo, a santa foi levada a essa montanha para conhecer de perto essas práticas que ela tanto tinha combatido, mas ao chegar lá, pregou com tanto fervor, que por pouco não converteu o próprio diabo…
Nas tradições celtas, celebrava-se esta noite, o festival de Beltaine (Fogo Benéfico), em honra de Belenos, o deus do fogo, e que marcava o começo da temporada de verão fazendo-se a purificação dos gados, que seriam depois levados para os pastos verdes dos altos das montanhas. Acendiam-se fogueiras no alto dos montes e das colinas e o gado passava por entre elas, para se proteger das doenças e acidentes durante todo o ano. Estes fogos marcavam o triunfo da luz sobre as trevas, esconjurando os maus espírito, e debaixo da sua protecção as pessoas reunidas realizavam os rituais de fertilidade, associados a estes festejos.
No mito irlandês de Cailleach Bheur, uma bruxa invernosa de cor azul, também chamada de Senhora Repugnante, aprisionou a namorada da Primavera e destinou-lhe a difícil tarefa de lavar um novelo de lã castanha até ele ficar branco. A Primavera tentou combater a velha, mas como não a conseguiu vencer, pediu ajuda ao Sol, que atirando uma lança, obrigou a velha a refugiar-se debaixo de um tufo de azevinho, e assim a jovem foi libertada. Não é mais que a deusa na sua tripla forma de virgem, mãe e velha, em que neste duelo, a sua forma “repugnante” se limita a desaparecer no Beltane (30 de Abril), para retornar no Samadh (31 de Outubro).
Beltane, recuperada por S. Patrício, foi convertida na Vigília Pascal.
Com o advento do Cristianismo, a festa de Santa Walpurgis a 25 de Fevereiro, foi mudada para 1 de Maio, passando a ser considerada a protectora desta noite. Com o correr do tempo, as duas celebrações ter-se-ão confundido, dando assim origem às festividades de hoje em dia, onde é costume acenderem-se grandes fogueiras de modo a afugentar espíritos malignos e almas penadas, os quais segundo a crença popular, vagueiam nesta altura por entre os vivos e onde às vezes se queima um boneco que representa uma bruxa.
No nosso país nesta noite, colocam-se nas portas as flores de giesta, ou as “maias”, para que as casas estejam protegidas quando começar o dia evitando assim que o “Maio” que também se chama “Carrapato” ou “Burro”, não entrem.
Nalgumas regiões de França, colhe-se durante a noite, o “matagot”, isto é a “erva da serpente” ou o selo-de-salomão (flor-da-felicidade azul), ou apanha-se o orvalho de madrugada, porque é bom para a pele.
Na Finlândia, é uma espécie de festa carnavalesca onde se come e bebe bastante e que se prolonga pelo dia 1, considerado o 3º maior feriado finlandês.

Fontes: Markale, Jean – O Cristianismo Celta
Husain, Shahrukh – Divindades Femininas

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Florálias

Começavam hoje em Roma as festas anuais em honra de Flora, a deusa das flores, que duravam seis dias, prolongando-se até ao próximo dia 3 de Maio, e que deram origem aos Jogos Florais.
De início esta festa era móvel, mas Júlio César quando lançou o Calendário Romano, fixou-a no dia 28 de Abril, data em que foi consagrado o templo da deusa no monte Aventino. Esta celebração iniciou-se em 240 a.C., mas caiu em desuso, até que em 173 a.C., o Senado romano, preocupado com as más colheitas agrícolas, ordenou de novo a sua comemoração.
Foi nesta altura que os jogos foram introduzidos no festival (Ludi Florales), cuja organização era da responsabilidade dos edis plebeus e incluíam representações teatrais, mímicas, concursos de dança e jogos de circo. Estes jogos podiam ficar extremamente caros aos edis, que os usavam como uma maneira de atrair as simpatias da população e ganharem votos mais tarde.
Eram celebrados à noite à luz dos archotes, no grande circo da rua Patrícia, mas o sentimento religioso que os caracterizava na sua origem, depressa se perdeu. Como também se encontrava-se associado às prostitutas, acabou por se caracterizar pela sua licenciosidade.
Nos concursos, as cortesãs reuniam-se e dançavam nuas, ao som de trombetas, e as vencedoras eram coroadas de flores. No Circo Máximo, lebres e cabras, animais associados à fertilidade, eram soltos entre o público, para o qual se atirava também grão-de-bico e outras sementes relacionadas com a fertilidade. Durante estes dias, a usual roupa branca era trocada por roupas coloridas.
Com o correr dos tempos, estes jogos foram caindo em desuso, e a partir do sec. XIII, esta celebração passou a abranger apenas um concurso literário, que, felizmente, algumas Câmaras ainda hoje realizam, esforçando-se por manter vivas tradições que fazem parte do nosso passado.

Imagem:jornale.com.br

quarta-feira, 27 de abril de 2011

FLORA


Na mitologia romana, Flora, é uma ninfa das Ilhas Afortunadas, deusa da Primavera, das flores, das vinhas, dos cereais e das árvores frutíferas. É a representação da Natureza na sua potência fecundante, desencadeando o despertar da floração das árvores e do ciclo vegetativo adormecidos durante o Inverno.
Foram os Sabinos, que primeiro praticaram o culto desta deusa, dedicando-lhe o mês de Abril e introduzindo-o depois no panteão romano, quando foram assimilados por estes.
Conta a lenda, que, num dia de Primavera, quando Flora passeava pelos campos, o louro Zéfiro, o deus do vento oeste, o mais suave de todos os ventos, cuja brisa morna e agradável acaricia as flores e dá vida à natureza, viu-a e apaixonando-se por ela, raptou-a. Arrependido da sua violência, casou com ela, concedendo-lhe, como prova de amor e recompensa, o de reinar sobre todas as flores, tanto dos jardins, como dos campos cultivados.
Mais tarde, Flora ensinou aos homens como retirar o mel, oferecendo-lhes também as sementes para cultivarem os campos.
Um dia, Hera, a rainha do Olimpo, zangada por Zeus ter dado à luz sozinho a deusa Minerva (esta deusa nasceu já adulta e armada, da cabeça do rei dos deuses), sem pedir a sua contribuição, resolveu mostrar ao marido que também podia conceber sozinha. Foi pedir ajuda ao Oceano, mas durante o caminho, cansada, sentou-se à porta do templo de Flora. Esta, ao vê-la, perguntou-lhe o que a incomodava. Ao saber do assunto, fez Hera prometer que nunca contaria nada a ninguém, mostrando-lhe uma flor que tinha a virtude de engravidar qualquer mulher que se sentasse sobre ela. E assim nasceu Marte, o deus da guerra, cujo nome está na origem do primeiro mês consagrado à Primavera – Março.
Tinha um sacerdote particular em Roma, um dos doze flâmines menores, e em sua honra celebravam-se as festas da Floralia, que começando no dia 28 de Abril, só terminavam a 3 de Maio e em que participavam as cortesãs.
A sua lenda mistura-se com a de Clóris, ninfa grega dos campos. Com Zéfiro, teve Carpo, o deus dos frutos.
Outros autores dizem que em Roma houve uma cortesã belíssima chamada Clóris, conhecida pela sua licenciosidade e que por sua morte, institui o Senado romano como seu herdeiro. Este, agradecido, mudou-lhe o nome para Flora.
Como as suas festas se prolongam até Maio, este culto pagão junto com a de outros deuses agrícolas, deu origem à festa das Maias, que ainda hoje se celebram no nosso país e de que falarei depois.
Na tapeçaria que se mostra acima, desenhada pelos pré-rafaelitas William Morris e Edward Burne-Jones em 1885, Flora está representada descalça, com uma coroa de flores na cabeça, num intrincado fundo floral, inspirado numa técnica decorativa medieval, conhecida como “Mille Fleurs” (Mil Flores). Nas suas mãos segura flores frescas e em letras góticas debruando o quadro em cima e em baixo, pode ler-se este poema de William Morris:

I am the handmaid of the earth,/I broider fair her glorious gown,/ And deck her on her days of mirth/With many a garland of renown./
And while Earth's little ones are fain/And play about the Mother's hem,/ I scatter every gift I gain/From sun and wind to gladden them.

Fontes: Magno, Albino Pereira – Mitologia.
pt.wikipedia.org.
www.thetapestryhouse.com/
Imagem: commons.wikimedia.org


terça-feira, 26 de abril de 2011

John-James Audubon

Naturalista americano de origem francesa, especialista na ilustração científica das aves, nasceu em Santo Domingo a 26 de Abril de 1785, filho ilegítimo de um capitão da marinha francesa, Jean Audubon, que no seu regresso a Nantes, em França, o trouxe consigo, sendo criado pela esposa de Audubon, juntamente com a sua meia-irmã Rose, também nascida fora do casamento.
Adoptados pelo casal, foram viver para uma propriedade “La Gerbetiére”, localizada próximo do rio Loire. Foi aí, passeando nas suas margens, que o jovem Audubon fez os primeiros desenhos das aves que ia observando. Em 1803, para fugir ao ingresso nas tropas de Napoleão Bonaparte, parte para Filadélfia, com a ajuda do pai, obtendo a cidadania americana em 1812, onde continua a desenvolver o seu gosto pelo desenho naturalista, em especial, o das aves, fazendo as primeiras experiências conhecidas de anilhagem de aves migratórias, para ver quantos indivíduos regressavam ao mesmo local no ano seguinte.
Casa com Lucy Bakewell, uma professora, que lhe dá dois filhos, John e Victor, e que sustenta a família, enquanto Audubon, nada inclinado para os negócios, resolve dedicar-se ao sonho da sua vida: desenhar todas as aves da América do Norte, no seu próprio habitat, em vez de utilizar as peças que já existiam nos museus.
Acompanhado do seu assistente, de papel, uma caixa de pintura e uma espingarda, percorreu durante anos a América, levando uma vida errante para atingir o seu objectivo. Para maior perfeição, matava as aves que queria observar, e com paus e arames dispunha-as nas posições em que pretendia desenhá-las.
Em 1826 já com as 435 gravuras que compunham o seu livro “Birds of America”, prontas para serem editadas, não encontra quem se queira arriscar a fazê-lo, e Audubon ruma à Europa.
Devido à qualidade dos seus desenhos, resolve o problema do custo da edição através de subscrições, entre as quais a do Rei Jorge IV, conseguindo assim contratar uma litografia para imprimir as cerca de 200 cópias do seu livro, obtendo um estrondoso sucesso.
Apesar do tamanho das gravuras, algumas aves estão desenhadas numa postura anatomicamente impossível, para poderem caber nas folhas.
Em 1829, regressa à América para completar as gravuras que lhe faltavam, e faz uma edição de 1200 cópias do livro, numa versão mais barata, que se esgota rapidamente.
Com a assistência do ornitologista escocês William MacGillivray, Audubon publica mais tarde, uma obra em cinco volumes chamada de “Ornithological Biography”, como texto para o atlas dos desenhos.
Já com a situação financeira estabilizada, compra uma propriedade perto do rio Hudson, e em conjunto com os dois filhos, trabalha na obra “Viviparous Quadrupeds of North America”, que é editada postumamente, pois Audubon morre a 27 de Janeiro de 1851 em Nova Iorque, com sessenta e seis anos de idade.
O prestígio científico que a sua obra alcançou foi tal, que se tornou o segundo americano (depois de Benjamim Franklin), a ser admitido na Royal Society britânica para as Ciências.
O seu retrato está pendurado na Casa Branca e o seu nome foi dado a um dos mais importantes organismos de defesa para a conservação da Natureza “The Audubon Society” criada em 1886.
Classificado como um monumento à ornitologia, “The Birds of América”, em português “O Livro das Aves”, é um livro raro e belíssimo, com milhares de gravuras de cerca de 500 espécies de aves, num formato de 100x70, para que possam ser apreciadas no seu tamanho natural.
Dele, só existem 119 cópias, das quais 108 pertencem a museus, não sendo portanto de admirar que seja considerado o livro mais caro do mundo. A 7 de Dezembro de 2010, uma destas obras alcançou um preço record de 10.270.000 dólares. A anterior, vendida há dez anos tinha alcançado o preço de 8.8 milhões de dólares.

Obras:
Birds of America
Ornithological Biographies
Viviparous Quadrupeds of North America

Fontes:pt.wikipedia.org.
Pt.daybreakingnews.com
Special.libl.gla.ac.uk.

domingo, 24 de abril de 2011

Domingo de Páscoa

A Páscoa cristã celebra a ressurreição de Jesus Cristo. É o dia santo mais importante da religião cristã. Muitos costumes ligados ao período pascal originam-se dos festivais pagãos da primavera. Outros vêm da celebração do Pessach, ou Passover, a Páscoa judaica, que é uma das mais importantes festas do calendário judaico, celebrada por 8 dias e onde é comemorado o êxodo dos israelitas do Egito, da escravidão para a liberdade. Um ritual de passagem, assim como a "passagem" de Cristo, da morte para a vida.
Passado o Sábado, quando começava a alvorecer para o primeiro da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram visitar o sepulcro.
Nisto, houve um grande terramoto, pois o Anjo do Senhor descendendo do céu, aproximou-se e revolveu a pedra da porta sentando-se sobre ela.
E seu aspecto era como um relâmpago, e seu vestido branco como neve.
E com medo dele ficaram os guardas a tremer e ficaram como mortos.
Mas o Anjo disse às mulheres: Não temais vós outras, porque eu sei que buscais a Jesus crucificado. Não está aqui, porque já ressuscitou, como disse, vinde, vede o lugar aonde jazia. E ide depressa dizer aos seus Discípulos, que já ressuscitou dos mortos; e vai preceder-vos a caminho da Galileia; lá o vereis. Eis o que tinha para vos dizer.
Afastando-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e grande gozo, correram a dar a notícia aos Discípulos. Mateus, 28,1-8




Cristo Ressuscitado - Álvaro Pires de Évora, c. 1430, têmpera sobre madeira106 x 76 cm Szépmüvérzeti MuseumBudapeste, Hungria
Pouco se sabe sobre a vida do pintor Álvaro Pires de Évora, sendo desconhecidas tanto a sua data de nascimento, como a da morte. Conhecido por “Álvaro Pietro di Portugallo´´, tem duas assinaturas conhecidas: Alvarvs Petri de Portogallo, em italiano e Álvaro Pirez Devora, em português (pelo menos num quadro); de onde se pode deduzir que foi para Itália em adulto uma vez que sabia escrever em português. Apresenta como estilo dominante a chamada Pintura Florentina do Primo Quatrocento.
O percurso cultural do pintor moveu-se entre Florença e Siena, de 1411 a 1434, sendo Pisa e Volterra as cidades onde residiu após um período inicial em que teve residência na região de Florença. Os clientes da pintura de Álvaro Pires dividem-se entre as ordens religiosas e a rica burguesia mercantil italiana.
No que respeita às primeiras referências historiográficas a Álvaro Pires, são as seguintes: uma de Giorgio Vasari na obra Le Vite de' più Eccellenti Pittori, Scultori e Architettori, publicada em 1808, em Itália, e a segunda de José da Cunha Taborda, na obra Regras da arte da pintura datada de 1815, em Portugal.
Até há pouco tempo não havia nenhum Álvaro Pires em Portugal - um pintor com cerca de 30 obras, das quais apenas meia dúzia permanece fora dos museus - e autor, afinal, "da primeira pintura feita por um português", nas palavras de Caetano, especialista em pintura antiga. E o que significa ser o primeiro pintor português? "É o primeiro nome que temos na história de arte em Portugal a que podemos ligar pinturas. Álvaro Pires é o primeiro a assinar obras e aos outros nomes que temos documentados não lhes podemos atribuir pinturas. A seguir só temos o Nuno Gonçalves dos 'Painéis de S. Vicente'".

Fontes wikipedia.pt
Público, 24 Dezembro de 2001

Sábado

Também chamado de Sábado de Aleluia, é o último dia da Semana Santa.
Em Jerusalém, os sacerdotes, lembrando-se que Cristo tinha dito que ressuscitaria ao terceiro dia e com medo que alguém pudesse roubar o corpo, selaram a pedra tumular e puseram guardas para que ninguém lhe pudesse tocar.
Os cristãos primitivos passavam este dia em descanso e oração silenciosa, guardando jejum absoluto.
No dia de hoje, os altares são desnudados ou despojados, tal como na Sexta-feira Santa, não se celebrando missa. Em alguns lugares, a manhã é dedicada à Celebração das Dores de Maria,
Ao pôr-do-sol, inicia-se a Vigília Pascal, dando início à Páscoa, sendo a celebração mais importante do calendário litúrgico cristão, por ser a primeira celebração oficial da Ressurreição de Jesus. É marcada pela primeira entoação desde o início da Quaresma, do “Glória” e do “Aleluia”, uma característica litúrgica do Tempo Pascal. Na tradição católica romana, a Vigília Pascal consiste de quatro partes:
1)Breve Lucernário
2)Liturgia da Palavra ou Celebração da Palavra
3)Liturgia Batismal ou Celebração da Água
4)Liturgia Eucarística ou Celebração da Eucarístia
A vigília começa após o pôr-do-sol no Sábado Santo fora da igreja, onde o fogo ou fogueira é abençoada pelo celebrante. Este novo fogo simboliza o esplendor do Cristo ressuscitado dissipando as trevas do pecado e da morte. O Círio pascal ou (vela pascal) é abençoado com um rito muito antigo. Esta vela pascal será usada em toda o Tempo Pascal, permanecendo no santuário da igreja e durante todo o ano em baptismos, Crismas e funerais, lembrando a todos que Cristo é a "luz do mundo". Assim que a vela for acesa segue-se o antigo rito do Lucernário, em que a vela é carregada por um sacerdote ou diácono através da nave da igreja, em completa escuridão, parando três vezes e cantando a aclamação: "Lumen Christi" ou Luz de Cristo (em português), ao qual a assembleia responde "Deo Gratias" (Graças a Deus). A vela prossegue através da igreja, e os presentes empunham velas que são acesas no Círio pascal. Como este gesto simbólico representa a "Luz de Cristo" espalhando-se por todos, a escuridão é diminuída. Assim que a vela é colocada num lugar dignamente preparado no santuário, é incensada pelo diácono, que entoa solenemente o canto Exulted, de tradição milenar, conhecido também como Proclamação da Páscoa, ou Pregão Pascal.
Ao findar do canto, apagam-se as velas e inicia-se a Liturgia da Palavra. A Liturgia da Palavra é composta de sete leituras do Antigo Testamento, que são como um resumo de toda a História da Salvação. No fim é cantado o “Glória in Excelsis Deo”, ouvindo-se o toque dos sinos.
Após a celebração da Liturgia da Palavra, segue-se a bênção da água da pia baptismal sendo administrado o baptismo aos que desejam ser iniciados na Igreja.
Depois da oração, a Liturgia Eucarística continua como de costume, sendo tradição a utilização da Oração Eucarística I, ou Cânon Romano, a mais solene de todas. Esta é a primeira missa do dia da Páscoa. Durante a Eucaristia, os recém-baptizados adultos recebem a Sagrada Comunhão pela primeira vez, podendo ou não serem crismados também. Ao amanhecer, as cerimónias terminam para dar lugar à Páscoa. Jesus ressuscita, voltando de novo a Luz ao mundo.



Pietá ou Nossa Senhora da Piedade - Frei Cipriano da Cruz

Nascido em Braga, professou no Mosteiro de Tibães em 1676 e foi o mais notável escultor barroco seiscentista português, entre 1676 e 1713, sendo esta escultura em madeira de castanho, uma das suas melhores obras.
Faleceu em 1716 estando sepultado naquele mosteiro.
“Esta imagem mostra Nossa Senhora, sentada, sustentando o corpo inerte do seu Filho, apoiando-lhe a cabeça com a mão direita e segurando-lhe o braço com a esquerda. Apresenta-se coberta por amplos panejamentos em tons de vermelho, azul e ouro, estofados e com decoração aplicada, formando motivos vegetalistas. Tem túnica muito ampla, touca branca e, sobre ela, um manto que envolve toda a composição.
O rosto é marcado pelos olhos grandes, congestionados, virados para o alto, em gesto de resignação e dramatismo. Cristo, estendido obliquamente no regaço da Mãe, apoia os pés moribundos no solo.”
Ana Alcoforado -mnmachadodecastro.imc-ip.pt

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexta-feira Santa - II

A crucificação era a forma normal de punição aplicada pelos romanos aos criminosos das classes mais baixas. A soldadesca, por troça, coroa-o de espinhos, põe-lhe nas mãos atadas uma cana em vez de ceptro e uma clâmide nos ombros dizendo-lhe “Salvé Rei dos Judeus”. Tiram-lhe depois a clâmide, vestem-lhe as suas roupas e põem-lhe a cruz às costas.
A caminho do monte Gólgota onde se faziam estas execuções, é ajudado por um tal Simão Cireneu, chamado pelos soldados ao verem que Cristo já não tinha forças para a carregar sozinho. Chegados lá, despem-nO e pregam-nO na cruz, no cimo da qual põem uma tabuleta com a inscrição: “Jesus Rei dos Judeus”.
Situado entre dois ladrões, e tendo prometido a um deles que nessa noite dormiriam no Paraíso, Jesus dá o último suspiro à hora nona (três horas da tarde), depois de uma longa agonia de cerca de três horas.
Aos pés da Cruz, Maria, Sua Mãe, acompanhada do apóstolo João, o Evangelista, de Maria Madalena e de outra Maria, tinha assistido a todo aquele suplício.
Na Judeia, um condenado a morrer no suplício, devia ser sepultado no mesmo dia. No caso da morte de Jesus, a urgência era ainda maior porque ao pôr-do-sol desse dia começava a grande festa da Páscoa dos judeus e no sábado não era permitido fazer praticamente nada.
Por isso, um dos seus seguidores, José de Arimateia, retirou-O da cruz e sepultou-O num túmulo novo que tinha mandado talhar na rocha. Depois rolou uma grande pedra para a porta do túmulo, retirando-se em seguida.
Ali ficaram Maria Madalena e a outra Maria.
Entre os vários pintores que trataram este tema, encontra-se Cristóvão de Figueiredo (Portugal ?- c.1540) um pintor maneirista português.
Foi aluno de Jorge Afonso, e mais tarde trabalhou junto com Francisco Henriques, Garcia Fernandes e Gregório Lopes executando vários retábulos em Lisboa. Entre 1522 e 1533 trabalhou no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra e no Mosteiro de Ferreirim, em Lamego. É dele o quadro intitulado “A Deposição no Túmulo”.



Deposição no Túmulo - Cristóvão de Figueiredo
Óleo sobre madeira de carvalho
A 182 x L 156 cmMNAA

Em três planos bem definidos se estrutura a encenação desta pintura: túmulo, friso de figuras e paisagem. A marcada horizontalidade é cortada pela diagonal do corpo de Cristo envolto na mortalha, figura principal desta representação fixada no momento exacto em que desce à sepultura. De um lado e doutro convergem as cabeças dos figurantes e João, o discípulo tão amado, reúne no seu rosto a expressão sofrida de Maria e das santas mulheres. Há outros valores essenciais para o entendimento plástico e psicológico desta pintura de Cristóvão de Figueiredo. Um deles é a paisagem clareada, no canto superior esquerdo do quadro, zona de fuga desta dramatização contida e que tem o seu contraponto na figura de Madalena, em primeiro plano, que segura a coroa de espinhos em figurada atitude de apresentação da morte. Outro dos motivos é a representação em plano ligeiramente diferenciado, dos dois personagens de negro trajados que rematam a estrutura compositiva apontada pela colocação do divino corpo. O seu retrato, de expressão absolutamente personalizada, tão diversa das circundantes, testemunha um caminho diferente no tratamento convencional dos rostos, na pintura portuguesa do século XVI.

www.mnarteantiga-ipmuseus.pt

Sexta-feira Santa - I

Celebra-se hoje o dia da Paixão de Cristo, que consiste resumidamente na adoração de Jesus crucificado, precedida por uma liturgia da Palavra e seguida pela comunhão eucarística dos participantes com a Hóstia consagrada no dia anterior. Embora não haja propriamente missa, o sacerdote está paramentado como tal, com vestes de cor vermelha simbolizando o sangue dos mártires.
É aconselhado fazer jejum e abstinência durante este dia, não se devendo comer carne, isto, porque a carne era considerada impura, ao passo que se pensava que o peixe nascia de geração espontânea.
Em quase todo o país celebra-se a procissão do Enterro de Cristo, ou do Senhor Morto, como também é conhecida e à tarde, nas igrejas, é rezada a Via-sacra, acompanhando os passos de Jesus até à Sua morte.
O último dia da vida terrena de Jesus começa muito cedo, quando de madrugada, depois de interrogado pelo Sinédrio, que o considera blasfemo e ordena o seu espancamento, é levado pelos sacerdotes do Templo até junto de Pôncio Pilatos, o governador romano da Judeia, representante do Imperador Tibério. Como não lhe achasse culpa e Jesus era galileu, envia-o a Herodes Antipas, tetrarca da Galileia, para que o julgasse.
Os romanos não aplicavam a pena de morte a violações da lei judaica, como era a de blasfémia, além de que se conta que a mulher de Pilatos depois de um sonho que teve pediu ao marido para não condenar Jesus. Herodes zomba de Cristo e pondo-lhe uma bonita capa nos ombros envia-o de novo para o governador romano. Daqui vem a expressão “Andar de Herodes para Pilatos”, significando “andar de um lado para o outro para não ser atendido por nenhum”.
Então Caifás, arranjando testemunhas, acusa Jesus de também se ter proclamado como o Messias, o Rei de Israel que os judeus esperavam, o que já era compreendido pelos romanos como um acto de sedição e punível com a pena de morte. Mesmo assim, Pilatos, que continuava a achá-lo inocente, já que era costume libertar-se um prisioneiro por altura da Páscoa Judaica, manda-o flagelar, apresentando-o depois à população, para que escolhessem entre Jesus e Barrabás, um perigoso assassino.
Para sua consternação, o povo escolhe Barrabás, pedindo a crucificação de Jesus. O governador entrega-O então aos soldados para que assim procedessem.



Calvário - Vasco Fernandes, c. 1530, Óleo sobre madeira de castanho, 242.3 x 239.3 cm. Museu Grão Vasco, Viseu
Vasco Fernandes (Viseu, 1475- 1542), mais conhecido por Grão Vasco, é considerado o principal nome da pintura portuguesa quinhentista. Nasceu provavelmente em Viseu e exerceu a sua actividade artística no Norte de Portugal na primeira metade do século XVI.

"No Calvário, Cristo surge crucificado entre o Bom e o Mau Ladrão, acompanhado na dor pela Virgem desfalecida, Madalena, S. João e duas santas mulheres. À multidão de guardas e carrascos, num espectáculo de expressivo dramatismo, acrescem ainda as cenas do transporte da escada, à esquerda, e o enforcamento de Judas, em escala miniatural, à direita, acompanhado de um pequeno diabo que lhe leva a alma"
Dalila Rodrigues - Roteiro do Museu Grão Vasco, pág. 127, Edições Asa, 2004.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Quinta–Feira Santa


O quadro aqui apresentado” A Última Ceia”, foi pintada em 1828 e é da autoria de Manuel da Costa Ataíde, mais conhecido como Mestre Ataíde, nascido no país irmão (Mariana, 18 de Outubro de 1762 – Idem, 2 de Fevereiro de 1830) e que foi um importante pintor do barroco mineiro, além de dourador, entalhador e professor. Esta tela foi a sua única obra de cavalete e encontra-se no Colégio Caraça.
É a visão do pintor sobre como terá sido a última refeição de Jesus com os seus Apóstolos, a quem num gesto de humildade lavou os pés quando se sentaram à mesa, o que é indicado pela bacia de barro com um pano branco semi-torcido mesmo à boca do quadro.
No tempo de Jesus a refeição pascal tinha um rito determinado. Durante o repasto pronunciava-se uma bênção, isto é, um canto de louvor e acção de graças a Javé pelas maravilhas que tinha feito em favor do Seu povo e é nesta altura da ceia, que Jesus introduz o rito novo da Nova Aliança. A antiga Aliança tivera como sinal de contracto a aspersão do sangue de animais. A Nova Aliança baseia-se no sangue de Cristo. Por isso, depois de pronunciar a bênção Ele toma o pão nas Suas mãos, parte-o e diz “Tomai, comei; Isto é o Meu Corpo”, pega depois no cálice, deu graças e disse “Bebei dele, todos, porque este é o Meu Sangue derramado por muitos para remissão dos pecados”.
No fim da refeição depois de cantarem os “hallel”(salmo de acção de graças com que os judeus concluíam a ceia pascal), saíram para o Monte das Oliveiras. Jesus sabia que o Seu fim estava próximo; Judas já tinha negociado a Sua entrega por trinta dinheiros (o preço fixado na lei de Moisés para compensar a perda de um escravo), aos sacerdotes do Templo.
No Horto do Getsemani entrega-se à oração enquanto os discípulos dormem, até chegarem os guardas acompanhados de Judas, que o prendem e o levam para casa de Caifás, o sumo-sacerdote, onde é interrogado e fica detido durante a noite
Por isso, nas igrejas a vigília continua assim como os Ofícios das Trevas. Na Missa, e para festejar o Mistério da Eucaristia, os paramentos dos sacerdotes são brancos, assim como o pano que envolve a Cruz, canta-se o “Glória” durante o qual os sinos tocam, ficando depois silenciosos até ao Sábado de Aleluia. São também abençoados os Santos Óleos dos enfermos e depois o do Crisma e consagradas duas Hóstias, uma das quais servirá para as devoções de sexta-feira santa, uma vez que nesse dia não se celebra missa.
É também hábito o oficiante realizar um Lava-pés a doze pessoas (antigamente eram doze pobres), em memória do que foi efectuado por Jesus. Quando a Missa termina, a Hóstia consagrada para o dia seguinte, é levada para outro altar que foi previamente preparado e a que se dá o nome de santo sepulcro. Procede-se depois à desnudação dos altares, retirando-lhes as toalhas e flores, ficando apenas a Cruz e os castiçais.
Em certas regiões do País é costume fazer-se a procissão do Ecce Homo ou Senhor da Cana Verde, como também é conhecido.


Neste retábulo de pequenas dimensões, intitulado “Ecce Homo” ou “Senhor da Cana Verde”, hoje propriedade do MNAA, está representado Cristo depois de ter sido flagelado pelos romanos sob as ordens de Pilatos e pronto para a sua apresentação ao povo judeu.
Pelas Suas faces rolam lágrimas e o sangue corre das feridas abertas. Para que a humilhação seja mais dolorosa, os soldados colocaram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos, nas mãos atadas uma cana em vez do ceptro e uma simples manta em vez da túnica real.
O seu autor foi Frei Carlos, um dos pintores mais importantes e enigmáticos de origem flamenga da primeira metade do sec. XVI, que em 1517 entrou como frade na Ordem de S. Jerónimo, no Convento do Espinheiro em Évora, identificando-se como “frei Carlos de Lisboa framengo” sendo esta a sua única assinatura conhecida. Foi sepultado no Convento de S. Jerónimo do Mato, em Alenquer.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quarta-Feira de Trevas

Hoje, quarta-feira Santa encerra-se o período da Quaresma, que começa na Quarta-Feira de Cinzas, o dia seguinte à Terça-Feira de Carnaval, com a imposição das cinzas na testa dos fiéis, lembrando-os que são pó e ao pó irão voltar.
Neste dia, assim como na próxima quinta e sexta-feira celebram-se os Ofícios chamados de Trevas (os Tenebrae) uma tradição medieval, para lembrar os fiéis que a escuridão vai descer sobre a Terra com a morte de Jesus. São salmos cantados no género de cantos gregorianos, de preferência “As lamentações do profeta Jeremias sobre Jerusalém”, efectuados à noite na igreja, onde um candelabro triangular com 15 velas acesas lembrando os 150 salmos da Bíblia, também chamado de Galo de Trevas é colocado. Por cada um deles que se canta, apaga-se uma vela do candelabro e do altar, fazendo também soar as matracas (instrumentos de madeira que produzem um som seco, lúgubre), para lembrar que Jesus caminha para a morte. Quando a última vela é apagada, a igreja fica às escuras e o som seco das matracas anuncia o efémero triunfo das Trevas sobre a Luz, desmentido a seguir pelo ténue brilho de uma vela acesa por trás do altar indicando que através da sua Ressurreição, Cristo triunfa sobre a Morte, derrotando essas mesmas Trevas.
Na missa deste dia lê-se a Paixão segundo S. Lucas e em algumas localidades faz-se a procissão do encontro de Nossa Senhora das Dores com o Senhor dos Passos.
Não nos podemos esquecer do sofrimento da Mãe de Jesus, conhecida nestas celebrações como Nossa Senhora das Dores ou Mater Dolorosa, e que esta pequena estatueta em marfim, um trabalho indo-português do sec. XVII tão bem sabe retratar em todo o seu desalento! A quando da apresentação de Jesus no Templo, o velho Simeão depois de tomar o Menino nos braços profetizou-lhe: “E uma espada trespassará o teu coração”, Lc 2, 35. Os braços caídos da Senhora com as mãos voltadas para fora exprimem a aceitação de todo o sofrimento que Lhe estaria reservado para redenção da Humanidade…
E que maior dor poderá haver para qualquer mãe do que ver morrer o seu filho?

Imagem: mdsleiloes.com

A Semana Santa- I

Dado começaram hoje as celebrações mais conhecidas da Páscoa, vou adiar até segunda-feira as mensagens sobre o Panteão de Santa Engrácia, para poder falar da Semana Santa durante estes dias, começando com o dia de hoje, conhecido como Quarta-Feira de Trevas e continuando com Quinta-Feira de Endoenças, Sexta-Feira de Paixão, Sábado de Aleluia e Domingo de Ressurreição.
As celebrações da Páscoa começaram no Domingo passado, chamado de Domingo de Ramos, pois simboliza a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, para o início da sua Paixão.
Montado num burrinho, seguido pelos Apóstolos e por uma multidão que estendia as suas capas ou cortava ramos de árvores para atapetar o caminho que Jesus seguia, o Nazareno, humilde e sereno sua montada, ouvia os gritos de “Hossana ao filho de David” daquela gente que, passados cinco dias pediriam a sua Morte e a libertação de Barrabás.
Durante este período não devem ser celebrados os sacramentos do Baptismo e da Confirmação, pois a Igreja está de luto, preparando-se para a Morte do Senhor. Os sacerdotes vestem paramentos de cor roxos, suprimem-se alguns cantos de alegria como o “Glória” e o “Aleluia” e as imagens são tapadas com panos.
Na Missa lê-se a narrativa da Paixão segundo S. Mateus, e são benzidos os ramos de palmas, de alecrim ou de outras plantas que depois os fiéis levam para casa.
Segundo a tradição popular, estes ramos e velas trazidas da Missa, afastam os raios. Acendendo a vela benta e queimando o alecrim, desvia-se a tempestade, não esquecendo de orar a Santa Bárbara, padroeira das trovoadas.
O quadro abaixo, representando a Entrada de Jesus em Jerusalém, é da autoria de Jean Hippolyte Flandrin, pintor francês nascido em Lyon em 1803 e falecido em Roma em 1864.
Sempre que possível apresentarei quadros de pintores portugueses.
Para todos, uma Páscoa Feliz.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Panteão de Santa Engrácia – I


Dominando Lisboa a Oriente, do alto de uma das suas sete colinas, o Panteão é o mais antigo templo barroco do país. Coroado por um zimbório e com o chão pavimentado de mármore colorido, está construído no local onde foi erguida a primitiva igreja de Santa Engrácia, da qual nada resta. As obras desta igreja-panteão começaram em 1631 e só terminaram em 1966, 335 anos depois, o que deu origem à expressão “Obras de Santa Engrácia” para designar algo que nunca mais se acaba, ou será que a “maldição” de Simão Solis, também contribuiu para esta demora?...
O culto a Santa Engrácia, cujo martírio descrevemos na mensagem anterior, deve-se à Infanta D. Maria, filha do rei D. Manuel I, que tinha uma grande devoção por esta Santa da qual possuía uma relíquia. Pensou assim erguer-lhe uma igreja perto do Mosteiro das Clarissas que ela frequentava, situado no Campo de Santa Clara, e onde hoje se realiza a Feira da Ladra. O Mosteiro edificado em 1294 foi completamente destruído pelo terramoto de 1755.
Para tal, pediu a Infanta autorização ao Papa Pio V, que através de um Breve datado de 30 de Agosto de 1568, criou a Paróquia de Santa Engrácia.
A princesa, uma das mulheres mais rica e cultas do seu tempo, mandou então edificar a igreja fora das muralhas Fernandinas, perto de uma das suas portas de entrada, a Porta de Santa Cruz, pois em Saragoça, onde a Virgem Santa Engrácia tinha sofrido o martírio, a igreja levantada no local da sua morte, também ficava fora das muralhas que cercavam a cidade.
Desta igreja primitiva, construída por Jerónimo de Ruão nada resta. Por ser muito pequena, durante o reinado de Felipe I foi reconstruída pelo arquitecto Nicolau Frias. Em 1630, depois de sofrer obras de restauro na capela-mor, foi alvo de um roubo sacrílego conhecido como “O desacato de Santa Engrácia” cujo desfecho emocionou toda a gente.
Segundo consta, na noite de 15 de Janeiro de 1630 alguém se introduziu na capela, roubando objectos de ouro do culto e profanando o sacrário do altar da Santa. Imediatamente foram feitas todas as diligências para se encontrar o culpado, sendo acusado deste sacrilégio um tal Simão Peres Soles ou Solis, cristão-novo, a quem a Inquisição condenou à morte na fogueira. A 13 de Fevereiro, Simão Solis é levado em procissão até ao Campo de Santa Clara, e no próprio local onde supostamente executou o roubo lhe são decepadas ambas as mãos, sendo depois queimado vivo. Diz a lenda que, antes de morrer, declarou que estava inocente tão certo como as obras de Santa Engrácia nunca terem fim!
Em consequência desta profanação, 100 nobres portugueses fundam a Irmandade dos Escravos do Santíssimo Sacramento, que como forma de desagravo, resolvem mandar construir nova capela-mor, o que levou à destruição da anterior. São também instituídas as Festas do Desagravo a celebrar anualmente em Janeiro e presididas pela Família Real. A nova capela, da autoria de Mateus do Couto (Velho), tem a primeira pedra lançada em 1632, mas numa noite tempestuosa de 1681, a cúpula desaba com grande estrondo derrubando também algumas paredes da antiga igreja quinhentista, facto que impressionou os alfacinhas lembrando-os da maldição de Simão.

domingo, 17 de abril de 2011

Santa Engrácia


A 16 de Abril de 303/304 d.C. morria em Saragoça a Virgem Santa Engrácia em consequência do martírio sofrido às mãos de Daciano, Prefeito de Espanha no tempo do imperador romano Diocleciano.
Engrácia era natural de Bracara-Augusta (Braga), filha de uma família rica, que lhe arranjou o casamento com um oficial da Gália Narbonense. Com uma escolta de 16 cavaleiros e a sua criada pessoal, a jovem meteu-se a caminho, mas ao chegar a Saragoça e sabendo a perseguição que Daciano movia aos cristãos, apresentou-se perante este, reprovando-lhe a sua cruel conduta e acusando-o de estar a massacrar o povo.
Apercebendo-se que Engrácia era cristã, Daciano tentou por todos os meios que ela renegasse a sua fé, ao que a jovem recusou. Então, mandou-a prender, açoitar e atá-la a dois cavalos que a puseram numa chaga. Meteram-na depois numa masmorra, arrancaram-lhe as vestes coladas pelo sangue e despedaçaram-lhe o corpo com dentes e unhas de ferro arrancando-lhe o fígado e deixando-a moribunda.
Como mesmo assim não abjurasse Cristo, o Prefeito mandou cortar-lhe um seio tão profundamente que se lhe via o coração. Apesar de tudo, Engrácia mantinha-se milagrosamente viva, pelo que, Daciano manda vir um prego e um martelo e espeta-lho na testa. Depois de a jovem expirar, os seus companheiros são degolados.
Conhecidos como “Os Mártires de Saragoça”, depressa o seu culto se espalhou. Após as invasões árabes, o emir de Córdova, Abd Al-Rahaman (756-788), mandou suprimir o culto das relíquias dos santos mandando queimar os restos mortais venerados nos templos. Por isso, os monges de Nossa Senhora do Pilar que cuidavam dos restos mortais de Santa Engrácia escavaram uma profunda cova e meteram lá os sarcófagos da Santa e dos seus companheiros.
Em 1589, por ocasião de obras de restauro na igreja, os sarcófagos foram descobertos de novo.
A Infanta D. Maria, filha de D. Manuel I e irmã do rei D. João III, era uma grande devota desta Santa, de quem possuía uma relíquia e resolveu dedicar-lhe uma igreja da qual já nada resta. Em seu lugar está hoje (depois de muitos percalços cuja história vale a pena conhecer), o Panteão Nacional, ou Panteão de Santa Engrácia, de que falarei a seguir.

Fontes: Lisboa Misteriosa – Marina Tavares Dias
Wikipedia.org
Imagem:santoral-virtual.blogspot.com

terça-feira, 12 de abril de 2011

Obrigado, Iuri!

POYEKHALI – VAMOS! Foi com esta simples frase pronunciada a 12 de Abril de 1961, por um piloto soviético chamado Iuri Alekseievitch Gagarin, que a Humanidade entrou verdadeiramente na chamada Era Espacial, faz hoje precisamente 50 anos.

A bordo de uma pequena nave em forma de bola chamada Vostok (Leste) 1, Iuri Gagarin, de 27 anos de idade, medindo apenas 1,57m. (a sua altura foi um dos motivos da escolha, dada a pequena dimensão da cápsula), e armado apenas com a sua coragem, dá início á primeira viagem jamais realizada por um ser humano ao espaço, mantendo-se em órbita apenas 108 minutos a 315Kms. de altitude, mas que chegou para dar uma volta completa ao redor do nosso planeta.

A visão espantosa da Terra ao longe deixou-o tão fascinado, que exclamou exultante: “Azul! A Terra é azul!”.

O voo da Vostok-1 foi totalmente automático. Controlado a partir da Terra, por ainda não se conhecerem bem os efeitos da gravidade sobre o ser humano, Gagarin apenas assumiria o comando em caso de necessidade - o que felizmente não aconteceu, apesar de o módulo de equipamentos não ter se separado da cápsula no final da missão. Conforme o planeado, o nosso primeiro cosmonauta ejectou-se da cápsula após a reentrada, descendo de pára-quedas.

A 27 de Março de 1968 Iuri Gagarin morre aos 34 anos de idade, durante um voo de treino aos comandos de um MIG-15, juntamente com o seu co-piloto.

Pela sua entrega a uma missão que se poderia considerar quase como suicida, abrindo as portas de um mundo novo fantástico e completamente desconhecido, o nosso “Obrigado Iuri”.

Embora a 4 de Outubro de 1957, a ex-União Soviética tivesse lançado um engenho chamado”Sputnik” para o espaço, surpreendendo todo o mundo e dando assim o primeiro grande passo para a exploração do Universo, só com seres humanos conseguiremos realmente atravessar as galáxias e perguntar:

Alô, está aí alguém?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O POMBO - Ibn Hisn

Nada me perturbou mais que um pombo que num ramo
Arrulhava entre a ilha e o rio.
O seu colar era cor de alfôncigo, o peito de lapislazuli,
Cambiante o colo, castanho o dorso e o extremo das asas.
Fazia girar sobre o rubi da pupila pálpebras de pérola
E as pálpebras eram debruadas por uma linha de ouro.
Negra era a ponta do seu bico como a ponta
De um cálamo de prata molhado na tinta.
Reclinava-se no ramo do arak como num trono
Escondendo o pescoço nas dobras da asa.
Mas ao ver as minhas lágrimas, assustou-o o meu pranto
E erguendo-se sobre o verde ramo
Abriu as asas e bateu-as no seu voo
Levando consigo o meu coração.
Aonde é que eu não sei.
Ibn Hisn

Abú Aláçane Ali ibne Hisn, secretário do rei al-Mutádide de Sevilha, século XI. Imagem:vistaalegreatlantis.com

sábado, 2 de abril de 2011

Goya – III

Os Fuzilamentos do 3 de Maio de 1808

Provavelmente a sua obra mais conhecida, esta tela, de 266x 345cm., pertencente ao Museu do Prado, em Madrid, foi feita seis anos depois da Guerra Peninsular que decorreu entre 1808 e 1814 ter terminado, sendo um testemunho vivo da crueldade dos homens para com o seu semelhante.

A 2 de Maio de 1808, as tropas francesas de Napoleão Bonaparte entram em Madrid, forçando o rei Fernando VII a abdicar, o que provoca uma revolta popular a seu favor. Os madrilenos lançam-se valentemente contra a cavalaria dos mamelucos, junto à Puerta del Sol e noutros sítios da cidade, iniciando a guerra de “resistência”, que Goya imortalizará mais tarde com o magnífico quadro “O dois de Maio”, cuja história se completa com esta pintura.

A repressão é terrível. No dia seguinte, as tropas francesas vingam-se massacrando e executando centenas de revoltosos e não só…Os fuzilamentos de 44 deles, escolhidos para exemplo, tiveram lugar durante a noite, frente ao palácio de La Moncloa, no monte do Príncipe Pio, e durou até as primeiras horas da madrugada. Ao pintar o céu negro que domina a parte superior da tela, Goya recria a atmosfera sombria do local, para onde os patriotas foram levados.

Estão divididos em três grupos: o primeiro, dos já executados, onde os corpos caídos sobre o sangue derramado não deixam dúvidas quanto à sua sorte. O segundo grupo, onde se encontra um frade que parece orar pelos mortos, são os estão a ser fuzilados, o terceiro grupo, completamente apavorado, é dos que estão à espera da sua vez, e observam os outros a serem executados. Vê-se perfeitamente um deles, com os olhos cheios de terror, a morder os dedos, parecendo muito jovem Nenhum foi vendado, como é costume, porque este fuzilamento era apenas um frio acto de vingança.

Por trás deles, a colina, como anteparo para as balas perdidas.

Uma lanterna pousada no chão à frente dos carrascos ilumina a cena. Os soldados, anónimos, alinhados à direita, parecem autómatos prontos a disparar à ordem de “Fogo”. Sabe-se que são franceses, pela tradicional barretina. Trazem nas armas as baionetas caladas, aumentando o horror da cena, pois as lâminas eram usadas para acabar com as vítimas que não morressem com as balas.

O ponto de focagem da tela é um homem, que de braços levantados e olhos muito abertos, enfrenta a sua morte eminente. O seu gesto tanto pode ser encarado como um desafio, ou como simples desespero. É da sua camisa branca que irradia a verdadeira luz do quadro como que proclamando a sua inocência e a posição dos seus braços, assim como a ferida que se pode observar na palma da sua mão direita, faz lembrar Cristo crucificado. Um dos mortos no chão, em primeiro plano, com a cara manchada do seu próprio sangue e os braços também afastados, repete o gesto de vítima sacrificada. Ao apresentar os prisioneiros como mártires, Goya simboliza assim a eterna revolta da Humanidade contra a tirania e a opressão.

Por ordem do general francês Murat, os fuzilados do 3 de Maio de 1808 estiveram nove dias insepultos.

Fontes Goya – Edição da LISMA
História da Arte, vol. 8
Pt.wikipedia.org